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Monifa:

Cheguei naquele acampamento repleto de lanceiros negros, outra tropa branca também me olhava do outro lado. Theodoro parecia rosnar do meu lado, colou o cavalo dele no meu.

-Acho lindo o jeito como empina seu nariz minha prenda.

-Cuidado general, a arrogância de um homem pode até matá-lo, mas a de uma mulher astuta pode derrubar um homem de seu cavalo apenas com um olhar.-Sorri debochada.

E ele riu estrondosamente.

-Como pode me fascinar tanto minha prenda, como consegue ser tão forte e. . .

-General?!-falou um rapaz jovem em um cavalo a nossa frente.

-Olá João, resolveu abandonar Garibaldi e voltar pra nós?!-brincou Theodoro.

-Não general, Garibaldi está aqui, estamos de passagem.

-Que bueno, João está é minha noiva Monifa Terra Cortez, prima do doutor Afonso Terra.

-Senhorita?!-cumprimentou ele tirando o chapéu.

-Prazer em conhecê-lo João.

-Que sotaque engraçado tem senhorita.

-Venho do Rio de Janeiro!

-Uma noiva importada!-brincou ele com Theodoro que o socou no braço em brincadeira.

-Pode espalhar os boatos de que ela é minha noiva João, assim esses abutres tiram os olhos dela.

-Por supuesto!

Ele se foi e fomos até uma tenda maior.

-Seu primo está aqui!-disse ele descendo do cavalo e me estendendo os braços para me pegar da cintura como fez durante a viagem até aqui.

-Gracias!-falei o fazendo sorrir.

Com o braço no dele entrei na tenda, vejo Afonso curvado sobre um cadáver, com uma das mãos fechando os olhos do soldado e com a outra apertava os seus.

-Afonso?

Ele levantou o olhar, me sorriu e correu para me abraçar enquanto buscava algo em volta.

-Por Díos Moni, o que faz aqui?-me abraçou forte enquanto perguntava.-Onde ele está, veio contigo?

-Não Afonso, ele não voltou.

-Como não, até Cerro da uma semana para ir e outra para voltar.

-Mas ele não voltou e eu vim lhe buscar.

-Com quem veio?

-Theodoro me trouxe.

Afonso ficou preocupado, olhou em direção ao general que ficou na entrada da tenda.

-Ele te tocou?

-Não, não se preocupe, ele foi muito horado comigo.

-Ainda bem!-disse ele acarinhando minha cabeça.-Sinto tanta falta de vocês.

-Então volte. Por favor? Por mim e por Ferrus, vamos atrás dele?

-Olhe para isso aqui Monifa!-disse ele se afastando de mim apontando para as macas improvisadas com feridos.-Cada dia chegam mais, sou o único médico aqui Moni. . .

-Doutor, doutor ajuda!-disse um rapaz trazendo outro com as tripas para fora.

-Aqui, coloque-o aqui!-disse Afonso e foi ajudá-lo enquanto seguia falando comigo, lavei minha mão e o ajudei a lavar as tripas do homem.-Como posso deixá-los Moni, estou atolado até os joelhos na lama em que me meti, se eu tivesse lido aquele maldito bilhete.-Suor lhe escorria enquanto trabalhava.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora