Nikolai:
Finalmente as aulas reiniciaram. Peguei meus livros com muito gosto. A semana toda Cadu tem me evitado, e eu tenho feito o mesmo, mas o pior é que não durmo antes dele chegar e... Me preocupo com esse idiota.
Eu estava na minha cama iniciando a leitura quando Cadu entrou tão desesperado que nem me notou. Bateu a testa na porta, ainda de costas pra mim começou a chorar. Preocupado o chamei e ele se virou com medo e raiva no olhar. O idiota aqui foi tentar descobrir alguma coisa, sai pelo corredor fui em direção a cantina e não cruzei com nenhum de seus amigos. Disfarcei até o Senhor Hector na portaria.
-Boa noite Ivanov, vai sair?
-Não, eu só estava procurando o Beker, ele saiu pra correr e...
-Ele já voltou, já tem uns minutos, talvez ele tenha acompanhado o senhor Devies.
-Ah, deve ser então, vou indo, amanhã trabalho cedo, boa noite senhor Hector.
-Boa noite!
Caminhei de volta e não encontrei Davies. Estou com raiva, o que esse cara fez com Cadu. Voltei ao quarto e ele estava sentado na escrivaninha com a cabeça no meio de um livro. Tentei fazer uma brincadeira.
-Não está conseguindo acertar o desenho do vestido?
Ele me olhou de cara amarrada, o que está havendo com ele.
-Tenho tanta cara de gay assim que acha que estou desenhando vestidos? - seus olhos brilharam de umidade.
-Não, me desculpe eu fiz uma brincadeira, achei que cursasse moda...
-Claro! - a amargura em sua voz me fez dar um passo em sua direção.
-Cadu eu não o chamei de...
-Não, mas não pensou que eu talvez estivesse cursando medicina como você, não foi nem capaz de olhar os livros em minha mesa, já saiu logo deduzindo que eu tenho cara de gay e vou cursar moda!
Ele se levantou indo em direção a cama dele.
-Me perdoe, eu não quis... Ofendê-lo.
-Tudo bem, me desculpe eu estou frustrado e descontei em você.
Fui até sua cama e me sentei na beirada, estendi a mão.
-Me chamo Nikolai Ivanov, sou estudante de medicina, clínico geral.
Ele sorriu e hesitou olhando para minha mão.
-Cadu Beker, estudante de medicina psiquiátrica e o prazer é meu.
Uau. Fiquei na verdade bem impressionado com isso, realmente achei que fosse moda, mas achei que fosse por causa dos desenhos dele e não porque achei que ele fosse gay, ele nem tem jeito de gay porque eu acharia isso, pelo beijo que me deu, mas aí eu também seria gay e...
-Está parecendo confuso! - murmurou ele. - Não tenho cara de q...
-Não, não é isso é quê... Por que achou que eu pensei que você era gay?
-Por nada, eu acho que devo ter cara.
-Ninguém tem cara de gay, você nem ao menos vira a mão.
Ele começou a rir. Consegui fazer um efeito nele que eu jamais imaginei que conseguiria com alguém.
-Não preciso virar a mão pra ser gay. - disse ele ainda rindo.
-Então você é?
-Isso importa pra você? - disparou ele com o rosto corando.
-Não. - Ele desviou o olhar. - Realmente não me importo, você não vai sair me agarrando por causa disso e...
-É, mas parece que as pessoas acham que podem sair me agarrando por causa disso.
Raiva fluiu por meu sangue, então era isso, Devies o agarrou. Fiquei de pé eu iria socar a cara daquele idiota.
-Niko aonde vai?
-Socar a cara de alguém.
Ele correu até a porta e parou na frente.
-Por quê?
-Ele te agarrou a força não foi? - Respondi entre dentes.
-Não tem que se preocupar comigo Niko, eu não quero que saia distribuindo socos por minha causa.
Eu olhava em seus olhos, olhos que me revelavam algo que eu não conseguia decifrar, a raiva diminuiu, olhei para seus lábios e eram convidativos. Umedeci meus lábios e contive a vontade dentro de mim.
-Não foi um sonho...
-Conte-me o que ele fez?
-Não foi um sonho não é Nikolai?
-Não sei do que está falando, agora conte-me.
Seu rosto ficou mais vermelho do que o normal.
-Não foi nada demais ele só despertou meu passado, foi só isso.
-Está me escondendo algo.
-Não, estou escondendo de mim mesmo.
Minha mão ia de encontro ao seu rosto junto de um pedido que me contasse, mas hesitei a centímetros de seu rosto quando baixei minha mão ele a pegou e a adrenalina percorreu por minha espinha. Ele levou minha mão a sua bochecha que era onde eu queria depositar ela antes. Cadu fechou os olhos com o gelo de minha mão em seu rosto quente. Eu não sei o que isso tudo significa. Esse calor.
-Está tarde! - falei.
Ele abriu os olhos e murmurou.
-Hurum.
Mesmo soltando minha mão eu não conseguia soltá-lo. Não queria... Meu dedão traiçoeiro acariciou sua pele macia e ele tornou a fechar os olhos.
-Com você é diferente! - Sussurrou ele.
Eu não queria falar nada, tenho medo de falar algo que eu vá me arrepender. Seu lábio me convidava para um beijo. Eu não sou gay, não sinto atração por homens. Mas. . . com ele é diferente. Cheguei mais perto sentindo a respiração dele na minha boca.
-Não... - as palavras me saíram falhas. -...não posso.
Relutante o soltei.
-Por quê? - murmurou ele.
-Eu não sou gay! - falei meio áspero o sobressaltado. - Desculpe.
-Tudo bem, já estou acostumado. - disse ele indo pra cama dele, passou as mãos pelo cabelo louro, agora um pouco mais comprido. - Tenho que cortar meu cabelo.
Sorri para a tentativa de mudança da conversa. Comecei a tirar minha roupa e pôr o pijama.
-Eu também!
-Gosto do seu cabelo assim! - comentou ele entrando pra debaixo das cobertas.
-Tenho preguiça de ir ao barbeiro. - Eu queria a todo custo esquecer o que aconteceu ali então resolvi continuar a conversa.
-Eu tenho máquina se quiser eu corto pra você, mas acho que você fica bem com esse cabelo.
-Por enquanto vou deixá-lo assim, quando eu me encher o saco dele, peço pra você cortar.
-Está bem!
Me deitei e desliguei o meu abajur. Olhei pro teto. Ainda sem sono.
-Durma bem Niko!
-Você também! - murmurei.
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Quando seus olhos me encontram
RomanceAqueles olhos quando me encontram eu consigo sentir, consigo ver mesmo de olhos fechados que ele me encara, e não entendo por que luto contra isso. . . É como se já nos conhecêssemos de outras vidas. Está história arco-íris conta sobre uma vida pass...