19

51 14 2
                                    

Afonso:

Procurei pelo nome de Ferrus e ninguém o viu, ninguém o conhecia, os primeiros feridos chegaram, ocupando dias e horas de minha mente que insistia em procurar o rosto de Ferrus entre os feridos.

Onde você se meteu seu idiota?

Depois de três semanas escrevi para meu pai e Monifa, não esperei por resposta, mas certa manhã.

-Doutor?-chamou o piá de recados.

-Si?

-Chegou uma carta para uste!-

-Gracias.

Peguei a carta e fui para minha tenda. Lavei as mãos e sentei nos pelegos.

"Estimado filho, volte para casa, precisamos de uste aqui meu guri, me arrependo de ter lhe mandado tal carta, a culpa é minha por estares ai. Monifa cuida de mim como uma filha, aprendeu a lida na fazenda, aquele general voltou para visita-la acho que se enamoro dela, não sei o que faço, não quero que ela se vá também. Me orgulho de ti filho e agradeço por me dar Monifa, lhe estimo o mesmo apreço que tenho por ti filho meu."

A outra carta era de Monifa.

"Imbecil.-tive de rir a imaginando com aquele jeito bravo dela, colocando as mãos a cintura, parecendo um bule.-Um grande e retardado imbecil você é Afonso, Ferrus lhe deixou esse bilhete e tu não leu. Ele foi atrás de você achando que você tinha ido até a Cerra do Jarau, espero que pelo tempo ele já esteja voltando pra casa, leia o bilhete, junte seus trapos e volte para casa, vamos para casa, mas antes vou lhe arrancar as orelhas Afonso."

Abri a outra carta com o coração batendo como se fosse sair para fora do peito. Ao ler me debulhei em lágrimas.

-O que eu fiz?

Ouvi uma gritaria no acampamento e sai de imediato, muitos feridos eram arrastados pelo acampamento.

-A emboscada deu errado!-disse um deles.-Perdemos muitos.

Corri para acudir quem eu pode-se.

Já estou atolado até os joelhos nesta merda, agora não posso simplesmente sair e dar as costas aos que precisam de mim. Isso vai contra meus princípios mesmo que o erro tenha sido meu.

. . .

--//--

Ferrus:

-Por Díos, o que estou fazendo aqui?

"Veio atrás de mim Cortez?"

A voz era feminina, jovem e velha ao mesmo tempo, fria e carinhosa, jamais cheguei a acreditar verdadeiramente na lenda, mas aqui estava ela, um lagarto falando comigo. Ela caminhou até uma pedra e de trás dela surgiu uma linda mulher.

-Nã-Não, na-na verdade vim atrás de meu amigo.

"Atrás de seu amante que não veio para cá.-ponderou ela.-Seu Amante foi para a guerra em seu nome Cortez."

-Eu-Eu. . . preciso ir!

"Ele vai morrer em alguns dias"

Disse ela quando lhe dei as costas para partir, até minha alma gelou.

-Não pode saber. . .

"Então como sei seu nome Ferrus Cortez, como sei o nome de seu amante Afonso Terra, dois guerreiros antigos destinados a ficarem juntos no final, mas nunca chegam até o final feliz. . . por teimosia, arrogância, maldade dos outros, nunca confiam em vocês independente do amor que sintam um pelo outro. Que pena."

-Como faço para não perde-lo.

"Agora já é tarde Cortez"

-Não, não pode ser tarde, me diga como salvá-lo, lhe ofereço 100 anos de escravidão, mas não deixe meu amado morrer, eu lhe imploro!

"200 anos replicou ela"

-120 anos!

"150 anos e nenhum dia a mais"

-130. . .

"Está hesitando e meu tempo é curto. . . ou não, espere hahaha meu tempo não tem fim, amaldiçoada para a eternidade, que sina a minha, uma princesa em um corpo de lagartixa. . .

-Está bem, 150 anos de escravidão ao seu lado, para manter Afonso vivo até sua velhice.

"Vou protegê-lo de tudo e todos, até que a morte o busque de bom grado."

-Não, eu quero estar lá, prometi certa vez, que estaria o esperando do outro lado quando ele partisse.

"Pois bem, tem um dia com ele desses 150 anos, vai levá-lo pela mão até onde der e depois vai voltar para mim. Eu o reivindico por 149 anos e 364 dias Ferrus ₢ortez."

-Feito!

Disse a ela e meu corpo ficou leve, como se eu pudesse voar atrás de mim um corpo caiu, eu estava de pé diante dela, me virei sobressaltado.

-Eu morri?

-Achou que viveria mais 150 anos?-riu ela.

-Mas. . . mas. . . eu . . .

-Não se preocupe o zaino ali vai levar seu corpo para seu amado.

-Não. . . não, Afonso não precisa sofrer mais!

-O que faço com seu corpo?

-O que quiser princesa, apenas não deixe que nenhum de meus entes saibam.

-Muito bem!

Ela estalou os dedos e meu corpo sumiu, o cavalo ela estalou os dedos e a encilha e tudo mais sumiu.

-Está livre zaino!-disse ela e o cavalo saiu corcoviando e relinchando rumo a liberdade.

-O que eu faço?

-Humm. .  . apenas me faça companhia, me fale sobre a vida!

Suspirei, estar morto era o mesmo que estar vivo, apenas as sensações não eram mais as mesmas. Então companhei a princesa, sempre com a cabeça em meu Afonso.

. . .

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora