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Ano de 2010

Nikolai Ivanov:

Depois de tanta luta para entrar na universidade com bolsa de estudo, mesmo tendo sobrenome Russo, fui criado em um orfanato em Londres, pelo pouco que me contaram minha mãe foi morta na minha frente, não lembro de nada, foi só o que me contaram, faz um ano que curso medicina, como não tenho muito o que fazer curso a noite, trabalho em uma loja de discos durante a manhã e à tarde passo o dia enfurnado na biblioteca ou em meu quarto que até então nenhum colega parou com medo de mim.  Durante as primeiras ferias trabalhei dobrado, juntei uma boa grana, não pago aluguel e nem comida por ter conseguido essa bolsa, meus gastos são apenas comigo, curto muito música e comprei uma vitrola antiga e os discos mais antigos que chegam à loja eu sempre separo um pra mim, curto muito coisas old. 

Uma semana antes de começar as aulas eu já estava estressado com medo de que mandassem mais um idiota para meu quarto, vou dar uma de psicopata, funcionou da última vez. 

Senti o Clic na minha porta enquanto eu estava com a cabeça enfiada sob um dos livros novos do ano. Respirei fundo. E lá vamos nós.

-Obrigado senhor! -disse uma voz masculina do ainda do outro lado da porta.

Já a voz me causou um calafrio, não levantei a cabeça para olhá-lo, me mantive sério fingindo ler o livro. 

-Olá sou seu novo colega de quarto, desculpe por interromper sua leitura. . .

Mas que inglês medíocre, deve ser americano, tentando falar com sotaque inglês.  

-Privet, ya tvoy novyy sosed po komnate, izvini, chto preryvayu tvoye chteniye. . .

Levantei a cabeça com meu coração batendo tão rápido ao ouvir ele falar Russo, nem mesmo eu sei falar direito. Seus olhos. Eu não consegui tirar os olhos dos dele. De que inferno ele saiu? 

-Aqui falamos inglês! -falei com a voz rouca, por que estou emotivo, porque estou sentindo isso, eu conheço esses olhos de algum lugar. E esse sorriso, por que ele está sorrindo pra mim?

-Me perdoe, eu não quis ofendê-lo, quando vi seu nome na planilha achei que fosse Russo, me chamo Cadu Becker, mas por favor me chame de Cadu.

-Não somos amigos! -falei seco.

-Tudo bem então, como quer que eu te chame?

-Não chame!

Suas sobrancelhas se ergueram, aquele cabelo louro me irritou, aquele tom de pele beijado pelo sol, um rosto feliz, um sorriso perturbador no rosto, não demonstrei nada, apenas fechei meu livro e sai porta a fora com o coração a ponto de explodir. Eu queria socar algo, gritar, não sei, eu preciso tirar ele do meu quarto. 

. . .

-//-

Cadu Beker 

Chegar a Londres já fez meu coração disparar, saber que eu estava perto daquele nome que pesquisei e só encontrei Ivanov, mas eram tantos Ivanov no mundo, tudo de cabelo loiro, pareciam todos iguais, acabei desistindo de procurar. Vou estudar medicina psiquiátrica, cheguei ao alojamento da universidade. 

-Olá senhor sou Cadu Becker.

-Olá garoto, deixe-me procurar seu nome. -Ele foleou até encontrar, sacudiu a cabeça com pesar. -Achei, vai dividir o quarto com o senhor Ivanov.

Meu coração deu um salto, e um sorriso se alarou em meu rosto tão grande que eu não conseguia desmanchá-lo nem se eu quisesse. 

-Eu se fosse você garoto, não estaria sorrindo assim, venha eu o acompanho.

-Por que diz isso?

-Ninguém para no quarto dele.

-Bom eu vou estudar psiquiatria, então, acho que dou conta.

-Garoto, já passaram mais de 8 rapazes que me disseram o mesmo antes de entrar e uma semana depois me implorar por um quarto qualquer.

-Se eu não puder lidar com ele, então, eu não serei um bom Psiquiatra, certo?!

Ele parou na porta do quarto e me entregou a chave do quarto.

-Boa sorte garoto! -disse ele me dando as costas.

-Obrigado senhor.

Meu coração já estava descontrolado desde a hora em que ouvi o nome dele, será que é ele o meu grande amor, eu era para ter perguntado o primeiro nome dele.  Quando entrei lá estava ele sentado em sua cama com cabelos longos amarrados em um coque desgrenhado, fios soltos caiam nas laterais do rosto, a pele branca, meu sorriso não saia de meu rosto, soltei a mochila e a mala ao lado da maca vazia e me apresentei, quando não respondeu supus que fala-se Russo como o nome dele era de descendência Russa arrisquei me apresentar de novo, foi o suficiente para ver aqueles olhos verdes brilhando para mim. Um verde tão profundo manchado com um âmbar em volta da pupila que se dilatou ao me ver. Lindo, Ivanov era simplesmente lindo, com feições brutas, queixo quadrado, lábio bem desenhado, mas retos, não eram preenchidos como o meu, ele estava irritado comigo, e saiu sem me dizer nada. Afundei em minha cama.

-Isso vai ser difícil, mas . . . nossa. -Meu eu consegui me sentir tão cheio mesmo com aquele olhar psicopata sob mim.

Arrumei minhas coisas na escrivaninha gêmea ao lado da dele, colocando meus livros preferidos, meu caderno de poesias, sim escrevo poesias, meu estojo cheio de canetinhas, pois gosto de desenhar também, meu estojo de lápis, e alguns objetos pessoais, uma necessaire com escova de dente, e coisas de higiene, na outra tinha minha máquina de cortar cabelo, aparelho de barbear, essas coisas. Levei pouca roupa, queria comprar algo da moda aqui, mesmo assim trouxe, minhas luvas vermelhas artesanais de couro, forrada com lã de ovelha, meu poncho baeta que esmaguei entre algumas coisas pois sabia o frio que fazia aqui, já me disseram que o frio daqui deixa o nosso no chinelo, trouxe minha cuia, bomba, e termo, e um saco de erva com esperança de que minha mãe me mandasse mais assim que possível, vou guardar pra quando a saudade bater mesmo. Tirei o resto da roupa que minha mãe fez mágica para caber, enrolou minhas calças de tal forma que coube pelo menos seis, minhas camisetas então, viraram mini cones. tenho certeza de que se eu tentar refazer a mala, não vai fechar, o cômodo gaveteiro gêmeo ao lado do dele estava vazio, ali coloquei minhas coisas. 

-Pronto, agora posso descansar. -Peguei meu telefone e liguei para minha mãe para dizer que estava tudo bem.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora