Narrado por Cadu:
Passei o dia tão irritado e frustrado pelo que tinha acontecido, que eu não tinha nem vontade de atender os clientes da livraria, pedi para fazer a limpeza do estoque só pra não ver ninguém. Está livraria é bem maior do que a da senhora Wilson, mas não deixa de ser mágica também. Trabalhei em silêncio, tentando manter a mente vazia. Mas a raiva da humanidade me fazia refletir sobre meu curso. Será mesmo que eu quero entender a mente humana, porque não consigo crer que num país tão civilizado haja tanto preconceito, no Brasil ainda entendo a ignorância do povo. Voltei pro alojamento sem vontade de nada, só de tomar um banho e dormir abraçado na única criatura que me fazia sentir bem mesmo eu não podendo declarar a todos meu amor por ele, e ainda receber um olhar de medo por sermos descobertos caso eu desse com a língua nos dentes. Destranquei a porta, mas não consegui abri-la mais do que alguns centímetros...
Niko não era nada parecido com o garoto que encontrei quando cheguei aqui. Ele era doce e querido comigo, preocupado e... As vezes não sei se o mereço, mas mesmo assim não saberia viver sem ele. Meu coração ficou pleno ao ver o que ele tinha feito por mim, só pra me ver sorrir.
Depois de fazermos amor, Niko se levantou e pegou minha mão me levando ao banheiro junto dele, onde ligou o chuveiro e passou o sabonete em minhas costas e depois me abraçou esfregando meu peito, eu estava ereto novamente, pronto pra ele, me virei de frente pra ele pegando shampoo e passando naqueles lindos cabelos negros dele, compridos além dos ombros agora. Nossa brincadeira terminou com Niko segurando-se a parede, comigo gozando dentro dele enquanto ele gozava na minha mão. Pertencíamos um ao outro. Colocamos o pijama novo e ajudei-o a pôr as coisas no lugar, soprei as velas desejando mais noites como aquela. Niko se sentou na cama puxando outra sacola debaixo de sua cama.
-Mais presentes?
-Sente aqui comigo!
Sentei-me de frente pra ele, cruzando as pernas em lotus, Niko tirou de dentro da sacola uma caixa vermelha a colocando em meu colo e não tirou a mão de cima, me fazendo olhar em seus olhos, que havia algo como súplica neles.
-Isto vem acompanhado de um pedido! - Sussurrou ele.
-O que você quiser meu bem! - Falei acariciando seu rosto com minha mão espalmada.
-É que... Meu pedido parece um pouco egoísta e talvez injusto.
-Farei o que você me pedir Niko.
-Eu quero ir pro Brasil, quero... - Ele engoliu em seco. - Eu sei que era seu sonho estar aqui e que lutou muito pra isso e...
-Niko...
-Não vou aguentar mais esconder o que sinto por você...
-Niko...
-Cadu, se não quiser eu vou entender...
-Nikolai Ivanov Becker - Falei chamando sua atenção, ele parou de falar deixando lágrimas escorrer, que as limpei à medida que iam saindo, segurando seu rosto entre minhas mãos. - Meu sonho sempre foi você Niko.-Suas pupilas dilataram. - Você foi o motivo de eu falar russo, inglês e de eu querer vir pra cá.
-Isso é impossível! - Sussurrou.
-Eu soube seu nome antes de te conhecer e saber que você existia.
-Como?
-Eu ouvia a princesa do lago, ela me dizia que tudo o que eu procurava estava aqui, e que eu estudasse inglês e me esforçasse pra conseguir uma bolsa de estudo, só assim eu encontraria o que mais desejava, então a penúltima aparição dela, ela quis falar com minha mãe e eu fiquei escondido nas pedras da gruta, ela disse seu nome a ela, eu só ouvi seu sobrenome.
-Quem é essa princesa?
-Um espírito creio eu, uma Deusa, algo de outro mundo que gosta... Ama, ela disse que me amava como amigo.
-Achei que fosse como a entidade que me visitou no corpo de Anelise.
-Não, ela é diferente. - Beijei seus lábios salgados por algumas lágrimas que burlaram meus polegares. - Sim Niko, vamos pro Brasil.
Niko sorriu e abriu a caixa, sorri ao ver uma roupinha de bebê. Não consegui emitir um som quanto tentei dizer seu nome, minha voz não saiu nem um sussurro se quer, por conta da emoção que me tomou.
-É pra nossa filha! - Murmurou ele.
Assenti chorando. Niko tirou a caixa do meu colo e o abracei forte.
-Vamos... Formar nossa própria família Cadu, vamos ser felizes e fazer nossa filha feliz.
-Vamos! - Consegui sussurrar.
-Pensei em falar com sua mãe, pedir pra ela ver se conseguíamos uma transferência pra alguma universidade em Florianópolix.
Pigarreei tentando recuperar minha voz.
-Eu ligo pra ela... Podemos fechar esse semestre, assim juntamos dinheiro pra viagem.
-Claro! - Sorriu ele se levantando e guardando a caixa em sua mesa. Deitei e levantei as cobertas pra que ele se deitasse em meus braços, gosto de mantê-lo aninhado em meu peito. Eu viveria onde ele quisesse, me tornaria quem ele desejasse só para fazê-lo feliz, mas sei que seu pedido tem a ver com podermos nos expor, ter liberdade de expressão, liberdade pra amar e lembro como seus olhos brilhavam em Florianópolis. Pela manhã acordei com beijos, e o sorriso mais estonteante de Niko.
-Só de ver seu sorriso já ganhei meu dia! -Falei lhe dando um beijo casto.
-Eu que ganhei o meu! -Disse ele me empurrando pra fora da cama. - Vamos, não posso faltar o trabalho de novo!
-Faltou ao trabalho ontem?
-E de onde eu teria tido tempo pra fazer todas essas coisas. - Riu ele entrando no banheiro.
Niko me acompanhou pelo corredor quase quicando. Tive de rir. Nunca o imaginei daquela forma.
-Bom dia senhora Pons! - Disse Niko antes de mim.
-Bom dia Ivanov, parece que teve uma boa noite de sono!
-Uma das melhores! - Sorriu ele enquanto ela colocava tortinhas de limão no prato dele.
-Bom dia Cadu! - Disse ela.
-Ah, bom dia senhora Pons.
-Está distraído hoje?!
-Um pouco! - Sorri.
Nos sentamos um de cada lado de Maria que nos olhou e depois sorriu.
-Não vão me deixar curiosa né?!
-Vamos pro Brasil! - Sussurrou Niko.
Ela me olhou.
-Faço tudo por ele! - Sussurrei a ela.
...
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Quando seus olhos me encontram
RomanceAqueles olhos quando me encontram eu consigo sentir, consigo ver mesmo de olhos fechados que ele me encara, e não entendo por que luto contra isso. . . É como se já nos conhecêssemos de outras vidas. Está história arco-íris conta sobre uma vida pass...