Afonso:
-Isso vai doer.-choramingou Ferrus.
-Tenho boas mãos.
-Quem disse isso?
-Os animais que saturei.-sorri.
-Deus, eu devo te amar muito mesmo!-disse ele se virando de costas pra mim.
Meu coração disparou com aquelas palavras e eu não tive mais o que falar, peguei a agulha mais fina para não deixar marca, abri bem o cabelo dele por estar úmido ficou onde o coloquei.
-Vou fazer o primeiro ponto se quiser pode segurar em algo.
-Posso te segurar?
-Ai eu não vou conseguir fazer os pontos!
-Nem se eu abaixar a cabeça assim?
-Humpf. . . está bem!
Sentei na maca a sua frente enquanto ele passou os braços em minha cintura e pôs a cabeça em minhas pernas.
-Vou fazer o primeiro ponto não se mexa!
Ele me apertou com força quando passei a agulha de um ponto ao outro, fiz o nó que aprendi com minha mãe preta. A medicina evoluiria muito caso usassem o conhecimento do povo africano, as ervas, as ataduras, tudo. Lhe fiz três pontos, peguei o pano e o limpei novamente, suas mãos em minha volta não afrouxaram, então acariciei seus cabelos e ele deitou a cabeça em minhas pernas.
-Suas mãos são boas mesmo!-disse ele sorrindo com os olhos castanho amêndoa fechados. Me permiti acarinhar seu rosto com a ponta dos dedos. A barba rala precisando de uma navalha, meus dedos escorreram até seus lábios, era bem desenhado, o de cima era mais fino, o canto curvado para cima, o de baixo mais groso, mais saliente, seu queixo mais quadrado que o meu, mais másculo.
-Isso é bom!-murmurou ele.
Minha mão correu por seu maxilar encaixando por trás de sua orelha e ele levantou o rosto para me olhar, Ferrus parecia enxergar o fundo do poço quando me olhava assim, me sentia nu diante de uma china que eu não conhecia. Mas aqueles olhos penetravam fundo, e palavras deixavam de existir quando ele fazia isso. Seus lábios entreabriram para me beijar e meu estômago rugiu. Ferrus riu me deixando corado pela primeira vez na vida.
-Que gracioso!-murmurou ele pegando meu queixo e esfregando sua bochecha na minha.-Parece um anjo Afonso.
-Não. . . eu. . .
Seus lábios rosaram nos meus esquecendo o que eu ia falar, ele sugou meu lábio inferior e depois explorou minha boca com sua língua. Desta vez foi o estômago dele que roncou e ele riu entre o beijo, rosei minha língua por seus dentes e eu precisava de mais, sorri ouvindo novamente nossos estômagos.
-Precisamos comer!-falei.
-Há outra coisa que eu gostaria de comer primeiro.
-Eu não me sinto apropriado pra tal coisa no momento Ferrus.
-Por que não?
-Preciso de um banho, coisa que creio ser impossível no momento.
-Não creio ser impossível, posso lambe-lo até deixá-lo limpinho.
-Não!-falei rindo e me levantando.-Por mais que eu adoraria vê-lo lamber dias de suor e mugre acumulado, prefiro me banhar em um balde.
Ele se levantou pegando a tigela de ensopado e entregando pra mim com uma colher torta.
-Gracias!-falei com um sorriso.
Ele pegou a dele e sentou no banco a minha frente.
-Gracias por cuidar de mim pela segunda vez agora!-disse Ferrus enchendo a boca em uma colherada..-Humm. . . eu estava faminto, isso aqui está muito bom.
-Está mesmo.
Comemos a tigela a ponto de passar o dedo no final dela.
-Se minha cabeça coubesse eu lamberia o taxo.
-Eu também!-sorri.
Alguns minutos depois Monifa veio buscar a bandeja e Ferrus lhe cochichou algo, ela assentiu com um sorriso.
-O que disse a ela?
-Que estava muito bom!
-Humm!
-Já volto.-disse ele pegando o balde com o sangue que lavei de sua cabeça e saindo.
Preciso tirar essas botas, vou aproveitar o balde de água e os panos extras para me lavar. Tirei uma das botas e o alívio me tomou, junto do mal cheiro, torci o nariz e mergulhei um pano na água e o esfreguei no pé. Que alívio. Fiz o mesmo com o outro. E sem resistir enfiei meus pés nele. Eu queria que esse balde fosse uma bacia para me banhar. Nunca fiquei uma noite sem me banhar, 3 dias então, era tortura. Ferrus voltou com uma bacia de latão e um balde d'água e eu sorri.
-Não esperou por mim?-brincou ele.
-Não creio que conseguiu uma bacia, louvado seja Ferrus.
Tirei os pés do balde e ele virou o conteúdo dela janela, colocou a bacia no meio do caminho e virou a água do balde que trouxe na bacia.
-Espere por mim sim?!
-Por supuesto!
Ferrus é . . . nossa. . . ele é incrível. Como não se apaixonar por ele, como não. . . o que estou pensando. Ele voltou com mais dois baldes de água e depois Moni trouxe uma chaleira fervendo, despejou na bacia e o restante nos baldes.
-Quando for se banhar trarei mais água quente sinhôz. . .Ferrus.-disse ela sem jeito quando ele a olhou.
-Acho que assim já está bom Moni, aqui basta para nós dois.
-Está bem, com sua licença!-disse ela saindo de fininho.
Ferrus trancou a porta e me olhou.
-Você primeiro!-falei sorrindo.
Ele tirou a camisa e a guaiaca. Depois as botas. Ficou apenas de ceroulas. Veio até onde eu estava pegou minhas mãos me tirando da cama e desmanchou meu lenço.
-Fiquei com seu lenço como lembrança de nossa primeira vez!-comentou ele olhando meu pescoço e desabotoou minha camisa.
-Minha lembrança ficou um pouco mais dolorida!-brinquei passando a mão por seu braço e segurando-o pelo antebraço enquanto ele me despia.
-Não vai ficar mais dolorido!-murmurou ele.-Desta vez. . . eu quero senti-lo dentro de mim.
Seus olhos encontraram os meus e uma gaita se agitou no convés. Gritos e risadas, prósas e versos ditados, sorri com o barulho, isso nos daria mais privacidade. Ferrus me levou a bacia e tirou minhas ceroulas, apertou minhas nádegas e mordeu meu pescoço. Entrei na bacia e sentei nela, Ferrus pegou algo em sua mala e um pano o umedeceu e começou a me esfregar como minha mãe preta fazia comigo. Mas com ele era diferente. Suas mãos me causavam arrepios de desejo sua respiração se igualava a minha.
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Quando seus olhos me encontram
RomanceAqueles olhos quando me encontram eu consigo sentir, consigo ver mesmo de olhos fechados que ele me encara, e não entendo por que luto contra isso. . . É como se já nos conhecêssemos de outras vidas. Está história arco-íris conta sobre uma vida pass...