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Depois do jantar fiz um prato com frutas e pães para levar para Afonso, o senhor Luigi foi se deitar e toda a casa também. Estava quase na porta de Afonso, quando Ferrus saiu de seu quarto, pegou o prato e me deu um beijo.

-Durmam bem!-sussurrei.

-Tu também.

Ele entrou no quarto e meu coração ficou pequenininho, talvez está seja a última noite dos dois juntos. Suspirei com os olhos ardendo, Afonso e Ferrus não eram meus irmãos, eram meus pais por mais que fossem quase da minha idade.

-//-

Ferrus:

Vazio. Escuridão vazia. Um posso sem fundo. Amargo e melancólico. Assim era meu peito. Odeio o que estou fazendo com Afonso. Me odeio mais do que ele possa imaginar, mas não posso permitir que a morte de minhas mães fique impunes. Entrei no quarto de Afonso e a tranquei, ele dormia com a cabeça debaixo do travesseiro, com a roupa que tinha vindo, com as botas imundar. Estou machucando o amor da minha vida para honrar minha mãe. Lhe tirei as botas, as calças, depois o virei e lhe tirei a camisa, tirei minha roupa e me aninhei do seu lado o puxando para meu peito, no escuro apenas seu suspiro entrecortado me disse o quanto ele chorou. Eu o invejo por conseguir ao menos chorar, nem isso consigo mais. Afonso me abraçou com força e cheirou meu peito, pousou sua bochecha sob meu coração e ali seguiu dormindo, nem isso eu conseguia fazer mais. Quando fecho os olhos vejo minha mãe sendo brutalizada, Katiri sendo. . . não quero pensar no que podem ter passado. Quero descobrir os responsáveis pelo ataque e matá-los um por um com minhas próprias mãos. O dia clareou e eu estava com os olhos abertos fitando o teto.

-Não dormiu?-murmurou Afonso.

-Não se preocupe. . .

-Como não vou me preocupar Ferrus, quando vai entender que você é o amor de minha vida, homem!

-Eu sou?-forcei um sorriso.

-Precisa de mais provas?

-Não!-sussurrei o apertando contra mim.-Eu sei, sempre soube.

-Então não me deixe!-implorou ele baixinho.-Está me deixando Ferrus.

-Não estou meu amor, jamais te deixaria, eu vou voltar.

-Não vai Ferrus, nós dois vamos morrer!

-Não fale isso Afonso.

Ele tentou se levantar e o puxei para um beijo, Afonso tentou relutar, mas amoleceu em seguida, o deitei do meu lado e o amei sem me importar que muitos peões já estavam se levantando aquela hora. Eu ainda o amo e muito, mas nem mesmo ele consegue apagar essa chama de ódio que tem em meu peito.

. . .

-//-

Afonso:

-Vou sair de fininho antes que alguém nos pegue!-disse ele.

-Deixa eu espiar!-falei indo até a porta.-Pode ir.

Ferrus me deu um último beijo e se foi. Lavei meu rosto e Moni bateu na porta e entrou.

-Vim ver como você estava.-murmurou ela vindo me abraçar, retribui o abraço sem pensar, cheio de pesar.

-Morto.-murmurei.-Estou morto por dentro.

-Não fale assim.-sussurrou ela acariciando meu cabelo. -Vocês ainda podem sair dessa, você tem muitos para curar e ele é esperto e . . .

-A máscara de arrogância pode matá-lo, Moni, a cegueira da vingança pode matá-lo e até mesmo nosso amor.

Desta vez foi ela que chorou, essa foi a primeira vez que a vejo chorar depois de anos.

-Não quero perder vocês!-disse ela soluçando.-Quem vai me proteger e cuidar de mim?

-Moni.-peguei seu rosto em mãos e olhei em seus olhos de ébano.-Tu és a mulher mais linda, inteligente e forte que já conheci, vai cuidar de si, me dará netos.-brinquei a fazendo rir.-O legado Terra Cortez segue, se acontecer algo a nós você está segura aqui, cuide de meu pai para mim e de Zulu também.

-Não se despesa de mim . . . por favor.

-Monifa Terra Cortez minha herdeira, minha irmã, minha filha, minha amiga, minha cuidadora, meu anjo, você é a herdeira de nosso amor, de onde quer que eu esteja, estarei de olho em ti.

-Vai vir me buscar?

-Se for permitido sim.

-Promete?

-Prometo!

-Te amo Afonso, amo Ferrus também, os dois são tudo pra mim.

-E você pra nós, agora vamos descer pra tomar café.

-Seu rosto está inchado.

-Que bom, assim parece que eu acabei de acordar.-Forcei um sorriso.

Desci com Monifa segurando meu braço, Ferrus já estava lá em baixo tomando café com meu pai.

-Buenos dias!-falei.

-Bom dia!-disse Moni.

-"Buenos dias"

-Como passou a noite filho, conseguiu descansar?

-Sim.-respondi me servindo de pão e goiabada.-Nunca mais vou comer goiabada como de Zuri.

-Não, mas ela deixou a receita. . .

-Mas as mãos não são as mesmas.-o cortei.

-Tem razão.

-Vou contigo a cidade Ferrus!-comentei.-Tenho assuntos por lá também.

-Por supuesto!

Meu pai me olhava de um jeito estranho, como se soubesse o que estava acontecendo entre nós.

-Que passa papá?

-Está tão diferente.-comentou ele.-O brilho de seus olhos apagou.

-Que besteira papá soí o mesmo.

-Não!-disse ele se recostando na cadeira.-Não quero que vá pra guerra.

-Preciso disso pai, as pessoas precisam de mim.

-Mas você . . .

-Estou bem papá, não se preocupe comigo.

Meu pai negou com a cabeça e seguiu sua refeição, dei um olhar para Monifa que suspirou.

-O café está magnífico, nunca bebi nada igual!-comentou Moni, dispersando o silêncio.

-Sim, comprei essa saca a última vez que fui a cidade, já encomendei mais.

-É tão saboroso quanto cheiroso.

-O que vai fazer mais tarde Monifa?-perguntou meu pai.

-Eu ia terminar de ler um livro, mas estou aberta a convites.-sorriu ela.

-Posso levá-la para conhecer uma parte da fazenda, há muitos animais.

-Será uma honra andar a seu lado senhor.-sorriu gentilmente.

Não ousei olhar para Ferrus enquanto comia, mesmo sentindo seus olhos em mim.

. . .

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora