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Afonso:

Ajudamos Moni a se vestir, ela chorava a cada peça de roupa, e quando Ferrus lhe pôs o sapato nos pés foi de chorar junto.

-Está uma prenda mui linda minha irmã!-brinquei com ela a girando.

No dia seguinte todos olharam torto para ela, Ferrus a ensinou a levantar a cabeça e a ensinou o olhar arrogante, ela ria toda vez que tentava, mas quando saímos na rua, que ela viu os olhares de incredulidade por ela andar bem vestida, então nos observou e levantou o rosto, empinando o nariz e sorriu pra nós.

Depois de uma semana encontramos uma casa a venda, não era muito grande, mas tinha três quartos, sala cozinha, escritório, tudo pronto para moradia, morava um casal de idosos que faleceu e os filhos puseram a venda. Ferrus foi negociar a casa para mim e voltou com as chaves em mãos. Fizemos documentos para Monifa dando a ela nossos nomes, Moni tinha tanta alegria que chegava a transbordar. Nossas aulas começaram, e Ferrus se encarregou de ensinar Moni a ler e escrever, descobri que Katiri aprendeu com ele.

Meses passaram. Setembro já estava quase no fim quando recebemos cartas de nossa família. Ao entrar em casa Moni estava com a cabeça enterrada em um livro.

-Como foi seu dia?-perguntei.

-Bem!

-Me sinto tão orgulhoso de te ver ler livros desse tamanho!-disse Ferrus beijando sua cabeça.

-Me pergunto se sou a primeira negra a aprender a ler e escrever?-disse Moni pensativa.

-Espero de todo o meu coração que existam outros que saibam, mas você é única Moni.

-Não, vocês que são.-disse ela com um sorriso.

-E esse cheiro?-perguntou Ferrus.

-Estou assando pães, assim que estiverem prontos passo o café pra nós.

-Hummm. . . -disse Ferrus se jogando no sofá estendendo os braços para trás.

Sorri ao ver a imagem do conforto, peguei a carta que meu pai mandou e sentei no colo de Ferrus, que roubou-me um beijo antes de eu conseguir ler.

-Amo vê-los juntos!-disse Moni com um suspiro.

-E nós te amamos Moni!-disse Ferrus lhe jogando um beijo enquanto eu abria a carta de meu pai.

" Estimado filho está carta é um aviso sobre a guerra que acaba de ser declarada, Bento Gonçalves tomou Porto Alegre a dois dias atrás. Filho termine seus estudos, não se junte a causa, mesmo que o chamem de covarde prefiro um filho vivo a te ver pelear numa causa perdida, abraços de seu pai."

-O que ouve Afonso?-perguntou Ferrus assustado ao me ver tenso.

-Uma guerra, o Rio Grande do Sul está em guerra, leia sua carta Ferrus.

-Mas. . .

-Deixe-me ler!-falei abrindo a carta dele.

"Filho estoura uma guerra por aqui, não consegui impedir seu pai de se juntar as forças de Bento Gonçalves, peço que fique por ai, até as coisas se acalmarem, tenho medo por seu pai, mas tenho mais medo de perder você. Carinhos de sua mãe"

Abri a outra carta dele.

"Ferrus Cortez aqui é seu pai, me junto hoje a Bento Gonsalves, no dia de amanhã 20 de setembro tomaremos a capital, faço isso por nós filho, e se alguma coisa me acontecer cuide de sua mãe e de nossas terras. Morrerei como um herói e não aplastado em casa como um covarde."

Peguei a outra carta.

"Filho de minha alma, por tudo que é sagrado não volte, por mais que está guerra comesse a caminhar por seus ideais não volte, isto será longo, está guerra talvez não tenha fim, seja feliz onde está. Carinhos de sua índia veia"

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora