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Narrado por Nikolai

Olhei pra Maria.

-Vocês têm que tomar mais cuidado Niko.

-Eu sei, mas tá difícil. - Sussurrei.

É difícil não demonstrar o carinho que tenho por ele, e acho que pra ele é mais difícil ainda. Não fui o consolar como eu queria pois daria na vista que realmente somos um casal.

-Como está sendo pra você Niko?

-Eu... Não sei... Não sei te explicar, mas aqui não dá pra ficar mais.

-Quer ir pro Brasil?

-Lá parece ser mais livre que aqui!

-Não se engane Niko, já vi muitas notícias de Gays assassinados a sangue frio lá.

-Isso tem por tudo, mas lá é menos perigoso que aqui, eu vi pessoas caminhando de mãos dadas lá, fomos defendidos em um restaurante...

Contei a ela o que ouve. Olhei o relógio.

-Vou me atrasar! - Comentei. - Até mais.

-Até!

Entrei no quarto pra ver se Cadu estava ali. Só um caderno amassado que ele tinha, a janela estava entreaberta e foleou o caderno, corri para fechá-la e me deparo com a página aberta, sem resistir a li.

"Não sei de que mundo viemos,
Não sei para que mundo vamos,
Não sei quem sou e nem quem ele é,
Mas sei que nada disso importa quando estamos juntos.
Sei que nada vai nos impedir de viver um grande amor.
Nada poderá nos impedir de seguir em frente juntos, porque a única certeza que tenho é que pertencemos um ao outro. "

Fechei o caderno sentindo meu peito estufado de tanto sentimento.

Não era bem uma poesia, parecia mais um desabafo. Sei que os sentimentos dele por mim são verdadeiros assim como os meus por ele.

-Quer saber...

Liguei pro meu chefe dizendo que não estava me sentindo bem. Fui liberado e resolvi fazer uma surpresa pro Cadu. Fui a floricultura, comprei flores. Fui ao shopping comprei uma caixa de chocolate, velas perfumadas, estava passando em frente a uma loja que tinha um pijama quadriculado, parece com um que Cadu tem e eu adoro deixar ele corado dizendo que ele parece um presente de Natal. Comprei dois e pedi pra embrulhá-los juntos. Uma loja de bebês me chamou atenção, dei volta.

-Olá, está perdido?

-Não, estou no lugar certo, quero um presente pra minha filha, será o primeiro presente dela.

-Parabéns papai, venha, vamos encontrar algo.

Comprei um daqueles macacões de bebê, era branco com florzinha bordadas, sapatinhos de lã, vermelho, Meias, toca e luvas. Um conjunto. Meus braços já não cabiam mais coisas, mesmo assim entrei no restaurante japonês e fiz duas barcas de sushi, Cadu adora comida japonesa e come como se não tivesse fundo. Sorri sem pensar. Coloquei as flores em uma bolsa pra que ninguém visse e entrei meio sorrateiro.

-Olá senhor Hector! - Falei e entrei o mais rápido que consegui.

-Ivanov! - Disse ele como cumprimento.

Entrei no quarto passando a chave e calçando uma cadeira pra que Cadu não me surpreende-se. Passei minhas coisas de estudo pra mesa dele e posicionei ela entre as duas camas, coloquei as barcas uma de cada lado. Coloquei as velas e as acendi, deixando o quarto com cheiro de flores. Tomei um banho rápido e coloquei o pijama do Cadu, eu precisava ver aquele sorriso lindo dele de qualquer jeito. Nem que eu virasse o palhaço da corte. Liguei minha vitrola com um disco do Elvis. A porta foi destrancada.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora