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Ferrus Cortez:

Minha bebedeira me deixou mais corajoso, e amanhã posso por a culpa na canha, mas eu não terei outra oportunidade como está, Afonso poderia tudo, mas jamais me machucaria. Quando consegui sentir seus lábios frios e úmidos, com gosto de licor de butiá. Quando senti que me desejava tanto quanto eu, despertei mais. Afonso até poderia ser um Terra, mas não era igual aos familiares. Certa vez o vi chorando atrás da escola abraçado a um passarinho que Oliveira matou com um bodoque, ele socou Oliveira até tirar sangue de seu nariz. Eu achei aquele ato incrível, e quando o vi chorando eu queria consola-lo, mas não tive coragem de ir até ele, Afonso pegou o passarinho e o enterrou em uma cova feita com as próprias mãos, lhe deu palavras.

"Que tu possas adentrar os portões do céu e cantar para o bom Deus em suas manhãs. Deus amigo e companheiro tenha piedade deste pobre passarinho que teve seu canto interrompido por uma alma feia e corrompida, lhe de sementes e céus limpos para que cante com alegria outra vez."

Depois daquele dia passei a admirar Afonso, mesmo ele sendo um Terra. Passei a espiona-lo. Essa admiração vem crescendo cada vez mais.

Estou com Afonso em minhas mãos, me delicio passando a mão por sua barriga, o sinto relutante quanto a me tocar, mas eu quero que ele me toque, tirei minha camisa arrebentando os botões, peguei suas mãos e as pousei em meu peito, me jogando a seu lado o puxando pra cima de mim. Tirei-lhe a camisa e a guaiaca, sua adaga tilintou ao nosso lado, nos beijávamos com tanto fervor, ele é diferente de todas as chinas que já tracei, Afonso era . . . diferente.

Já sem roupa alguma, sentindo-o em minha mão, duro e pulsante, o virei sobre o pasto, cuspi em minha mão e esfreguei em sua entrada, até introduzir um dedo, Afonso arfou e selei nossos lábios, enquanto o tentava, ele esmagou meu pescoço com os braços, arfando e gemendo, quando relaxou por fim eu soube que estava pronto pra mim, com outro cuspe o penetrei devagar e ouvi meu nome sair mais uma vez de sua boca.

-Ferrus. . .

-Shiii. . . não vou. . . machuca-lo. -O beijei novamente antes de movimentar lentamente, eu já estava com o gozo na cabeça, mas quero segurar isso pelo maior tempo que eu conseguir. Sussurrei enquanto mordia sua orelha. -Relaxe meu amor.

Afonso por fim relaxou, então lentamente, deliciando-me o estoquei, sobre nossas barriga ele pulsava.

-Ferrus eu vou. . . hum. . .

-Vai meu amor!-rosnei o estocando com mais força.-Goza pra mim Afonso.

Enquanto seu jato quente grudava em nossas barrigas eu o preenchia com o meu próprio gozo. Mesmo já sentindo dor eu não queria sair de dentro dele, queria seguir ali pra sempre.

-Ferrus. . .-Sua voz saiu rouca, olhei em seus olhos, olhos estes verdes com uma mancha marrom clara quase ocre em volta, olhos penetrantes e límpidos que davam para ver a beleza de sua alma.-Somos loucos.

Eu não conseguia falar, mas o beijei novamente, agora enxergando bem com a luz da manhã. Eu o quero de tantas formas.

-Tenho que ir!-disse ele.-Vou viajar. . .

-Te vejo na embarcação em Porto Alegre meu amor!-falei ainda olhando em seus olhos.

Levantei com relutância, me vestindo e o admirando se vestir. Não era seu corpo que me fascinava, era quem ele era. A cor de seus olhos. Sua voz.

-Não parece estar mais bêbado!-comentou ele enquanto abotoava sua camisa.

-Você me deixou sóbrio.

-Que vergonha.-sussurrou.-Seremos mortos se. . .

-Ninguém vai descobrir.-falei indo até ele enquanto afivelava minha guaiaca.-Mas eu . . . não quero te perder.

-Ferrus o que ouve aqui, não pode se repetir. . .

Passei meus dedos por aqueles cabelos desgrenhados na altura do ombro. Ele olhou em meus olhos.

-Não pode ou não quer?

-Não . . . pode.-ele desviou os olhos.

-Mas quer!

-Tenho que partir.

-Eu te vejo em dois dias meu amor.

-Pare de me chamar assim Ferrus. . . isso é impossível.

-Não é. . .-o beijei outra vez e ele cedeu novamente.-Eu sei que me quer teimoso.

-Adeus Ferrus!- disse ele montando em seu cavalo.

-Não fuja do que sente por mim Afonso, eu não vou desistir de ti!

Pôs sua égua em disparada, e o fiquei olhando até ele sumir no horizonte, a pé voltei pra casa, cheguei com o sol a pino, mas minha alegria não se desfez nem com a reprovação de minha mãe.

-Bom dia família!-falei ao entrar em casa a pé.

-Ferrus, deveria estar saindo de casa agora, se ainda fosse um piá te dava de relho, vá se banhar.

Meu pai me deu um sorriso orgulhoso.

-A bailanta foi boa?-perguntou-me ele.

-Muito pai, não imagina o quanto me diverti.

-Está fedendo a china, vá se banhar Ferrus!-ralhou ela.

Meu pai sorriu orgulhoso mais uma vez, se ele sonhasse com quem me enlacei está madrugada não estaria com esse sorriso na cara. Em meus aposentos tirei a roupa e katirí entrou com uma chaleira fervendo para por na bacia, cuja a água estava fria.

-Índia veia se eu pode-se a levaria comigo.-beijei seu rosto.

-Apesar de eu ter trocado teus cueiros não estou tão velha assim.-brincou ela.

-Vai cuidar dos meus filhos também?

Seus olhos ficaram vítreos. Odeio quando ela vê coisas.

-Não terá herdeiros meus filho, escolheu o caminho do amor.

Suspirei e ela voltou a piscar.

-Katiri. . .

-Se forem descobertos serão mortos filho!

-Eu sei. . . -sussurrei entrando na bacia, katiri começou a me banhar.-Mas eu preciso daqueles olhos em mim Katiri.

-Então fuja querido, vá com ele para o outro lado do oceano e não olhem para trás.

Peguei sua mão que esfregava uma bucha ensaboada em meu braço.

-O que viu?

-Os dois mortos caso voltem!

-Mas ele . . . me quer?

-Mais do que consegue admitir.

Sorri faceiro.

-Não sorria para a morte filho.

-Se eu for com ele Katiri, estarei feliz.

-Não volte filho!-implorou ela.

-Vá comigo?

-Minha sina é morrer nesta casa cuidando de sua mãe.

-Mas Katiri. . .

-Seja feliz meu menino, mas seja feliz vivo.

-Vou tentar.

Depois de me vestir, coloquei minha mala de garupa com algumas mudas de roupas, pão recheado, goiabada e um cantil cheio d'água fresca. Katiri colocou uma lata em minha mala.

-O quê é?

Ela me puxou para um abraço e sussurrou.

-A receita esta debaixo da lata, isso é para ele não sentir dor.

-Obrigado minha índia mãe, sabe que a amo não é mesmo?

-Eu também o amo meu menino, que Deus o acompanhe.

Beijei sua testa, entrei em casa para beijar minha mãe, avó e meu pai. Montei em meu Zaino e parti rumo a Porto Alegre rezando para encontrar Afonso durante o caminho.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora