57 Cap Extra

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Marcel Viana

Que merda de pacto aquela louca foi fazer, aquele garoto é o meu inferno pessoal, que nojo, ódio desse merda que se arranjou.

Estacionei puto da vida num posto e comprei cerveja, e uma garrafa de vodka, Gio não pode me deixar por causa daquele demônio, sabe-se lá de que inferno aquele garoto saiu, mas Deus vai castigar eles os dois pelas coisas que fazem.

-Acham mesmo que não vão pagar seus putos! - Falei empinando a vodka e abrindo uma lata de cerveja.- Vão pagar caro!

Vou dormir na casa nova, eu paguei e é minha, afinal, o Rosa não fica tão longe daqui, liguei o carro, o som alto pra abafar meus pensamentos e segui bebendo, minha visão começou a embaçar e vi as luzes daqueles porcos de merda.

-Vão se fuder! - Gritei mostrando o dedo pela janela o que me fez rir muito, terminei com a vodka e taquei pela janela, acelerei enquanto ria. - Eu não sou drogado não seus porcos, vão pegar bandidos filhos de...

Eu estava fora do carro de pé, olhando a viatura parar quase em cima de mim.

"Eí seus...

-Esse já era! - Disse um dos policiais saindo da viatura.

-Olha pelo lado bom! - Disse o outro rindo.

-Menos um pra incomodar?! - Os dois trocaram soquinho passando por mim.

Toquei meu corpo quando eles me atravessaram.

"O que tá acontecendo?"

"Ei?!"

Meu carro estava caído em um barranco a frente desmanchada contra as pedras de um morro.

-Droga, detesto quando eles ficam desmanchados nesse estado!

-Nem me fala, agora vamos levar uma cara pra descobri quem é esse trem...

...

"Ei onde estou?"

"oi! - Disse uma guriazinha moura de uns 4 anos mais ou menos.

" Oi guriazinha, você também está...

"Vou reencarnar daqui uns dias e tive permissão pra sair, quero te levar pra um lugar! - Ela me estendeu a mão e aceitei.

" É a casa da minha irmã, por que me trouxe aqui?

"Queria ser eu a lhe mostrar uma coisa"

Entramos num quarto onde estava aquele...

"Ele foi seu filho nesta encarnação pra você aprender, mas você preferiu seguir o mesmo de sempre ao invés de evoluir.

" Eu não posso estar morto!"

"Não existe mais nada de seu corpo, por escolha sua, ainda bem que haviam anjos que protegeram você de matar uma família que vinha de frente pra você, você ia matar um pai, uma mãe, uma adolescente e um casal de gêmeos, mas não era hora deles.

" Era a minha?"

" Não, mas você escolheu isso."

"Eu não quero morrer!

" Você não tem mais como voltar atrás, agora escute! - Ela fez sinal de silêncio."

-Por que ele é assim, eu nunca fui um mal filho Niko.

-Não fique assim Cadu.

-Tenho vergonha de dizer que ele é meu pai, e por sorte a juíza deixou eu ficar só com o sobrenome da mamãe e o seu.

-Sim, aquela senhora foi um anjo.

-Preciso ir ao banheiro! -Cadu baixou a cabeça passando por mim enquanto esfregava as mãos nos braços.

-Está bem. - Niko tirou umas roupas de bebê de dentro de uma sacola. - É, minha filha, sua tia avó vai te mimar muito pelo visto.

"Ela vai mesmo, e eles os dois vão me amar incondicionalmente."

" Então você é a criança... "

"Eu sou a sortuda de ser filha deles pela terceira fez, mas eles os dois nunca conseguem fechar o ciclo juntos e eu acabo sem um deles.

" Não tem nojo?"

"Do quê? - ela parecia confusa. "

" São dois homens, você precisa de uma mãe."

"Cadu precisou de um pai? "

Eu não tive uma resposta. Cadu voltou e ligou para a mãe da guriazinha falante ao meu lado. Deitados os dois continuaram conversando.

" Não quero ficar aqui! "

"Primeiro precisa ouvir. "

-Eu o adorava sabe?! - Começou Cadu. - Ele me levava pra pescar e a gente competia quem pegava o maior peixe ou quem pegava mais... Eu o amava muito Niko e ele transformou esse amor em nada.

-Não tem raiva?

-Não, nada, ele me magoou muito Niko, me machucou por dentro a ponto de matar todo aquele sentimento bom que eu tinha por ele.

"Não quero ouvir!"

" No momento não tem querer. "

-Quando ele me bateu quebrou minha adoração por ele...

"Não quero ficar! "

" Tudo bem! " - disse ela me puxando através das paredes até a cozinha onde minha ex mulher conversava com minha irmã.

-Tenho pena dos meus pais! - Disse Flávia. - Eles botavam tanta fé em meu irmão...

-Ele foi mimado!

-Meus pais o adoravam por ele ser homem, cuidaria de tudo e blá-blá-blá, agora devem de estar se revirando do caixão ao ouvir ele dizer aquelas coisas do próprio filho.

-Seus pais também tinham preconceito amiga!

-Não tanto quanto meu irmão, eu ainda não consigo acreditar no que ele foi capaz de fazer com o próprio filho.

-Nem eu Flá, nem eu!

"Eu não vou ouvir isso!"

" Tem medo da verdade? "

"Não me irrite garotinha! "

" Tenho que ir já que não quer ver as coisas. "

" Espere, pra onde eu vou? "

Ela deu de ombros e sumiu. Não, fui eu que sumi, estavam abrindo meu carro com ferramentas.

" Eu não quero ver isso! - gritei. "

...

Passei muitos dias gritando, de raiva e ódio por ver minhas coisas serem jogadas fora, sendo dadas a pessoas nojentas, eu tentava pegar de volta, mas não conseguia. Tinha que ouvir o quão ruim fui. Minha casa nova na beira da praia onde eu ia curtir minha velhice agora é daquele puto, que caia na cabeça dele...

-Onde estou?

Aqui é desprovido de luz, um lugar com árvores mortas, lodo, apesar do breu meus olhos viam e ouviam pessoas loucas gritando, uns pedindo por ajuda, eu vou enlouquecer aqui.

-Meu Deus me tira daqui!!!! Me tira daquiiii...

Não sei por quanto tempo vaguei por aquele vale de sombras, mas foi muito, muito tempo. Me ajoelhei faminto, com frio, desesperado e sozinho, comecei a rezar e pedir perdão. Minha mãe apareceu me estendendo a mão.

-Oi filho?

-Me tira daqui mãe...

-Não aprendeu nada com a vida meu filho, mesmo com tanto amor que lhe demos...

-Me perdoa mãe?!

-Não é a mim que você tem que pedir isso, mas vem!

Ela sentou e me puxou pra seu colo, ela era meu único ponto de luz.



Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora