Monifa:
Depois de me lavar naquela noite, desci para o jantar, o som da chuva era tão alto que não conseguíamos nos ouvir sentados a mesa, tínhamos que praticamente gritar para sermos ouvidos. Onde será que aqueles dois estão. Vendo minha tristeza Luigi segurou minha mão por cima da mesa e me sorriu triste. Assenti apertando um sorriso em minha boca. Eu era para estar sendo solidária a ele e não o contrário. Torres não me tirava os olhos.
-Volto para a tropa em alguns dias!-anunciou Torres.-Já estou bem o suficiente para empunhar uma espada.
Meu coração disparou, eu não queria que ele ficasse aqui, mas também não queria vê-lo partir, por isso não me entreguei a seus galanteios, não posso permitir que meu coração se quebre como o de Afonso. Não consegui pensar direito. Me levantei.
-Com licença, vou ver o . . . bezerro.
Toquei o ombro de Luigi e fui pra cozinha, louca para chorar, por quê? O que ele era para mim? Comigo ele iria apenas me querer como uma amante e olhe lá, por mais armas que eu tenha, minha cor ainda é. . .
-Sinhá?-ela passou as mãos em meus braços.-Precisa de alguma coisa?
Neguei com a cabeça engolindo qualquer início de desespero, caminhei até o bezerro que dormia estendido debaixo do fogão a lenha. O acariciei e ele estendeu as patas numa preguiça sem fim o que me fez sorrir.
-Zefina, pegue papel e uma pena e tinta em cima de minha mesa.
-Sim sinhá.
Ela saiu da cozinha enquanto sua mãe seguia os afazeres, ela me sorriu e retribui forçadamente.
-Obrigado pelo que vai fazer por ela sinhá.
-O estudo é nossa melhor arma, a escravidão vem da ignorância.
-Pode ser sinhá.
Depois de ensinar as primeiras letras a Zefina, a deixei repetindo as letras. A casa já estava quase toda escura quando subi para meu quarto, no corredor Torres me aguardava escondido a espreita, só o vi quando um raio clareou o corredor. Seus braços enlaçaram minha cintura e meu coração bateu desesperado.
-O que quer Torres?
-Quero tu minha morena.
-Não sou nenhuma china nem. . .
-Eu sei, mesmo assim quero uste.
-Desculpe general, mas não posso lhe oferecer nada.
-Quero sua mão!-sussurrou ele em meu ouvido.
-Para quê? Vai ir para a guerra general, vai me deixar assim que o próximo tiro o atingir, não quero ser viúva tão nova.
-E se eu desertar.
-Não faria tal coisa, um homem de sua estirpe não desertaria por uma negra.
-Mas desertaria pelo amor de sua vida!-disse ele.-Me enamorê de ti prenda, faria qualquer coisa por uste se me quisesse.
-Não posso lhe exigir isso.-tentei o afastar então sua boca, seus lábios, assim como nos livros, percorreram meu pescoço e depois beijou-me com ternura, cedi pela primeira vez em minha vida, retribui pela primeira vez em minha existência. Os lábios frios se aqueceram em contato com os meus, suas mãos deslizaram por minha cintura e eu me afastei.
-Desculpe. . . não posso.
-Por que não?
-Vai quebrar meu coração, não estou disposta a sentir tal dor.
-Monif. . .
-Não!-falei entrando para meu quarto.
A chuva abafou meu choro naquela noite, dois dias depois ele partiu com a promessa de voltar para me ver. Luigi riu dizendo que ele estava me cortejando, lhe disse que não tinha interesse. Mas nem mesmo eu acreditei.
. . .
Irritada com a situação ao descobrir que Afonso estava na verdade perto de Porto Alegre na tropa do general Neto, lhe escrevi insultos. Rezei para que Ferrus voltasse pra casa, nenhum dos dois voltou. Um mês depois Torres voltou para me cortejar.
-Conheci seu filho senhor Luigi, na verdade ele me reconheceu.
-Ele está bem?
-Sim, não mede esforços para salvar os feridos.
-Leve-me até ele general?-pedi.
-Filha é perigoso.-disse Luigi.
-Afonso precisa voltar pra casa, vou exigir que volte comigo.- ele pousou uma mão em meu ombro e eu sussurrei para não deixar lágrimas correrem.-Preciso tentar.
-Tudo bem.
O olhei nos olhos.
-Obrigado.
-Temo por sua vida minha prenda!-disse Torres.
-Sei me cuidar.
-Não em meio a uma tropa de machos baguais.
-Então cuide de mim! -Expalmei a mão em sua direção.-Se quer me desposar, cuide de mim, se no fim desta guerra você estiver de pé me casarei com você.
-Não está brincando com meu coração não é?-desconfiou ele.
-Lhe dou minha palavra, me caso com você. . .
-Com a condição de vir morar aqui general, Monifa não sairá desta casa, leve-a e a traga de volta, tem 5 dias pra isso.
-Sim senhor Luigi.
-O receberei como filho Torres, não desonre minha filha.
-Prometo por minha honra senhor.
-Vou me preparar.
-Partimos amanhã pela manhã, não quero pegar duas noites com uste ao relento.
-Pois bem, saímos após o café da manhã.
. . .
Pela manhã na porta do casarão, Torres pegou minha mão e pousou um anel em minha palma.
-Um presente de compromisso se uste quiser apenas guardar vou entender.
-De onde tirou isto?
Era uma aliança de ouro, tão grossa que ressaltaria em meu dedo.
-Comprei para uste assim que cheguei na capital, quero me casar com uste de verdade Monifa. Quero honra-la.
-Então sobreviva general.
-Vai guarda-lo?-perguntou com pesar.
-Vou, vou guarda-lo em meu dedo para não perde-lo.
Theodoro sorriu o pegando novamente e o colocando em meu dedo de noivado, coube perfeitamente.
. . .
No caminho para a tropa paramos para almoçar, levamos comida para dois dias. Theodoro não me tocou além de minha mão.
-Há quem devo pedir sua mão senhorita?-brincou ele.
-A Afonso!-respondi.
-Pensei que fosse prima do Cortez.
-No lugar de meu primo, Afonso responde por mim.
-O que são seus de verdade?
-Os dois são meus primos, meu nome é Monifa Terra Cortez.
-Sua família é estranha, por que te apresentaram como prima apenas do Cortez.
-Porque poderiam pensar mal dos dois.
-Humm.
-Tem algum problema com isso?
-Não!
-Tem até o fim da guerra para se arrepender general.
-Não irei senhorita.-Sorriu ele.
. . .
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Quando seus olhos me encontram
RomanceAqueles olhos quando me encontram eu consigo sentir, consigo ver mesmo de olhos fechados que ele me encara, e não entendo por que luto contra isso. . . É como se já nos conhecêssemos de outras vidas. Está história arco-íris conta sobre uma vida pass...