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Monifa:

Uma semana se passou desde que tudo aconteceu, estou rezando para que Ferrus encontre Afonso, e que nenhum deles encontre a tal teiniaguá. O general Torres segue de galanteios e eu lhe corto qualquer intensão que seja. Pela primeira vez acordei tarde em minha vida, quase não dormi esta noite, sonhei com Ferrus aprisionado por uma lagartixa. Desci ouvindo uma prosa animada o general havia se levantado, estava sentado a mesa tomando café com Luigi.

-Bom dia!-falei.

-Buenos dias senhorita!

-Bom dia filha, sente-se vou pedir para que Zefina passe outro café pra você.

-Não precisa, estou bem.

Sentei desanimada pensando naqueles dois, peguei um pedaço de queijo e goiabada comi junto e os dois me olharam.

-Que foi?

-Isso fica bom?

-Muito, experimentem. -olhei para o local onde Zulu costuma sentar.-Onde está Zulu?

-Foi tentar salvar um terneiro, a vaca morreu e ele ia tentar tirar a cria.

-Vou ajuda-lo!-falei me levantando.

-Posso ir junto?

-É melhor descansar general.

-Já descansei demais!-disse ele se levantando.-Já estou pronto pra outra!

Ele deu duas batidinhas leves na cicatriz do ombro. E me seguiu.

-Pois bem, pode me acompanhar então.

Me certifiquei de que ele montasse no cavalo primeiro.

. . .

Desci rápido ao vez Zulu e Tição lutando para abrir a barriga da vaca sem machucar o filhote.

-Sinhá pode puxar pelas patas?-perguntou Zulu.

-Claro.

Tirei o poncho e remanguei as mangas, enfiei as mãos até os cotovelos para dentro da barriga sangrenta.

-Ah bolsa ainda está inteira!-falei sentindo.-Vou puxar com tudo pra fora.

-Espere sinhá.-disse Tição indo para o outro lado da vaca.-Vo puxa pra cá!

-Eu ajudo!-disse Torres enfiando os braços pegando minha mão dentro da barriga, retirei a mão achando as patas do filhote e comecei a puxar, Torres me ajudou e tiramos o animal ainda dentro da bolsa.

-Olha que magnífico ver isso!-falei passando a mão pela membrana, rasguei a bolsa com minha adaga e tirei o bezerro que não se mexeu, Zulu começou a esfregar todo o bezerro já formadinho, com pelo e tudo.

-Vamos lá, mexa-se!-falei tirando o resto da membrana da volta do focinho, então ele vomitou algo e berrou engasgado.

-Por Dios!-disse Torres.

-Conseguiu Zulu.

-Agora é rezar pra que passe desta noite sinhá.

-Ele vai sim, vou levá-lo pra casa e passar a noite cuidando dele.-Preciso de leite.

-Pode deixar sinhá.

O bezerro mal conseguia ficar de pé.

-Me ajude a levá-lo?-pedi a Tição, montei e ele enfiou o animal na minha frente.

Pedi que me alcançasse o poncho pra cobrir o filhote, Torres me observava, eu o via pela visão periférica. Algumas nuvens escuras vinham se agitando com um vento levantando folhas.

-É uma viração, precisamos apertar o passo!-disse Torres.

-Sim.

Segurei o animal com mais força e pressionei meu cavalo para um galope. A chuva começou a cair ao nosso encalço, mas nos deu tempo o suficiente para chegar ao casarão. Zulu e Tição devem de ter pego chuva enquanto arrastavam a vaca para a aldeia de moradores para carnea-la e dividir entre as famílias. Desci do cavalo puxando o bezerro enlacei-o com os braços e subi as escadas, Luigi chegou enquanto eu subia as escadas.

-Filha não faça força.

-Enquanto eu viver, farei o que estiver ao meu alcance sempre.

Levaram os cavalos pra tirar as encilhas enquanto eu levava o filhote pra cozinha.

-Está toda suja Sinhá!-apavorou-se Zefina.

-Ainda tem leite?

-Pouco, mas tem sim sinhá.

-Coloque em uma caneca pra mim, vou tentar aquece-lo.

Um estrondo lá fora fez eu gritar de susto e depois ri.

-Um raio acertou a árvore de louro sinhá, foi perto.

-Sim, o som do chicote no lombo é bem parecido com isso.-Comentei.

Zefina se abaixou ao meu lado perto do fogão a lenha onde me sentei com a cria no colo. Estendeu-me a cabeça com o leite e tentei dar o leite pro bezerro no caneco e ele quase virou.

-Posso fazer isso sinhá?

-Por favor!-falei virando a cabeça dele pra ela.

Ela enfiou os dedos na boca dele e ele começou a sugar, ela começou a virar o leite aos poucos em sua mão que escorria e entrava entre os dedos.

-Vozmecê levou. . . chicote?-murmurou ela.

-Sim, tenho o lombo marcado, você não?

-Nunca, nem sei o que é.

-Não imagina o quanto eu fico feliz em saber disso.

-Tenho sorte de ter naiscido aqui sinhá, minha mãe num si cansa di mi alembra.

-Quantos anos tem Zefina?

-17.

-É tão jovem ainda, como um dia fui, aprendi a ler com a sua idade.

-Isso me da esperança sinhá.

-Do quê?

-De que posso muda minha sina.

-Vou ensina-la a ler e escrever Zefina.

-Tenho muito trabaio sinhá.

-Já que sou "sinhá" posso exigir uma hora ou duas de seu trabalho, a menos que não queira.

-Quero sim sinhá. -os olhos dela brilharam.-Quero saber o que tem naqueles livros que vozsuncê lê sinhá.

-Então logo mais começamos.

-Jura?

-Sim, depois do jantar.

Zefina me lançou um sorriso límpido e verdadeiro. Retribui mesmo com o pesar em meu peito.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora