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Nikolai

Passeamos muito, fomos as praias, peguei insolação mesmo usando bloqueador, Cadu passou dois dias sem poder encostar em mim, só passando uma planta que a tia Flávia tinha no jardim dela. Hoje é véspera de ano novo e estamos indo pra uma praia que fica a uma hora daqui, vamos a uma festa chamada virada mágica.

A praia era demais, linda, linda mesmo.

-Cadu...

-Hummm?

-Quero morar aqui!

Kkkkk

-Olha Niko, eu moraria até debaixo de uma ponte se fosse com você!

...

Durante a festa nos perdemos da minha sogra e agora Tia Flávia que também insistiu que era minha tia. Ficamos dançando no meio da pista, na hora da contagem regressiva, Cadu olhou em meus olhos e me beijou. Viramos o ano com nossas bocas coladas. Ninguém nos disse nada, ninguém apontou pra nós ou nos ridicularizaram. Era libertador viver aqui, em Londres não poderíamos nem andar de mãos dadas sem que alguém nos apedrejem. No dia seguinte passeamos pela praia, fizemos trilha, conhecendo outras praias, cheio de gente feliz e educada, estávamos no tal de centrinho do Rosa, muita gente, um formigueiro alegre, onde as pessoas dançavam até em frente aos mercados, tinha música pra todos os lados, tia Flávia era pura alegria contagiante. Estávamos numa pizzaria com música ao vivo, tocavam Bob marley. Minha sogra saiu com um "amigo" dela.

-O que faz com esse cara?! - Disse um homem alto e forte, o rosto parecido com o de Flávia.

-Esse cara é seu filho, irmão! - Saltou ela.

-Ele está morto pra mim! - Disse ele olhando pro Cadu com raiva.

-Não parece que morri pra você, se está aqui nos vendo e sendo ignorante! - Disse Cadu.

-Não se mete, tô falando com a minha irmã.

-No momento não quero falar com você irmão, estou com minha família, feliz da vida.

-Eu sou sua família, eles não são nada seus... - Nessa hora vejo Cadu abaixar a cabeça e o pego das mãos. - Arranjou um puto pra te comer?

-Vem vamos dançar?! - Perguntei a Cadu já o puxando.

-Eu preferia com todo o meu coração que você estivesse morto a presenciar isso.

-Cale a boca irmão, não diga isso.

- Olha só pra isso. - Apontou ele.

-Algum problema aqui? - Perguntou um senhor.

-Tem sim, esses putos estão me incomodando!

-Eí! - Como é que é? - Tira esse cara daí! - Senhor ele que está nos importunando e insultando esse lindo casal -Coloque-o pra fora ou nós saímos! - éh!

As pessoas que estavam jantando na nossa volta começaram a se levantar e reclamando. Uma mulher fortona deu um empurrão nele.

-Dê o fora, não gostamos de pessoas como tu aqui!

-Bando de putos!

-Vai, vai!

Correram o cara e vieram nos abraçar, o dono da pizzaria nos pediu desculpas e não queria cobrar nossa comida, mas fiz questão de pagar. Cadu não falou uma palavra desde que saímos da pizzaria, não adiantou beijos e abraços e carinhos, ele não estava bem. Dormi abraçado a ele e acordei no meio da noite sem ele. Tinha um deque no nosso quarto da pousada, sai e vejo Cadu abraçado aos joelhos chorando. Meu coração ficou apertado com tamanha tristeza que me abateu. Sentei-me ao seu lado.

-Me... Desculpe?! - Chorou ele.

-Não se desculpe meu amor!

-Sou um fraco... Eu nem ao menos defendi você, e olhe pra mim, olha como aquele homem me deixa?

O puxei para o meio de minhas pernas onde ele se aninhou e chorou mais enquanto eu o acariciava, quando ele se acalmou, colocou tudo pra fora, resolvi falar.

-Tive inveja de você... - Confessei. - Você tinha uma mãe com quem conversar, tinha uma família pra voltar e... No entanto olhe pra você, aqui chorando por pessoas que não te merecem, e eu me sentindo a pessoa mais idiota do mundo.

-Você não é idiota!

-Diz isso porque me ama!

-Amo!

-Mas eu era pra agradecer aos céus por não ter ninguém além de você, eu tenho que agradecer por você ter ficado comigo com todos os meus defeitos e... Agora estou aqui sem saber o que fazer pra apagar sua dor.

-Já está fazendo, está aqui comigo.

-Então não chores mais.

-Então me ame?! - Sussurrou me puxando pra cima dele e o beijei. E antes que alguém nos visse, me levantei e o arrastei pra cama. Lhe tirei a roupa e o amei, senti ele de corpo e alma. Cadu era delicioso por dentro e por fora, e aprendi uma coisinha nova que o deixou mais relaxado. Acordamos com outra vibe.

-Bom dia meus pombinhos! - Disse tia Flávia cantarolando no saguão da pousada, onde serviam café da manhã. Nos deu um beijo em cada.

-Onde está a mama?

-Com o amigo dela, não se preocupe, sua mãe sabe se cuidar, e então quando vai ser o casório?

-Quando Niko quiser!

-Quando nos formarmos o que me diz?

-Claro!

-Cadu, não faz bico, se quiser vou agora mesmo ao primeiro lugar que aceitam casar dois homens e caso com você!

-Bom se esperarem até segunda eu levo vocês no cartório, vocês podem fazer uma união estável. Só que tem que esperar um mês pra ver se alguém tem uma objeção a união de vocês.

-Credo, por que isso?

-Vai saber, coisas de humanos idiotas! - Riu ela. - Mas se ninguém souber, não tem como isso acontecer certo?

-Mas aí temos que ficar um mês aqui? - Perguntou Cadu.

-Eu posso ficar! - Falei para que ele soubesse que estou realmente disposto.

-Deixa, quando nos formarmos fazemos isso.

-Por que não quer ficar Cadu?

-Ainda pergunta tia, desde que cheguei aqui estou sendo... Massacrado por quem deveria me amar e apoiar.

-É que você põe sua fé nas pessoas erradas, eu por exemplo, sou sua tia e te amo, e estou mais do que feliz por você e Niko.

-Você e a mamãe são uma exceção.

-Isso deveria bastar para você!

Ele suspirou.

-Basta sim... Você tem razão.

-Então vão ficar?

-Vamos! - Falei segurando a mão dele.

Apesar de tudo o que está acontecendo, está foi a melhor viagem da minha vida. Ganhei uma mãe, uma tia louquinha, e um marido.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora