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Nikolai:

Cadu é pura alegria. O que me contagia é seu sorriso, será que um dia ele fará meu sorriso se apagar? Espero que não, pois eu morreria.

A noite foi uma briga para todos tomarem banho, pegamos toalhas e a roupa e Cadu me levou para os fundos da casa, tinha um poço.

-Isso chamamos de "cacimba"

-Caximba!

-Por aí! - Disse ele jogando um balde e puxando água no balde. Pegou uma caneca e me olhou. - Pronto pro seu primeiro banho de caneca?

-Pronto! - Falei sorrindo. Cadu segurou minha cintura e me beijou enquanto jogava água em nossas cabeças, comecei a rir. - Tá gelada!

-Quem estava reclamando do calor mesmo?

-Eu! - Ele jogou mais água e depois pegou o balde e virou na minha cabeça.

Ele puxou mais água jogando o balde nele e puxou mais. Dividimos o sabonete, nos secam sem tirar as boxers. Cadu ajudou a segurar minha toalha enquanto eu colocava cuecas limpas.

-Não tenho mais bolas! - Falei o fazendo gargalhar.

-Sabe de uma coisa Niko?! - Ele suspirou. - Acho que essa viagem te fez bem!

-Tenho certeza de que sim, mas por que chegou a esta conclusão?

-Você está mais feliz, mais falante e... Descobri que te amo de qualquer forma.

-Mesmo com minhas oscilações de humor?

-Com defeitos e qualidades!

O beijei, e o ajudei a se vestir. Voltamos pra casa de cabelo molhado.

-Ei onde tomaram banho? - Saltou um dos primos.

-No açude! - Riu Cadu.

Entramos no quarto pra terminarmos de nós arrumar. Peguei os dois presentes que eu tinha comprado, uma para Cadu e outro pra minha sogra. Eu os tinha um em cada bolso. Cadu me disse que aqui eles trocam presentes à meia noite, aquela casa estava com tantas pessoas que mal cabiam, todos riam e falavam alto, parecia uma grande família feliz a qual Cadu não se encaixava. Minha sogra me levou até a cozinha e Cadu ficou conversando com o avô dele.

-Experimenta! - Disse minha sogra me dando uma tortinha de frutas, se comia com a boca e o nariz porque o cheiro dela era como comer um jardim de flores doces. -Gostou filho?

-Muito, é um manjar dos Deuses.

-Obrigado, aprendi a fazer com minha avó por parte de pai, ela nunca deu a receita pra minha mãe, e me fez jurar no leito de morte dela que não daria a receita a ninguém da família.

-Ela não gostava da sua mãe?

-Não, eu era pequena quando minha oma ofendeu a minha mama, bem na hora em que minha mama estava fazendo pão com um rolo igual aquele. - Apontou ela. -Era maior e de madeira, minha oma ofendeu minha mãe, e meu filho, ela saiu correndo com o rolo na mão atrás da minha oma que já era velha, quando ela passou pela porta, o rolo quebrou a outra parte que se segura e seguiu com aquele rolo na mão até minha oma entrar num fusca que herdei dela, eu achei hilário e quase apanhei por ficar rindo.

Sorri ao imaginar a cena.

-Deve ter sido engraçado mesmo.

-Minha mama sempre amou as tortinhas e ela nunca deu a receita, mas quando eu ia visitá-la com meu pai, nós cozinhávamos e eu fazia em casa, aí eu ganhei isto e quero dar a você. - Ela me entregou um caderno com capa de couro velho, as folhas amareladas. O abri e dentro tinha receitas, algumas estavam em alemão.

-Eu não posso aceitar isso... É herança de família.

-Você é minha família agora Niko, quero que continue o legado das tortinhas, amanhã vou fazer mais e você vai me ajudar a fazer.

-Obrigado! - Falei a abraçando. - A senhora só tem preenchido algo vazio em meu peito.

-Tá vendo toda essa gente?

-Hurum!

-Só estão aqui porque meus pais estão vivos, quando eles partirem, isso tudo, esse laço vai se desmanchar.

-Isso é triste.

-Apenas os verdadeiros ficarão juntos Niko, eu, você e Cadu somos uma parte, seremos nós três quando meus pais não estiverem mais aqui.

-Vou cuidar da senhora! - Falei tirando o presente dela do meu bolso

-E eu de você... O que é?

-Um presente de Natal.

-Tem que esperar o papai Noel! - Brincou ela.

-A senhora me deu o meu antecipado, nada mais justo que abrir o seu.

Ela abriu e ficou visivelmente emocionada, cobriu a boca deixando as lágrimas correrem.

-Niko?! - Ela me abraçou. - É lindo, e olhe só, é vocês dois, me ajude a colocar!

-Claro, segura pra mim, não quero perder! - brinquei a fazendo rir.

Coloquei a correntinha nela, ficou bem visível com a roupa que ela usava.

-Obrigado meu filho!

-Merece mama!

-Deixa eu guardar essa relíquia, amanhã quando fizermos as tortinhas eu te explico e te devolvo.

-Tudo bem!

Ela pegou duas tortinhas.

-Toma, leva uma pra aquele emburrado lá! - Ela apontou com o queixo. - E não tenha medo de ser feliz, seja natural com Cadu, se eu tiver que sair dando coice em todo mundo por vocês eu dou.

Lhe dei um beijo e entrei na sala, Cadu estava sentado numa poltrona esfregando a ponte do nariz. Sorriu quando levantou o olhar e me encontrou, ainda sentado ele abriu os braços pra mim, quer saber, mama tem razão, sentei-me de lado no colo dele, e coloquei uma tortinha em sua boca.

-Isso aqui é muito bom! - Falei.

-Ei, isso aqui não é motel! - Saltou aquele primo chato dele.

-Não de atenção! - Falei olhando em seus olhos.

-Eu gosto dessa manchinha pequena que tem nesse cantinho do seu olho.

-Sério que tenho? Nunca parei pra observar.

-Deveria, seus olhos são um espetáculo fascinante.

-Isso é uma cantada?

-É uma verdade! - Disse ele segurando minha cintura com mais força pra perto dele. - Algum problema? - Perguntou ele olhando em direção ao silêncio que eu nem tinha percebido.

-Nenhum meus filhos! - Disse mama entrando com uma bandeja de tortinhas.

"-Hummm..."

Então aquelas tortinhas viraram a atração da noite nos deixando em paz.

-Fomos privilegiados de comer as primeiras! - Falei.

-Sempre sou privilegiado em questão as tortinhas da mamãe.

-Eu ganhei o livro de receitas da avó dela. - Sussurrei.

-Não brinca!

-Me sinto tão privilegiado com tudo o que sua mãe está fazendo por mim que as vezes me pergunto se ela não é um anjo.

-Posso te perguntar o que a entidade te falou na terreira?

-Era minha mãe preta, ela só... Eu vi o rosto verdadeiro dela, não o de Anelise, mas da minha mãe, ela disse que o amor não tem erro, e eu escolhi esse caminho.

Lhe dei um selinho e o abracei.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora