Rodrigo narrando.
Engatinhei até Raphael que estava caído de costas, puxei seu corpo e percebi que ele respirava com dificuldade.
Rodrigo: ta tudo bem? - ele estava cerrando os olhos, o balancei - cara, cara, olha pra mim - vi que tinha um furo no pescoço
Raphael: cara - falou com dificuldade - cuida da Amanda
Rodrigo: ce ta doido? Quem vai cuidar é você, mantém o foco em mim - dei alguns tapinhas em seu rosto enquanto seus olhos fechavam, abriu rapidamente, suspirei de alivio
Raphael: valeu por tudo cara - forçou um sorriso - chegou minha hora
Rodrigo: DA PRA ALGUÉM CHAMA UMA AMBULÂNCIA? - gritei olhando ao redor, senti tua mão em meu braço, ele apertou - fica comigo cara - seus olhos foram se serrando até que sua mão que estava em meu braço perdeu a força - cacete cara, acorda porra, acorda - apertei seu peito, senti as lágrimas cairem, sua respiração foi parando com cuido.
Senti a adrenalina queimar meus pulmões, um peso de 3 mil toneladas esmagar meu coração e a consciência pesar. Se eu tivesse segurado aquele maldito filho da puta isso não teria lhe acontecido. Por um momento meu rosto nao ardia mais pelo soco, minha visão que havia sido retomada completamente a pouco tempo atrás turvou novamente pelas lágrimas que ali formavam, elas caiam sobre seu corpo morto, meu melhor amigo, breve inimigo e irmão havia ido embora. Segurei tua camisa com força tentando acordar daquele maldito pesadelo, pesadelo mais filho da puta que alguém podia ter mas quando meus olhos abriram novamente ali estava novamente seu corpo sem vida.
Ouvi algumas vozes de longe e quando me dei conta Jonathan estava naquela sala com alguns seguranças.
Jonathan: o que aconteceu aqui? - sua voz era autoritária e assim que colocou os olhos nos dois corpos sem vida que ocupavam o chão da cabana engoliu a seco - eu não quero algum boato sobre isso circulando por essa merda
Gian: relaxa cara - ele suspirou fundo, sentia o peso tanto quanto eu - vamos leva-lo pro hospital e dizemos que foi bala perdida - ele deu alguns passos a frente, parou sobre o corpo de Olavo - enquanto esse aqui - agora toda a raiva estava concentrada em sua voz - vocês se livram
Jonathan: eu vou mandar prender vocês
Rodrigo: pra policia ativa nos prender? Digo a todos nos pois esse lugar aqui é tão ilegalizado quanto essa cena - levantei reunindo toda a força que me restava, precisava manter a sanidade, pra minha família, pra Amanda que acabara de ficar sem namorado e sem o pai do filho.
Ele ponderou um pouco e olhou para as duas putas que nos acompanhavam. Olhei para as duas que estavam assustadas.
Jonathan: enquanto a elas - apontou - o que vocês vão fazer?
Rodrigo: sem problemas - me aproximei da loira que compartilhara comigo os últimos momentos de Raphael e puxei o celular do bolso - me passa o numero da tua conta
Natasha: eu não faço questão - sorriu de lado
Rodrigo: eu insisto - aqueles olhos penetraram no meu e seus lábios começaram a se mover, entreguei o celular a ela e segundos depois ela devolveu com o numero de celular, olhei novamente e notei que o nome do contato não era Natasha e sim Ana Paula, ela sorriu por satisfeita e me encarou, aquele era seu verdadeiro nome. Me distanciei dela e voltei a realidade.
Carlos: vai atrás de Amanda e Camila que a gente da um jeito aqui - sussurrou - pelo menos tu da um jeito de reunir toda a família e quando estiver tudo pronto eu ligo pra tu
Rodrigo: não quer ir no meu lugar?
Carlos: to sem coragem de encarar ela chapa.
Olhei novamente o corpo de Raphael no chão, agora estava coberto por um lençol estampado velho.Amanda narrando.
Aquela puta da Camila havia me deixado sozinha pra se agarrar com outro. Eu iria matar aqueles garotos. Aquele lugar era praticamente o inferno e aquela demora estava me sufocando. Eu tinha ido no banheiro pelo menos umas 4 vezes e sempre voltava para o mesmo lugar na esperança deles voltarem mas, nada...
Rodrigo: cadê Camila? - senti sua voz atrás de mim, virei e notei que seu rosto estava com um enorme inchaço
Amanda: o que aconteceu com seu rosto? - toquei no mesmo, ele fechou os olhos com força, provavelmente sentiu dor
Rodrigo: eu briguei com um cara folgado, eles ficaram e eu voltei. Raphael pediu pra mim te levar pra casa
Amanda: eles vão demorar muito?
Rodrigo: provavelmente não - olhou ao redor - cadê Camila?
Amanda: a vaca começou a pegar um cara ai e me deixou sozinha
Rodrigo: então bora - ele passou em minha frente deixando a entender com que eu o seguisse. Bruto como antes.
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No caminho todo Rodrigo veio calado de mais, ele evitava meus olhares quando os nossos se cruzavam. Seu rosto estava vermelho de mais e sua face caída de mais, aquilo era estranho.
Assim que chegamos em casa encontramos, na porta Seu José, Dona Silvia e Senhor Antoniazzi. Rodrigo trocou poucas palavras mas logo todos entramos. Os meninos estavam demorando de mais.
Na varanda Paulo conversava com Rodrigo enquanto na sala José, Silvia e Leila debatiam sobre o programa que passava na televisão.