Capitulo 30

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Amanda narrando
3 meses de sofrimento. Os piores 3 meses da minha vida. Havia saido da faculdade e de casa, fui morar com Julia na casa de Rodrigo. Rodrigo... as coisas estavam de mal a pior, ele estava cada vez mais magro e abatido, nossa relação estava abatida, vê-lo daquela maneira me doia, e como doia, o brilho do seus olhos haviam se ofuscado, a penitenciaria que ele chamava de lar era de péssimas condições, eu e Leila revezávamos e ele ainda não sabia de seu pai. Raphael e Julia estavam pior ainda, Raphael era outro, entrara no mundo das drogas novamente e mais crente que sempre. Tudo estava indo por agua a baixo.
Julia: acorda Amanda - gemi e senti a luz que vinha da janela ofuscar meus olhos
Amanda: porra Ju - resmunguei - eu carreguei tanto peso ontem, que horas são?
Julia: 5 da manha - ela sussurrou e me encarou - a comida esta pronta, minha sogra preparou e Raphael vai te levar
Amanda: estou pronta - levantei correndo, entrei no banheiro e tomei uma ducha rápida. Sai vestindo minha calça de tecido e um blusão que eu peguei do guarda-roupa de Rodrigo. Desci, prendi os cabelos com um cordão e me sentei a mesa.
Raphael: bom dia - ele beijou minha testa, sorri e passei manteiga no pão francês
Julia: entra com ela okay?
Raphael: vou tentar - ele me fitou - pronta?
Amanda: não - disse tomando um gole do minha xícara com café puro
Julia: ninguém nunca esta - ela revirou os olhos - são 6 horas - ela olhou no relógio - eu preciso ir, amo vocês e boa sorte - ela sorriu e saiu
Amanda: o que aconteceu? - fitei Raphael
Raphael: é - ele suspirou cansado - eu voltei tarde
Amanda: Rapha, não! Você ta se viciando, perdendo a cabeça!
Raphael: tem como não? - desviou o olhar para o nada - eu pago minhas contas, estou trabalhando e é o que me resta, desde que Rodrigo entrou em cana Julia esta fria, péssima, faz um mês que não transamos
Amanda: não sei nem o que falar - terminei de me alimentar - Rodrigo esta tão...
Raphael: abatido? - me encarou - quem não esta? Ele ve que você sofre e eu falei com ele dia desses, vou te mandar a real. Ele te ama, isso é fato mas te ver frequentar aquele inferno é desgastante
Amanda: eu faço por amor! Meu Deus
Raphael: isso vocês que tem que resolver - pegou as chaves do meu carro e as sacolas recheadas de comida - vamos, esta com os documentos?
Amanda: claro - respirei fundo e fui.
Rodrigo narrando
Na merda. Eu estava na merda. Dormia em uma cela com 10 pessoas a mais que a capacidade recomendada, homens carrancudos e mau encarados. Eu ja não comia nem dormia direito, zumbi humano naquela podridão. Peguei amizade com um senhor, aqui não fazíamos perguntas de quando ou como iríamos parar ali, so vivíamos ali, relembrando o passado e tentando não perder a fé.
- é meu amigo - disse Hugo, o senhor - hoje é dia de visita - concordei com a cabeça - não vai ajudar nada você deixar de comer ou não dormir, daqui a pouco seu julgamento sai e você é transferido para um lugar melhor
- o que me mata é ela vindo aqui - olhei por cima do ombro - nunca imaginei que passaríamos por isso
- ninguém imagina filho - ele deu dois tapas em minhas costas - acha que me orgulho? Que eu gosto de ver minha filha todo final de semana? Imaginando ela passando pela revista, por aqueles policiais imundos - ele fez careta e acendeu seu cigarro, me ofereceu um, peguei e acendi
- ninguém nunca me preparou pra essa realidade - disse com o cigarro entre os dedos.
A gaiola (lugar onde as visitas entram primeiramente antes de entrar no raio) se abriu e uma mulher saiu, elas começaram a entrar pouco a pouco. Meu coração tava na mão, ajudei a filha de Hugo com a sacola de comida até sua cela e assim que voltei para o pátio ela estava na gaiola. Peguei a sacola pesada e coloquei no chão com cuidado, depois a puxei pelas costas e nos envolvemos num abraço forte.
Rodrigo: desculpa - sussurrei e a selei - vamos - peguei a sacola e a levei ate minha cela.
Para visitas havia prioridade portanto o quarto era divido por 4 divisões de lençóis, como aquelas cabaninhas que fazíamos com os lençóis de casa, mas a parte é que você não é mais criança.
Ela sentou no colchão fino e me lançou um olhar um tanto quanto esperançoso, sentei a sua frente e a olhei.
Amanda: e como estava a lasanha ontem?
Rodrigo: tava gostosa - sorri - manda um beijo pra tia
Amanda: ela mandou um pra você - sorriu - estão todos rezando por você la
Rodrigo: obrigado - passei a mão em seu rosto de vagar - você esta tao cansada - a encarei. E de fato, estava, olheiras fundas e sorriso apagado, eu estava fazendo aquilo com ela, eu era o culpado por ela ter largado sua faculdade, seu futuro, sua vida
Amanda: não estou meu amor - ela sorriu, me puxo para deitarmos juntos, passei meu braço e a abracei.
Passamos o tempo de visita todo assim, comemos e ate rimos um pouco, nada de mais mas pra mim era o que me salvava todos os finais de semana. Mas pra ela... todo fim de semana ela estava a casa vez mais triste, não via mais o brilho nos seus olhos. A primeira sirene tocou avisando que o tempo havia chegado ao fim. Ela se levantou e se recompôs, ajeitou a roupa e pegou a sacola vazia. Eu ia fazer aquilo, estava sofrendo de mais e faze-la passar por aquilo tão nova acabava comigo.
Rodrigo: Amanda - segurei sua mao antes dela sair da cabana, a beijei como nunca, apalpei tudo o que eu podia e memorizei tudo o que eu podia, desde seu cheiro a cor dos seus olhos e no fim a envolvi em um grande abraço
Amanda: preciso ir meu amor - ela sussurrou - quer que sua mae traga o que semana que vem?
Rodrigo: eu quero terminar - sussurrei segurando as lagrimas
Amanda: terminar? - ela me encarou - você quer fazer isso agora? Meu amor, nos vamos passar por isso juntos! Eu não vou te abandonar, é uma fase ruim
Rodrigo: fase de quanto tempo? Anos? Eu não sei quanto tempo eu vou ficar aqui e eu nao vou permitir que você se prenda igualmente a mim, você é livre meu amor, livre
Amanda: eu não vou deixa você fazer isso - as lagrimas começaram a cair de seus olhos
Rodrigo: você precisa - sussurrei - por nos. Se eu sair e você ainda me quiser nos vamos ser feliz juntos mas por enquanto não quero isso, dia pra minha mae que eu não a quero aqui semana que vem, não quero visitas
Amanda: você ta sendo um ingrato Rodrigo - ela se mergulhava em choro - eu não vou desistir de nos
Rodrigo: eu ja desisti - soltei sua mão, a ultima sirene tocou, ela limpou as lágrimas e saiu correndo para gaiola. Entrou na mesma, olhou pra trás com o rosto todo molhado. Foi a ultima vez que eu iria ve-la, memorizei aquilo também.

Quase sem pararOnde histórias criam vida. Descubra agora