Capitulo 32

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Rodrigo narrando
O que eu significava no mundo? Do que valeu todas aquelas aventuras? Toda aquela carga? Vim parar numa jaula cheia de animais iguais ou piores a mim e o que mais me corroía era o fato de eu não estar envolvido neste baralho.
Era dia de visita, sabado pra ser mais exato. Ja tinha combinado com Hugo de dividir a comida, ele mesmo me oferecera.
Sentei em uma caixa que virara banquinho, puxei um maço de cigarro do meu bolso e puxei um cigarro, acendi, traguei e soltei a fumaça me ligando na amarga sensação de solidão. Via as mulheres de todas as idades, crianças e até alguns homens de fora para ver seus entes encrencados e agora, aquilo era meio de mais. Levantei apagando o cigarro recém aceso, me virei pra afundar a bituca no cinzeiro quando uma mão pousou em meu ombro, me virei novamente pensando em minha mãe mas percebi que não era ela, era um cara de 1,90 de altura, cabelos e olhos parecidos com o meu, um pouco mais velho do que eu lembrava.
Rodrigo: é alguma brincadeira? - examinei bem seu corpo e toquei em seu braço, ri de nervoso - quem é você?
- seu pai - sorriu - Paulo, se lembra?
Rodrigo: me lembro dele morto, me lembro das noites que eu perdi chorando por você
Paulo: não me julgue dessa forma - ele mostrou a sacola - trouxe comida, temos uma tarde toda pra conversar - sorriu
Rodrigo: me casa - olhei para a minha cela - és tu casa
Entramos e eu consegui uma cabana para nos. Eu ainda não acreditava.

Amanda narrando
Julia ja havia ido embora sem se despedir de ninguém, Raphael chegou ao fundo do poço, havia sumido a uns 2 dias. Carlos e Gian estavam sua procura desde ontem e nada de acha-lo, aquilo estava me deixando aflita.
Carlos: não achamos - disse entrando na sala, levantei na hora e o encarei
Amanda: como assim? Existem quantas biqueiras?
Gian: 8 e ja fomos em todas
Amanda: não é possível - passei a mão no rosto - meu Deus, me tira desse inferno
Carlos: como sera que esta Paulo e Rodrigo?
Amanda: mais uma coisa pra me preocupar - lancei um olhar triste e subi, senti que Carlos me seguia. Entrei no quarto de Rodrigo e sentei na cama.
Carlos: vamos embora desta casa, isso não te faz bem!
Amanda: me deixa - respirei fundo olhando para a janela
Carlos: não Amanda! Vamos, eu te ajudo a arrumar as suas coisas e você volta pra casa de Tales, pra sua faculdade
Amanda: você acha que eu tenho cabeça pra voltar pra faculdade?
Carlos: deveria pois é o seu futuro em jogo e você esta jogando ele fora por isso? Pensa garota, se reergue, veja Julia, ela meteu o foda-se e foi viver a vida dela
Amanda: não me compara a ela!
Carlos: não estou dizendo pra fazer igual mas pra seguir ou é isso ou eu vou conversar seriamente com Tales e Claudia e você volta para o Sul
Amanda: nunca
Carlos: então vou te ajudar - ele abriu o guarda roupas, respirei fundo
Amanda: antes eu preciso fazer uma coisa - respirei fundo e sai.
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Parei meu carro na frente do túnel, aquele lugar andava mais animado que o beco e onde há muita movimentação a drogas e provavelmente Raphael. Tirei o sinto e sai, entrei no mesmo e vários lugares possuíram meu corpo, aquele lugar era nojento e a musica era ensurdecedora. Sentia mãos passando em meu corpo enquanto eu avançava mais para dentro, respirei pela boca me sentindo enojada por me colocar aquilo, passava meus olhos por todos os cantos a esperando algum sinal dele mas nada.
Avistei algumas mesinhas, pensei em sentar mas percebi que cada uma dela havia uma prostituta, afirmei mais meu passo a ter dar de frente com alguém, seu rosto era familiar.
Jonathan: veja só - abriu um sorriso - é a princesinha de Rodrigo
Amanda: Raphael esta aqui?
Jonathan: você é rápida ein, não deu certo? Sexo na cadeia é tão ruim assim?
Amanda: por favor, responda - cuspi aquelas palavras
Jonathan: ali - ele apontou para um canto, bem naquelas mesinhas uma prostituta ruiva dançava para Raphael, ele estava horrível, fui me aproximando até parar bem perto e ver aquela cena de perto.
Raphael estava acabado, magro e frio, sem expressão e quando seu olhar parou no meu vi que aquele brilho que ele tinha havia sido tomado por toda a tristeza.
Raphael: o que você esta fazendo aqui? - dispensou a prostituta e ficamos frente a frente, ele fedia a pinga
Amanda: me preocupando - disse pegando em sua mão gelada - vamos pra casa?
Raphael: eu não quero voltar, minha vida esta aqui agora
Amanda: transando com prostitutas que podem ter uma doença? Cheirando até você se sufocar e morrer na própria armagura? Vai acabar assim? Eu entrando em depressão e você morrendo nas suas próprias escolhas?
Ele se calou, segurei firme sua mão e sai puxando-o dali.
Raphael: perai - ele puxou Jonathan que estava em nossa direção - nossa corrida ainda esta de pé
Jonathan: tem certeza? Olha teu estado
Raphael: so me garante que ele vai estar lá
Jonathan olhou de rabo de olho para ver se alguém os observava
Jonathan: o acordo esta de pé ainda?
Raphael: nunca morreu - sorriu cinicamente, passou em minha frente e agora quem me guiava para saída era ele.

Rodrigo narrando.
Rodrigo: então tudo aquilo era pra nos proteger?
Paulo: aqueles caras queriam matar todos do beco, e são mais perigosos do que parecem
Rodrigo: minha mãe sabia?
Paulo: no começo ela não sabia mas um dia eu telefonei
Rodrigo: por que voltou agora? Não corremos os mesmos riscos?
Paulo: sua mãe seguiu com outro cara, você era o que eu mais temia e agora esta aqui
Rodrigo: obrigado - disse sem pensar - por avisar a todos que eu estava aqui
Paulo: você vai sair cara - colocou a mão em meu ombro - vamos provar sua inocência e tudo vai estar bem, mantém as esperanças
Rodrigo: como?
Paulo: estamos bolando um plano, não vou lhe contar pois é arriscado
Rodrigo: sim - sorri de lado - como andam as coisas lá?
Paulo: sua prima foi para o exterior
Rodrigo: pra tal faculdade la? E Raphael?
Paulo: terminaram, Amanda arrumou um barraco na sua casa por causa disso - Parei e o encarei, lembrei de nosso ultimo beijo - ela ta mal mas Carlos ta dando um jeito
E a sirene toca.
Paulo: aproveita a comida ai amigão, quer que eu volte? Mande alguma coisa?
Rodrigo: so me manda um Jumbo por sedex de 15 em 15 dias - o abracei com força - saber que você esta vivo me ajudou muito
Paulo: fico feliz que você não tenha raiva - ele me apertou mais e nos largamos - fica com Deus. Ele saiu.

Raphael narrando
Eu estava na merda. Não na completa merda pois desfrutei de meu vicio para me aliar com Jonathan e fazer com que nosso plano seja mais que perfeito. Cheguei em casa junto com Amanda, muitas perguntas eles fizeram mas não respondi alguma e subi para um banho, comi e depois dormi.
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Gian: acorda seu bosta - ele estava em cima de mim batendo em minha cara - vai ou, daqui a pouco tem beco
Raphael: que horas? - murmurei virando o empurrando pra fora da cama
Gian: dez da noite
Raphael: ja? - abri os olhos e o encarei, o quarto estava escuro.
Foi então que ele saiu e eu fiquei sozinho. Respirei fundo e tomei outro banho pra tirar aquele ar de preguiça, vesti qualquer coisa e sai do quarto. Parei no antigo quarto de Julia, a porta estava entre aberta e Amanda estava sentada na cama olhando pro chão.
Raphael: pensei que ja tinha abandonado essa casa
Amanda: ela não me deixa ir - não tirou os olhos do nada
Raphael: vai pro beco conosco?
Amanda: qualquer hora eu apareço por la - sorriu de lado e se levantou - tenho que ir pra casa cuidar da minha vida
Raphael: gostei de ouvir isso - soltei a maçaneta e me apoiei no batente da porta
Amanda: vou passar um tempinho na casa dos meus pais, rever meus amigos e quem sabe até recomeçar a faculdade la.
Um aperto tomou meu coração.
Raphael: vai me deixar tambem?
Amanda: você quer vir? - ela me fitava por cima, seu olhar neutro - vamos, temos que dar um tempo dessa situação, tanto eu quanto você
Raphael: tenho coisas a fazer - me referi a Rodrigo
Amanda: mas tem coisas a se perder também.
Raphael: vamos ver - me aproximei e beijei seu rosto - amanha a gente conversa.
Sai e desci correndo. Dona Leila e Paulo conversavam na sala de televisão, dei apenas um boa noite e segui para garagem onde estava Gian e Carlos.
Raphael: esta tudo combinado, Olavo vai estar por lá, Jonathan vai ganhar no nosso territorio mas vocês vão me garantir que tudo estara certo
Gian: alguns homens já estão por la, seu pai fez questão
Raphael: então bora - montei na moto e segui meu caminho.
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Estava tudo certo. Fiz uma falsa insinuação de convocar Jonathan numa falsa briga para uma falsa corrida. Ele topou.
Estávamos em cima de ambas as motos, uma mulher com poucas vestimentas segurava um lenço rosa, rebolava enquanto contava e no meio da multidão ao nosso redor pude ver o sorriso falso e estrangeiro de Olavo. O lenço desceu e meu pulso torceu pra frente. Eu sai em primeiro lugar, o deixaria vencer mas não perderia humilhantemente. Em minha cabeça pedaços de memórias de momentos com Rodrigo passaram, de Julia, de repente essas memórias do Rodrigo, Julia se transformaram em apenas uma, Amanda. No mesmo instante cruzei a linha de chegada segundos depois de Jonathan, ele havia ganhado e Olavo tão pouco meus amigos não estavam mais la.

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