Rodrigo narrando.
Tudo o que eu via em minha frente era aquela porta. Nunca fui de criar muitas esperanças, só que eu podia sentir a felicidade voltando aos poucos, minha felicidade tinha nome, e era ela quem eu esperava que abriria a porta.
A porta se abriu.
Respirei fundo, soltei um puta sorrisão, eu ainda tava sobre o efeito da balinha, da bebida, da maconha, de toda a merda que eu tinha feito naquela noite.
Amanda: Rodrigo? - teu sussurro me despertou dos batimentos rapidos, a puxei pela cintura, aquela mina era perfeita e tudo voltaria ao normal.
Rodrigo: eu sabia que a nossa história não tinha acabado - a garganta apertou, aproximei meu rosto do dela, mas o que beijei não foi teus lábios e sim seu rosto. Olhei sem entender.
Amanda: precisamos conversar serio - ela se esquivou de minhas mãos e segurou minha mão - e acho que agora não é uma boa hora
Rodrigo: e por quê não?
Amanda: olha seu estado
Rodrigo: estado de trouxa? - desencostei do carro - essa tua descida aqui - falei baixo - não é um sim a minha pergunta né
Amanda: eu não posso - disse no mesmo tom
Rodrigo: por que não pode, Amanda? O que te impede?
Amanda: você sabe muito bem o que me impede!
Rodrigo: Raphinha não é um motivo pra tu me dar um toco, a quanto tempo nós estamos nessa? Hoje eu tomei a coragem de anos pra dizer estas coisas
Amanda: você só tomou essa tua coragem porque ta bêbado, e não é pelo meu filho
Rodrigo: é por quem então mano?
Amanda: Raphael - ela sussurrou - eu sinto como se eu tivesse o traindo. Desculpa Rodrigo, eu não consigo.
Rodrigo: ja entendi - meu sangue começou a correr rápido nas véias e a adrenalina tomou conta de mim - o zoado é que quando vocês se pegaram naquela época, que eu tava todo fodido e preso tu não pensou nisso, era normalzão talaricar o trouxa aqui
Amanda: não se faça de vítima Rodrigo - ela olhou pra cima e depois pra mim - éramos jovens, inconsequentes, eu estava apaixonada
Rodrigo: meu Deus cara - me afastei dela - e tu não ta apaixonada por mim? Vejo nos teus olhos isso Amanda
Amanda: se eu dissesse que não sinto mais nada estaria mentindo - ela tomou outra postura - mas eu nao estou apaixonada. Não tenho mais estruturas pra aguentar alguém como você, que me trás tantas lembranças de uma pessoa que eu sinto tanta falta e que vejo todos os dias quando olho pro meu próprio filho. Então não Rodrigo, não estou apaixonada por você.
Rodrigo: sai desse teu passado. Raphael deixou de existir no presente a muito tempo.
Amanda: só pra você - ela gritou
Sentei no meio fio e fiquei fitando o asfalto. Inacreditável como ela parecia ter superado a muito tempo e agora ela simplesmente despeja toda a saudade em cima de um não. Nós nunca conhecemos as pessoas de verdade.
Eu não estava sentindo nada, não conseguia, tudo o que vinha em minha mente era a imagem de Raphael. Percebi que Amanda ainda estava parada, porém com a cabeça baixa.
Não poderia ficar ali a vida toda.
Rodrigo: pra onde foi todo aquele amor que tu dizia ter? - disse serio
Amanda: eu não sei -ela levantou a cabeça e pude ver tuas lágrimas - eu não sei onde eu estou, nem quem eu sou, ou o que fazer. Eu só sei que juntos nós não vamos ficar - ela seguiu em direção a porta
Rodrigo: isso aqui nunca aconteceu, valeu? - falei antes que ela chegasse a porta, ela parou em frente da mesma e virou
Amanda: tarde demais, sou ser humano, não sei não fingir
Rodrigo: man - abaixei a cabeça e em seguida levantei - vai se foder Amanda, na moral
Ela entrou em casa. Eu tava puto pra caralho.Entrei no carro, puxei o maço cigarro semi- aberto, coloquei o mesmo na boca e acendi, dei partida no carro e sai arrancado.
Amanda narrando.
Assim que fechei a porta, encostei na mesma e fechei os olhos. Não sei se era o melhor pra mim, mas era o certo a ser feito. Não podia embarcar em uma de paixão, não quando se tem um filho de um amor não superado, tudo parecia tão pequeno perto de tudo o que eu vivi perto de Raphael, mesmo que fosse pouco, eu ainda o carregava todos os dias de minha vida.
O LUTO não havia acabado.
Raphael: mamãe? - olhei para frente, Raphinha estava na escada
Amanda: o que faz acordado a essa hora? - fui até ele, o peguei no colo
Raphael: eu que te pergunto - ele deitou a cabeça no meu ombro - ouvi a voz do tio, ele tava aqui?
Amanda: sim - sorri - veio dizer que te ama muito - fui subindo as escadas
Raphael: por que não me chamou?
Amanda: você estava dormindo, não queria acordar - o coloquei na cama
Raphael: mas é o tio Rodrigo
Amanda: ja foi agora, tenho certeza que ele vai te dizer muito que te ama ainda
Raphael: aham - murmurou enquanto deitava a cabeça no travesseiro - mãe, eu te amo
Amanda: eu também te amo filho.