•Aproximação•

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Após o discurso do Führer e o meu breve encontro com Roger, eu me dirijo para os meus aposentos e permaneço em meu quarto refletindo sobre tudo o que Hitler havia dito sobre os judeus, nada daquilo fazia o menor sentido e ele apenas tentara encontrar uma desculpa coerente para dar à população sobre o motivo pela qual queria exterminar com a raça judia.

Suas palavras eram uma mentira, ele não estava fazendo aquilo pela população e não somos uma família como ele dissera, nunca seremos uma família, eu me recuso a fazer parte da família desse cretino idiota.

Ouço batidas na janela, e vou até a mesma, sorri ao ver Roger, abro a mesma e o ajudo a entrar.

-não é arriscado você vir aqui durante o dia?- fecho a janela atrás de nós e puxo a cortina.

-não me importo, queria te ver- o mesmo sorri e suas bochechas ficam levemente coradas, até então não havia percebido o quarto Roger era um ser adorável, mesmo que ele tentasse passar essa falsa impressão de assassino malvado, eu conseguia ver a bondade em seu coração.

-posso lhe oferecer algo?-

-por hora não, mas se quiser fazer algo por mim, pode colocar a música que colocara no dia em que eu invadi sua casa?- questionou, me fazendo soltar uma leve risada com seu comentário.

-certamente que sim- me dirijo até a cômoda ao lado da minha cama, em que ficava o aparelho de vinil, procuro o disco e coloco o mesmo para tocar
-pronto-

-está perfeito- Roger sorri mais uma vez, tirando uma mecha de seu cabelo loiro dos olhos e colocando-a atrás da orelha.

Sento em minha cama, e faço um sinal para ele vir se sentar ao meu lado.

-obrigado, e Brian gostaria de me desculpar por ter desconfiado de você aquele dia, eu estava com medo- Roger abaixa a cabeça, mas eu seguro em seu queixo delicadamente e levanto o mesmo.

-eu sei como se sentiu Roger, e não o julgo pois como eu disse aquele dia, você tem todos os motivos para desconfiar, na verdade não deve confiar em ninguém nessas circunstâncias, fico surpreso que confie em mim-

-eu confio em você pois me deu motivos para isso- sorri com a sua fala, e o mesmo sorri de volta para mim.

-se me permite perguntar, onde passa as noites?- percebo o seu desconforto com a minha pergunta, e me senti um pouco invasivo -desculpa, eu não queria...-

-tudo bem Brian, pode perguntar, eu...- ouço-o suspirar melancólico -eu vivo nas ruas Brian, de barraco em barraco, de caverna em caverna, não posso me estabilizar muito tempo em um lugar, os soldados estão a todo o vapor caçando judeus fugitivos-

Não sabia se esse era o momento certo para tal, mas puxo seu corpo para perto do meu e o abraço, mas Roger não recua como pensei que faria, pelo o contrário, o mesmo me abraça forte e percebo que ele se desfaz em lágrimas, meu coração dói ao ouvir ele chorar.

-shii Roger, tudo isso irá passar, eu prometo- senti seus braços envolvendo meu corpo igual eu havia feito com o seu, e o mesmo chora em meu ombro.

-é muito difícil Brian, é horrível ser desprezado por todos e caçado apenas por ser algo que você é, faz parte de mim- ouvir sua voz chorosa me deixou com o coração apertado, eu entendia sua dor, e sabia o quanto era difícil para ele suportar tudo aquilo.

-eu sei que não é fácil para você e nem para ninguém Roger, eu sei a situação pela qual está passando, mas admiro sua coragem de caçar soldados nazistas, isso é muito perigoso para você, e mesmo assim você se arrisca, eu me preocupo com você...-

Só ai percebi o que eu disse.

-você... você se preocupa comigo?- vi o brilho em seu olhar, e aquilo me deixou mais feliz.

-sim Roger, eu me preocupo com você- sorri para ele, e o menor sorri em seguida.
-eu sei como se sente e sei que no fundo está com medo de ser pego, mas eu não vou deixar isso acontecer.

-como vai fazer isso Brian?- questiona Roger, me fitando com aqueles olhos azuis que realmente eram adoráveis.

-eu... eu vou te proteger- respondo-o baixinho, com a voz quase inaudível.

-mas você sabe que não poderá me proteger para sempre, não sabe?-

-poderei sim, nem que eu morra tentando- fito a janela coberta pela cortina, procurando por algum buraco ou abertura, que me proporcionasse a visão de fora.

-você faria isso por mim?-

Eu faria isso por ele?

Durante todos os meus anos de vida, eu encontrei apenas uma pessoa pela qual me sacrificaria, pela qual daria minha própria vida e protegeria até o último segundo.

Infelizmente a guerra tirou essa pessoa de mim, a levou para longe e para um local na qual eu jamais poderei alcançá-la. Eu sentia sua falta todos os dias que se passavam, com o tempo aprendi a superar, mas não o esqueci, ele ficará para sempre em minha memória, jamais o esqueci e acho que nunca seria capaz disso.

Não era por nada que eu sentia tanta raiva do Hitler, não apenas ele matou e ainda estava matando milhares de judeus, como tirou de mim o rapaz que roubou meu coração, o amor da minha vida.

Minha vida sem ele ficara vazia e cinzenta por um longo tempo, chorei muito e também quase me deixei levar inteiramente pela tristeza de uma vida sem ele.

Se eu tivesse chegado apenas alguns minutos mais cedo, poderia ter sido evitado e talvez hoje ele estaria aqui comigo, infelizmente não foi isso que aconteceu e ainda me culpo por isso.

Mas eu precisava seguir em frente, se não em pouco tempo seria consumido inteiramente pela tristeza e acabaria igualmente sem vida.

Mas ao olhar para Roger, eu sentia algo novo, sensações novas invadiam o meu peito, deixando-me diferente em relação a ele.

Respiro fundo.

-sim, eu faria isso por você Roger-

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora