•Saudades•

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Pov Brian:

Os dias na prisão eram exaustantes e sempre iguais. Já fazia uma semana que estava na prisão e a minha saudade do Roger apenas aumentava, além da minha preocupação pois não sabia se ele havia conseguido sair vivo daquele lugar, não sabia se ele havia conseguido fugir. Tento acreditar na hipótese que ele tenha fugido e se escondido em algum lugar seguro, pois se os guardas o acharem, o matarão sem pensar duas vezes.

Sinto que falhei na minha missão, prometi a ele que o protegeria de todo o mal e que nunca sairia de perto dele, mas infelizmente descumpri essa promessa, não estou ao seu lado agora.

Estava bem longe disso, agora mesmo estava trabalhando no campo para prisioneiros.
Me partia o coração fazer esse trabalho, não por mim, mas pelos pessoas que o estavam fazendo. Haviam dois idosos na mesma ala que a minha, trabalhando forçados, exaustivamente, e a cada segundo ficando mais cansados.

Sinto que as minhas pernas poderiam vacilar à qualquer momento, então paro um pouco para descansar, mas logo ouço uma voz me repreendendo, porém não era uma voz de soldado.

-ei, meu jovem! Volte ao trabalho, lhe matarão se o virem parado, sei que está difícil mas é sua vida que está em jogo- virei para lado discretamente, e vejo um senhor idoso trabalhando com a pá.
-sim, eu lhe chamei-

-o senhor não está cansado de trabalhar? Este não é um trabalho para uma pessoa da sua idade- falo baixo, enquanto colocava as pedras soltas em um monte com a ajuda de uma pá.

-cansado eu estou, porém a minha vida é que está em jogo, não posso parar, sei que não me resta muito tempo de vida, porém não quero perder o tempo que ainda tenho- o mesmo sorriu de lado, continuando o trabalho, porém não deixava de conversar comigo -ainda tenho esperança de ver o fim da guerra-

-por que o senhor está aqui?- questiono, enquanto levo um saco de areia ao monte, era um trabalho muito pesado e exaustivo, minhas costas já estavam muito doloridas e o sol escaldante em minha testa deixava tudo mais difícil, porém decidi seguir o conselho daquele sábio senhor, e não me deixar levar, precisava lutar, eu tenho objetivos logo que sair daqui, e um deles é encontrar Roger.

-sou um veterano de guerra meu filho, porém eles me consideram como um traidor da pátria- falávamos baixo e apenas estávamos perto, pois havia desmasiado risco dos guardas nos pegarem.

-estou na mesma situação- sorri levemente, eu não estava sozinho nessa, tinham mais pessoas que estavam dispostas a ajudar os judeus, porém foram pegos, infelizmente.

Nos calamos por um tempo pois um guarda começou a patrulhar os trabalhos dos presos, batendo em quem não o estava exercendo direito.
Engoli um seco, e fiz o meu trabalho melhor possível, estava muito fraco pois eles não nos davam muito alimento aqui, e também devido à insolação e ao trabalho exaustivo ao qual eramos submetidos, se apanhasse, provavelmente não sobreviveria por muito mais do que algumas horas.

Pela primeira vez eu pude sentir na pele o que os judeus passam, eles passam fome, frio, sede, e precisam continuar trabalhando pois senão são mortos... e saber que de certa forma eu fui cúmplice por todo esse sofrimento dos judeus, me faz sentir nojo de mim mesmo.

Na prisão eu estava recebendo apenas uma refeição por dia, as vezes nem água recebia e se recebia era em pequena quantidade.
A comida parece que eles deixam estragar antes de dá-la a mim, pois tinha um sabor horrível e a água parecia que vinha do esgoto, pelo cheiro você poderia identificar isso.

Porém eu comia apenas o que era menos estragado, e a água tomava apenas alguns goles pois senão morreria seria de fome e sede, sei que não iria durar muito tempo aqui se não me alimentasse, mesmo que fosse com as coisas nojentas que eles me davam.

-o senhor é muito novo para estar em um lugar como esse, espero que logo saia o seu julgamento e que seje inocentado- diz o homem idoso, carregando um saco de areia que parecia ser pesado demais para sua frágil idade, portanto fui ajudá-lo com a carga.

-eu digo o mesmo do senhor, lhe desejo sorte- o homem apenas suspirou.

-agradeço-

continuamos a trabalhar exaustivamente, não via as horas passarem e nem sabia que dia era, porém suponho que era sexta feira pois os guardas estavam mais agitados, ansiosos para tirarem uma folga do serviço.

Algum tempo depois, um guarda entra na cela e grita para nos irmos dormir.
Me dirigi até o pequeno beliche que dividia com outra pessoa, subi para a cama de cima e respiro fundo, tentando pegar no sono, porém era inútil.

Foi só ai que percebi, eles estavam fazendo a mesma coisa que faziam com os judeus, trabalho forçado, toque de recolher e não dar comida o suficiente. Eles queriam que nós sentissemos sujos e humilhados igual os judeus estão sendo.

Era nesse horário, quando todos estavam dormindo, que eu pensava em Roger. Bom eu pensava nele a maior parte do dia, só que era nesse meio tempo que os pensamentos se intensificavam e as lágrimas insistiam em cair, sentia muita saudades daquele anjo dos cabelos dourados, porém o que mais me assombrava era a possibilidade de que ele estivesse em um campo de concentração nesse momento, ou pior, não estar vivo.

Não era da minha natureza rezar, porém fiz uma breve oração pedindo pela proteção de Roger que era a única pessoa pela qual eu tinha que pregar no momento, era a única coisa que poderia fazer por ele.

Não consigo terminar toda a oração, pois o dia foi tão exaustivo que logo acabo pegando no sono naquele colchão desconfortável.

Apenas não sei se estou pronto para vivenciar o mesmo amanhã, e sei que todos os dias eles irão pegar um pouco pior até você morrer de cansaço.

Apenas gostaria de dizer a Roger que eu o amo, uma última vez.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora