•A carta•

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Na manhã seguinte, acordo com o sol batendo em minha face, olho para baixo e vejo Roger adormecido em meu peito, e logo lembro do acontecimento da noite passada.

Não sei se havia sido certo beijá-lo, quanto mais eu pensava nisso, mais me convencia de que havia ido rápido demais, não nos conhecíamos a um mês e já havíamos dado esse passo, talvez tenha sido o medo de que sejamos separados de repente.

Mas eu prometi proteger a Roger, e não irei quebrar minha promessa, não irei falhar com ele.

-Brian...- ouço sua voz e olho para o meu peito, onde o loiro estava deitado.

-bom dia Roger- beijei sua testa e sorri -você dormiu bem?-

-dormi sim- ele sorri de volta e levanta
-você é um ótimo colchão- me permiti rir com a sua fala, e levanto do chão terroso.

-vou considerar isso como um elogio estranho, obrigado- ambos rimos, e Roger se pôs de pé também.

-acho que está na hora de irmos- ele faz um biquinho e cruza os braços.

-eu não quero... Estava tão bom aqui- dei risada e chego perto de si, selando nossos lábios.

-eu sei, também gostaria de ficar, mas realmente temos que ir- passo a mão pela minha vestimenta, limpando a mesma dos restritos de terra. -vamos?- estendo a mão para ele, e Roger encaixa sua mão na minha.

-vamos- o loiro me puxa para voltarmos a trilha, e começarmos a correr.
Igual ao trajeto que fizemos na ida.

Em pouco tempo chegamos na cidade, e fomos seguindo o caminho com cuidado para não sermos vistos, até a minha casa.

-olha Brian, uma carta- Roger aponta para o piso próximo à porta da residência, onde havia um pedaço de papel ao chão, pego o mesmo, abro a porta de casa e entro na mesma com o Roger.

Olho mais detalhadamente para a carta, e a mesma havia o símbolo nazista.

-o que houve Brian?- percebo seu olhar apreensivo e preocupado, possivelmente ele percebera que havia algo me preocupando.

-é uma carta do governo- respiro fundo, e abro a mesma, retirando do envelope, o papel com o conteúdo.

-pode ler em voz alta?- Roger senta-se no sofá, e foca sua atenção inteiramente em mim.

-claro- limpo minha garganta, e me pus a ler.

-caro Sr. May, é um imenso prazer estar mandando esta carta para o senhor, infelizmente não tivemos a melhor impressão um do outro, por favor peço que me perdoe pelo mal entendido de quinze dias atrás, gostaria de tirar isto à limpo, então decidi convocá-lo para uma conversa particular em meu gabinete na Alemanha, para esclarecermos esta questão, e outros assuntos na qual gostaria de conversar com o senhor, também tenho uma proposta para oferecer ao senhor, e espero que aceite a mesma, espero sinceramente que aceite o meu convite para esta conversa, dia 20 de Maio.

Desde já agradeço. Cotersialmente, Adolf Hitler-

-mas é amanhã- arregalo os olhos ao ler a carta -certeza que ele quer me matar! Ele apenas está fazendo um joguinho, mas irei chegar lá e ele estará me esperando com um revólver apontado para mim, ou com uma faca em mãos!!!- começo a tremer olhando para a carta em minhas mãos.

-calma Brian!!- Roger vem até mim e segura em meus ombros -olha, eu sei que você está com medo e assustado, não vou mentir, eu também estou.
Mas você não pode tirar conclusões precipitadas! Mantenha a calma ok? Deve ser apenas uma conversa básica-

-conversa básica Roger?- encaro ele -depois de eu ter encarado e debochado dele você vem me dizer que é uma conversa básica??! Ele com certeza quer se vingar- eu estava aos prantos, mas Roger me supreende ao avançar em meus lábios e iniciar um beijo, que me acalmou.

-está mais calmo?- ele sorri para mim, e senta em minhas pernas.

-estou sim, obrigado Rog- abraço sua cintura, e o mesmo começa a fazer um cafuné em meus fios.

-vai dar tudo certo Brian, talvez ele apenas queira conversar pois todos estão fartos dele e não querem mais papo- ri do seu comentário e pouso minha face em seu ombro.

-é, pode ser sim. Mas mudando de assunto, você quer tomar café?-

-adoraria- Roger sorri para mim, e nos dirigimos até a mesa da cozinha.

Mais uma vez, ficamos conversando sobre tudo, mas o que predominou a conversa dessa vez foi o motivo pela qual Hitler queria conversar comigo.

Não nego, estava sim com medo e assustado, tudo poderia acontecer, deveria estar pronto para tudo.

Roger passou a manhã e a tarde inteira comigo, me fazendo companhia já que hoje optei por não ir trabalhar e ao escurecer, Roger opta por voltar para seu esconderijo, pois amanhã eu sairia cedo para a minha viajem até a Alemanha, provavelmente os soldados viriam me buscar, e me acompanhariam o caminho todo no trem.

Acompanho o mesmo até a porta, e abro a mesma.

-me deseje sorte para enfrentar o dia de amanhã- ele ri com a minha fala, e me empurra para a parede, colocando uma perna ao lado do meu corpo empurrando meu peito contra o muro.

-boa sorte, May- ambos rimos e o loiro avança em meus lábios, beijando-os vorazemente.

-ta tão necessitado assim é?- mordo meus lábios, provocando-o e Roger me encara com deboche.

-talvez, mas vamos ter que deixar para outra hora. Tchau Bri, até mais- ele sela nossos lábios e pula o muro de tijolos, desaparecendo na escuridão.

Entro em casa e tomo um banho não tão demorado, escovo meus dentes, e faço minha mala pois não saberia quanto tempo iria ficar na Alemanha, ainda tendo em pensamento como seria o dia de amanhã, tudo poderia acontecer, eu não sabia o que esperar, estava assustado, mas Roger havia conseguido me acalmar um pouco e não estava mais tão apreensivo como estava na hora em que recebi a carta, mas mesmo assim...

Mesmo assim estava com medo, era do Hitler que estávamos falando, o assassino de milhares de inocentes, judeus, pobres, negros, lésbicas, gays e outras raças diferentes da dele. Ele seria capaz de tudo

Bom, eu não sabia o que esperar daquele encontro, espero ao menos sair vivo de lá.

Termino minha mala, colocando roupas de frio, vários casacos, blusas de lã, calças de abrigo, botas, e um sobretudo que eu tinha, coloco tudo em minha mala, e fecho a mesma, colocando-a ao lado da minha cama.

Após ter feito minha bagagem, me aconchego no conforto da minha cama, me cubro inteiramente e deito minha cabeça no travesseiro, tentando dormir e relaxar a cabeça.

Precisaria estar relaxado e calmo para o dia de amanhã, não sabia o que me esperava.

Opto por fazer uma oração rápida, e pensar em coisas boas, até cair no sono.

Naquela noite, eu não tive sonhos.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora