•a vida no campo•

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Meu nome havia sido costurado em três uniformes "Brian H. May - soldado" juntamente com o símbolo da patente.

Após ter tirado um tempo para mim na cabana, o sargento veio me chamar para ditar as regras do campo, e explicar o meu trabalho aqui.

Como o trabalho de todos aqui, o meu consistia em matar judeus.

Eu seria o responsável por levá-los ao destino final, ou seja, a câmara de gás onde morreriam intoxicados pela substância tóxica que era posta no cano que levava o ar à câmara.

Após isso, os soldados entram na câmara e retiram do seu interior todos os corpos, amontoando-os em uma pilha e em seguida colocando fogo nas vítimas, por essa razão sempre havia um cheiro horrível de carne queimada exalando pelos ares daqui.

-entendeu May?-

-sim senhor- fico em posição de sentido

-ótimo, bom ao trabalho- o mesmo se afasta, e eu vou até o cercado em que os prisioneiros eram mantidos, pego em mãos uma planilha, e chamo os prisioneiros pelos números que eram tatuados em seus braços logo que chegavam no campo.

Aqui, os prisioneiros deixavam de ter nomes e agora eram identificados por números que eram estampados em seus corpos.

- 17, 217, 90, 145, 22, 18, 92, 126, 20, 15 e 9 venham aqui!- leio na planilha e vou chamando os prisioneiros.

Todos os chamados levantam-se rapidamente e vem até mim.

-formem uma fila indiana e venham comigo- meus olhos já estavam marejados, eu iria matar todas essas pessoas, que aqui,  não eram nada mais que números.

Os judeus formaram uma fila e me seguem até um portão de ferro, dois guardas abrem o mesmo e empurram os prisioneiros para dentro da sala.

-tirem a roupa!!!- saio da sala, e subo em uma escada de ferro até o topo da câmara, coloco uma máscara de gás, abro o compartimento em cima e despejo um pó na abertura que levava o ar até a câmara, fecho a mesma, tiro a máscara e desço.

Alguns minutos após isso, eram audíveis gritos desesperados do interior da câmara, me mantenho firme mas a minha postura já estava desabando e uma vontade de chorar abrangiu meu peito.

Saio correndo dali e me escondo na minha cabana, desabo ao chão e me pus a chorar. Não havia perdão para mim, não havia perdão para todas as coisas ruins que havia feito desde que cheguei ao campo.

Ouço uma batida na porta e em seguida, Freddie entra na cabana e se pôs ao meu lado.

-Brian... eu sinto muito-

-eu matei elas Freddie... eu matei essas pessoas!- limpo minhas lágrimas com a manga da farda. -eu vou para o inferno, não há perdão para mim-

-olha eu sei como você se sente, eu me sinto da mesma forma, mas ou você mata ou você morre, aqui ou você é a presa ou o caçador é questão de vida ou morte Brian-

-eu sinto falta dele- ao lembrar de Roger as lágrimas começam a cair sem controle, não consegui pará-las. -eu sinto sua falta, eu perdi o amor da minha vida...-

-como ele era? E como era seu nome?-

Sentei na beirada da cama junto à Freddie.

-Roger Taylor... ele é o menino mais lindo que eu já vi, mesmo com todo o caos que está ocorrendo em nosso mundo, ele consegue sorrir, ele tem os olhos azuis mais radiantes que qualquer outra pessoa que conheço, o cabelo loirinho dele brilha mais que ouro, e... ah, ele é o amor da minha vida, por isso que dói tanto em mim ficar longe dele-

-eu entendo a sua dor Brian...-

-Freddie, já fazem uns dias que essa pergunta paira na minha mente, quem é o seu amor?-

Freddie respira fundo e solta o ar lentamente em seguida.

-é o John...-

-não me surpreendeu, na verdade eu já suspeitava-

-como assim?- Freddie me lança um olhar duvidoso.

-comecei a suspeitar na viajem de ida para a Alemanha, percebi que vocês deram as mãos enquanto estávamos no trem, isso levantou minhas suspeitas-

-ah... você é bem atento aos detalhes né?-

Me permiti rir um pouco -é, eu sou. Ah e eu lembro que John disse a mim que vocês eram soldados da resistência... é verdade isso?-

Freddie balança a cabeça em afirmação -sim, é verdade, mas está cada vez mais difícil ajudar judeus a fugir do campo, eles pouseram sentinelas em todos os lugares, dobraram o número de cães farrjadores, aumentaram os faróis e além de que esse lugar é isolado de tudo, não há casas a quilômetros daqui-

-então... se eu quisesse ajudar alguém a fugir, essa pessoa não teria chance?- paro para pensar um pouco.

Mesmo Roger sendo muito cauteloso em relação á matar soldados, ele sempre corria risco de ser pego e ser levado para um lugar como esse.
Eu morria de medo que isso ocorresse, pois sei que ele não sobreviveria muito tempo em um campo de concentração.

-bom, chance ela teria sim, mas são mínimas. Como eu disse, tem várias armadilhas postas nesse lugar, além do fio elétrico que cerca todo o campo-

-e onde está esse fio?-

-aqui- Freddie levanta e sai da cabana, eu o sigo, e o mesmo vai próximo à cerca. -ali olha- ele aponta para um arame farpado localizado bem próximo ao chão. -e tem outro ali- dessa vez, ele aponta para cima.

-vejo que a pessoa não teria chance de fugir daqui-

-ainda tem uma chance para os judaicos, que é sair pelo portão da frente mas isso é quase impossível de ocorrer, visto que sempre há soldados nas portarias- 

Dirijo meu olhar para o portão, e havia dois oficiais vigiando o local, cada um segurava um cão que estava pronto para atacar e o soldado havia um fuzil até a altura da coxa preso a cintura.

-o que tem atrás do campo?-

-mato, há uma floresta muito extensa, e foi ali que os nazistas se concentraram em colocar a maioria das armadilhas-

Gravo todas essas informações em minha mente, estaria pronto para usar isso se por acaso ele fosse capturado e levado para cá.

-e depois de quantos quilômetros há civilização?-

-apoximadamente à 5mil quilômetros, mas o fugitivo precisa tomar cuidado com as pessoas, tem muitos que se passam por ajudantes dos judeus mas na verdade são traíras que os entregam para as autoridades em troca de dinheiro-

-certo... obrigada Freddie- o mesmo sorri para mim, e volta ao seu posto de trabalho.

Volto para a cabana, fecho a porta e pego meu diário e a caneta, e me pus a escrever um plano de fuga.

Desenho um quadrado que representava a extensão do campo, traço o arame farpado ao redor, também desenho os cães farejadores, guardas, e a floresta, mas faço um traço mais forte ao chão para indicar sentinelas espalhadas.

-certo... se Roger fosse capturado, a única saída que ele teria seria pelo portão, mas como passar pelos guardas e seus cães ferozes? Não teria como ele pular a cerca.
Bom ainda tem como cavar um buraco por baixo dela- anoto isso no desenho
-e depois que ele saisse daqui, como ele iria fugir para longe?- falo para mim mesmo, e chego a conclusão que ele teria que se esconder, ele é bom nisso.

-e em quem iria confiar depois...?-

Suspiro tristemente, eu estava apenas traçando um plano e já estava dando errado. Eu estava fazendo-o por precaução e preocupação, mas talvez não precisasse usá-lo.

Não sabia o que poderia acontecer de agora em diante, e se Roger realmente fosse capturado talvez ele nem fosse levado para esse campo, não existe apenas esse.

Eu espero que Roger tenha conseguido fugir de Paris, e que ele esteja tomando cuidado, pois se ele for capturado, talvez não sobreviva muito tempo.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora