•A grande queima de livros•

147 22 2
                                    

Pov Brian:

-E onde iremos agora Brian? Em quem iremos confiar aqui?- questiona Roger,  continuando a segurar em minha cintura, pois ainda estávamos montados no cavalo, andando pelas ruas escuras da cidade, a procura de algo, alguém de confiança, alguma notícia que seria de ajuda para nós, qualquer coisa.

-primeiramente precisamos arrumar um emprego, não iremos sobreviver muito tempo apenas com o pouco que Paul e John nos deixaram, e não posso retirar mais nada do meu salário como soldado- suspiro decepcionado, as esperanças estavam se esvaindo, estávamos à meses nesse caos que era a guerra, o conflito não dava trégua, muito pelo contrário, pelo jeito que as coisas andam a guerra está longe do fim.

Sinceramente, o único motivo pela qual ainda estou lutando é o Roger.
Por mais que tenha servido o exército por aquele curto período de tempo, não absorvi quase nada de como era ser um soldado, como um oficial deve se comportar, nem nada do gênero. Tive treinamentos básicos de sobrevivência, uso de armamento e resistência, o que contribuiu para a minha sobrevivência no campo e fora dele. Porém com Roger era diferente, por mais que o mesmo tivesse passado por situações similares de sobrevivência quando estava à sua rotina de caça aos nazistas, a situação era diferente. Ele está sendo caçado, ou melhor, nos estamos sendo caçados. Eu por ser um "traidor da pátria" e ele por ser judeu.

O mesmo apenas assentiu e continuou segurando-se firme em minha cintura enquanto eu fazia o cavalo andar.
Passando pelas casas, pude perceber que nenhuma estava com o símbolo nazista, e nas ruas não havia nenhuma bandeira vermelha na qual estava tanto acostumado a ver.
Passou pela minha cabeça a possibilidade de que os moradores daqui fossem da resistência, porém não irei criar expectativas demais, pois talvez não seja nada disso, mas o fato de não haver nenhum símbolo nazi nas ruas realmente é intrigante.

Ao cavalgar pelas ruas de pedra, um forte odor de fumaça invadiram minhas narinas, e o quanto mais nos aproximávamos, o cheiro ia se intensificando, até avistarmos a fumaça, o que me fez lacrimejar um pouco.

-Brian que fumaça é essa?- percebi que Roger soltou-se da minha cintura apenas de uma mão, provavelmente havia levado a mesma à boca, em uma tentativa de bloquear a fumaça incomoda que estava nos sufocando.

-não sei Roger, mas vamos averiguar- inclinei-me para frente, a fim de fazer o cavalo andar mais rápido e assim o fez, o animal começa a trotar com mais velocidade em direção à fumaça.

Andamos pela calçada de pedregulho e então tivemos a vista do que estava acontecendo.
Uma grande fogueira estava ao centro do que provavelmente era a praça pública da pequena cidade, havia soldados ao redor da chama, e os mesmos estavam jogando livros e documentos ao fogo, enquanto cidadãos que ali quiseram permanecer, assistiam  a tudo sem dizer uma palavra.

-isso é horrível Brian!! Por que estão cometendo uma atrocidade desse nível??- sussurra o loiro próximo ao meu ouvido, e então lembro de ter ouvido uma conversa quando estava no campo, a respeito de queimar livros por conta dos judeus.

-eles estão o fazendo por conta dos judaicos, os soldados pensam que se vocês lerem, irão ficar mais inteligentes e poderão se revoltar o que de fato pode acontecer, por essa razão eles estão queimando toda essa quantidade de livros- respondo, sem tirar o olhar da grande chama que atingia aproximadamente quinze metros de altura, e ia crescendo cada vez mais na medida em que os soldados jogavam papel na mesma.

-isso é horrível... é desumano- ouço Roger suspirar tristemente e em seguida apertar com mais força a minha cintura.

-mas eles irão pagar caro por tudo isso, se não será aqui, será quando se forem.
Mas agora vamos meu amor, temos que encontrar alguém que nos ajude- puxo a corda do cavalo e faço-o dar meia volta, voltando a galopar na direção oposta da fogueira, seguindo as ruas mais iluminadas que eram os locais onde haviam mais casas.

Mas continuava receoso, tinha medo de parar na casa de alguém que não fosse confiável e essa pessoa chamar as autoridades para nós prenderem.
Infelizmente não havia outra opção, precisávamos permanecer perto da cidade e essa era a civilização onde menos haviam soldados de vigia, por ser uma cidade pequena, portanto devemos ir na sorte e torcer para que não nos entreguem.

Enquanto andava à cavalo, observava cada casa que passavam pelas minhas vistas, na tentativa de encontrar uma que pareceria ser de confiança, mas infelizmente não havia como saber apenas pela estrutura da casa.

Respiro profundamente e paro em frente à uma casa de madeira, consigo ver através da janela que apenas uma mulher estava dentro da mesma.

-vai ter que ser aqui Roger, talvez essa moça seja de confiança- dirijo meu olhar ao loiro que apenas assentiu, eu sei que ele não queria demonstrar, mas estava com medo da mulher não ser confiável e mandar as autoridades atrás de nós, Roger não aguentaria voltar novamente naquele lugar, nem eu aguentaria voltar à matar pessoas inocentes.

Mas as necessidades falaram mais alto, portanto pulo do cavalo, aproximo-me da porta da casa e bato uma vez, esperando a mulher nos atender.

Apenas espero não me arrepender das ações e decisões que estou tomando agora, mas na realidade eu não havia escolha, ou era isso, ou era me entregar à morte.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora