•campo•

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Gostaria de que tudo isso não passasse de um sonho, mas infelizmente a situação era mais que real.

A locomotiva fez algumas paradas durante o caminho, para os soldados retirarem do trem os cadáveres das pessoas que morriam devido as más condições do ambiente, a situação era desumana e humilhante.

Estávamos à horas no trem sem comer nada e nem beber, e o que me deixava mais desolado era o fato de que haviam crianças a bordo, bebês e idosos, e estas eram as pessoas que mais eram afetavam com a viajem.

Permiti-me escorar a cabeça na parede e dormir um pouco, estava exausto devido à circunstância pela qual estava passando, e no fundo, eu ainda alimentava esperanças de que acordaria na minha cama, na minha moradia em Paris, e se tivesse sorte, nos braços de Brian, era tudo que eu mais queria naquele momento.


Despertei com o estrondo da locomotiva cessando seu trajeto, o barulho da ferrugem das rodas era incômodo e provocou agonia aos meus ouvidos.

Um oficial adentrou no vagão, e gritou para todos sairem do trem, e assim, todas as pessoas levantaram-se e foram saindo apressadamente da locomotiva.

Após o trem ter esvaziado um pouco, saio também pois não queria levar empurrões daquela aglomeração de pessoas.

Um soldado diferente vem até nós, e grita para formarmos duas filas, uma de homens e outra de mulheres, e após o feito, o oficial grita para caminharmos cercado adentro.

Fomos instruídos a nos dirigir para uma cabana de madeira bem extensa, onde fomos obrigados a sentar de costas para os soldados, e os mesmos começaram a cortar nossas madeixas de cabelo.

Doia em mim perder o meu precioso cabelo comprido, minha mãe sempre dizia que eram mágicos e brilhavam no escuro, mas aqui estavam sendo cortados de qualquer jeito como se não fossem nada, eu não era nada para eles além de um simples judeu.

Após isso, o oficial grita para novamente nos levantarmos, e formarmos uma fila, onde o mesmo nos guiou até um cercado diferente, onde havia uma cabana e fomos presos ali.

Entro no local, e logo percebo que as condições não eram das melhores.
A cabana fedia a vômito e fezes, e ficava pior pois o cheiro se misturava com um terrível odor de carne queimada.

Tremi involuntariamente, pois eu sabia que esse cheiro horrível vinha dos corpos dos prisioneiros, que os soldados matavam em câmaras de gás e após o feito, queimavam os cadáveres em uma grande fogueira.

Sento no chão do cercado, olhando o terrível lugar em que me encontrava.
Havia idosos trabalhando duro, carregando pedras e fazendo serviços que não eram apropriados para a sua frágil idade, mas mesmo assim eles eram submetidos a tal feito, e se não o exerciam eram mortos como se não fossem nada.

Nós judeus não eramos nada para os alemães, Hitler mesmo havia dito que merecíamos a morte, eu apenas gostaria de saber o que fizemos para ele ter tanto ódio assim de nós, uma raça inteira de pessoas que não tinha culpa de nada.

Percorrendo o local com os olhos, avisto uma cabeleira cacheada vestindo uma farda e uma boina de soldado, caminhando tranquilamente pelo local, segurando um grande fuzil em mãos.
Seguro na cerca e tento me aproximar mais para tentar identificar quem era.

Até que ele vira o corpo para a minha direção, e pós a mão na boca, percebi que seus olhos inundaram em lágrimas e assim soube que era ele.

Ele corre até mim, se ajoelhando no chão e segurando na cerca que nos afastava.

-Roger... eu... eu- lágrimas começam a rolar sem parar por sua face, ele passa sua mão pelo buraco da cerca e entrelaça sua mão na minha.
Seguro com força e me pus a chorar também.

-Brian eu tentei fugir... mas... mas eles me pegaram- agora lágrimas começam a jorrar pelos meus olhos, mas ele pousa sua mão em minha face e seca as lágrimas da mesma.

-eu temia que tal evento acontecesse, temia que fosse capturado, na verdade eu temia que lhe levassem para outro campo, ao menos aqui eu posso tentar aliviar as coisas para você, mas Roger você irá precisar ser forte daqui pra frente pois não vai ser fácil. Eu vou fazer tudo o que puder para aliviar sua dor, mas você não pode desistir não pode se entregar, está me entendo amor? Você fará isso? Vai ser forte?

Concordo com a cabeça mas as lágrimas começam a descer com mais intensidade, e eu começo a soluçar.

-calma meu amor, calma- Brian acaricia minha face e com sua mão livre, segura na minha. -eu sei pelo o que está passando, está assustado, mas eu vou lhe ajudar ok anjo? Prometo.

-ok Brian, obrigada, eu sei que não será fácil e que os soldados não irão ter piedade de mim, mas irei me esforçar para sobreviver.

Um sorriso se abriu em seus lábios, o que me fez sorrir também.

-eu irei tirar você daqui, mas agora não tenho como, você precisa enfrentar isso- Brian continua as carícias em minha face, em uma tentativa de me acalmar, e como sempre estava funcionando.

-eu só sairei daqui se for com você-

-então iremos fugir daqui juntos ok amor? Mas por enquanto que não consigo uma maneira de sairmos daqui, precisará ser forte, acha que consegue anjinho?-

-consigo!- Brian sorriu novamente em minha direção, mas logo seu sorriso se desfez ao ouvir seu nome ser chamado.

-apenas não os irrite, faça o que mandarem mesmo que seja difícil tente dar o seu melhor amor, eu vou tentar conseguir alimento para você, mas preciso que faça isso por mim, obedeça a eles- ele aponta para os oficiais que estavam de vigia no portão principal.

-ok amor, irei fazer isso não vou desistir-

Brian acena com a cabeça e levanta do solo.

-tenho que ir, mas assim que puder voltarei para conversar com você-

Concordo com a cabeça, e ele se afasta do cercado, indo até seu posto de trabalho.

Sei que não será fácil, mas como Brian disse precisarei ser forte se quiser sobreviver.
Mas sinto que agora terei forças para faze-lo pois sei que Brian está comigo.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora