•Por trás do muro•

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Duas semanas se passaram desde aquele dia, eu e Brian estávamos nos tornando mais próximos.

Finalmente consegui criar confiança no Brian, ele realmente era uma boa pessoa e abominava tudo isso que estava acontecendo no mundo.

Todos os dias eu ia visitá-lo, mas opcionei por ir vê-lo à noite, era muito arriscado tanto para mim quanto para ele se os nossos encontros ocorressem durante o dia.

Mais uma vez, estava me dirigindo para a sua casa, agora eu deveria tomar o dobro de cuidado, pois além do muro, os soldados haviam posto sentinelas nas ruas, para capturar judeus fugitivos que tentavam escapar, sem sorte, do outro lado do muro.

Felizmente eu não tive o desgosto de ver como é do outro lado do muro, e nem o que fazem do outro lado, e gostaria de nem saber. Mas se bem que eu já tinha uma noção de como eles tratavam as pessoas lá.

Frequentemente eu ouvia gritos e súplicas de judeus dos outro lado, era audível barulho de tiros, explosões, e outros sons das quais prefiro não recordar.

Agora mesmo estava caminhando ao lado muro, o grande muro de tijolos na qual acima do mesmo ele era exageradamente cercado com arame farpado, mais uma garantia de que os judeus não conseguiriam fugir.

Caminhado pelo local, ouço um grito estrondoso suplicante por ajuda, corro em direção à voz, e havia uma mulher tentando escapar do outro lado do muro através de um buraco feito no mesmo.

-por favor me ajude!!! Por favor!!!- sem pensar duas vezes, seguro nos braços da moça e tento puxá-la. Mas sinto que suas mãos estavam vacilantes e alguém a estava puxando para dentro novamente.

-não!!! Não!!!!- tento puxá-la para fora, mas a força que estavam exercendo do outro lado era maior, minhas mãos vacilaram e acabo cedendo, a mulher é puxada novamente para dentro e ouço gritos horripilantes junto a barulho de tapas e tiros.

Meus olhos inundam em lágrimas, e me pus a correr o mais rápido possível e o mais longe possível daquele lugar, indo em direção à casa de Brian.
Meu coração estava apertado e sinto que minhas pernas poderiam vacilar à qualquer momento.

Avisto a casa de Brian, e subo no cano d'água, escalando o mesmo e entro pela janela, que o maior deixava aberta à essas horas pois ele sabia que eu viria.

Fecho a mesma e puxo a cortina, e finalmente, desabo em lágrimas.

-Roger!!- ouço a voz de Brian e o maior vem até mim e me envolve em um abraço carinhoso.

-eu tentei salvá-la Brian eu juro!!!! Eu tentei! Mas não consegui!- deito minha cabeça em seu ombro e choro em seu peito.

Sinto suas mãos em meu cabelo, fazendo carinho.

-quem Roger? O que houve?- sinto suas mãos em meu rosto e Brian me faz olhar para ele, limpando minhas lágrimas.

-eu estava no caminho até sua casa, e como você sabe eu passo ao lado do muro para vir até aqui, até que ouvi uns gritos desesperados e corri até a pessoa, e era uma mulher tentando escapar através de um buraco no muro... Brian eu juro que tentei puxá-la para fora!! Mas alguém a estava puxando novamente para dentro, provavelmente um soldado.
Eu não consegui salvá-la Brian, e agora ela provavelmente está morta- não consigo conter minhas lágrimas e desabo no choro novamente.

-Roger, não foi culpa sua- sinto suas mãos em meu cabelo, fazendo um carinho em meus fios loiros.

-eu poderia te-la salvado Brian!!-

-talvez sim, mas talvez não, você não sabia o que lhe esperava do outro lado- sinto um beijo em minha nuca e levanto minha face para olhá-lo.

-poderia ser eu Brian, eu poderia estar do outro lado do muro! Eu poderia estar no lugar daquela mulher!! Eu não aguento mais isso Brian, tudo isso me desgasta mais a cada dia, eu sinto que não vou aguentar por mais muito tempo.

-eu entendo Roger, não está fácil para ninguém, tanto para os judeus que são aqueles que mais estão sofrendo com tudo isso, quanto para os cidadãos, a crise está afetando a todos- sinto um beijo em minha nuca, e sorri com o seu ato.

-não mesmo Brian, mas agradeço por ter você nesse momento tão difícil, você esta me dando forças para continuar lutando, obrigado Brian- o maior sorri de volta para mim e deita em sua cama.

-vem aqui Roger- Brian faz um sinal para eu me deitar ao seu lado, vou até ele e deito na cama junto a ele.

-não quero que passe por isso sozinho, saiba que estou aqui com você e vou me esforçar para não deixar nada acontecer com você- ele passa a mão pela minha cintura, e sorri com o seu ato.

-digo o mesmo Brian, obrigada por permanecer aqui comigo-

-nao irei te deixar Roger, ainda mais em momento difícil como esse, sei pelo o que está passando e para ser sincero admiro que tenha forças para continuar, não sei se no seu lugar eu teria essa força- disse melancólico

-tenho certeza que teria Brian- viro a cara para olhá-lo
-você é forte, não se abala com qualquer coisa-

-é que agora eu estou na lista negra do Hitler- ouço sua risada suave, e me permiti rir também.

-não acredito que teve coragem para tal ato Brian, para ser sincero fiquei com medo, ele poderia ter lhe dado um tiro lá mesmo.

-não me importo, eu precisava fazê-lo, agora me sinto até completo- ambos rimos, e continuamos a falar de coisas sobre o nosso dia a dia.

Nesse dia, falamos sobre tudo, desde a situação que passávamos na França, até coisas mais pessoais sobre quem eramos antes da guerra.

Agora senti que conhecia um pouco mais da história de Brian Harold May, sabia mais coisas sobre ele, e posso dizer que agora o conhecia melhor.

É uma pena que nos conhecemos em um momento tão difícil pela qual a nação estava passando.

Mas eu não voltaria atrás nem se pudesse.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora