•Julgamento•

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Cinco anos depois:

Eu havia perdido a noção do tempo na prisão, os dias não variavam muito um do outro, apenas sei que se passou muito tempo.

Porém, em momento algum deixei de sonhar.
Sonhar com a minha liberdade, sonhar em ser inocentado e finalmente solto após tanto tempo. Não sei se a guerra já havia cessado, não sei quantas pessoas foram mortas, não estou por dentro dos fatos pois de nada me avisavam.

Aquele senhorzinho dócil e amável que havia me ajudado logo que cheguei aqui, um dia passou mal e os guardas o tiraram da cela. Ele nunca mais voltou.

Eu estava imundo, não me deixavam tomar banho com frequência, haviam cortado meus cachos e estava com a barba por fazer, nunca havia chegado à esse estado tão deplorável, porém não havia nada que pudesse fazer além de esperar.

Percebi uma agitação maior dos soldados, e um deles aproximou-se da minha cela e a abriu, sinalizando para eu me aproximar dele, e assim o fiz.

-Brian, venha comigo, irá tomar um banho, vestir roupas no mínimo apresentáveis e fazer a barba, chegou o dia do seu julgamento- disse o mesmo, abrindo a porta da cela e me guiando para um amplo corredor.

Arregalei os olhos ao ouvir tais palavras, finalmente meu julgamento!
Espero que me concedam um bom advogado e que eu seja inocentado, para retornar à minha vida em Paris, e finalmente viver como um cidadão comum.

Segui o oficial até uma sala pequena onde havia um banheiro e roupas, o mesmo me da licença saindo da sala porém provavelmente ficou do lado da porta, no aguardo.

Me despi das imundas roupas que trajava e fui até o banheiro, ligando o chuveiro e entrando no mesmo, regulei a água no quente e apenas relaxei, respirando profundamente e iniciando a ensaboar meu corpo e a lavar meu cabelo.

Era realmente bom tomar um banho após tanto tempo, não me deixavam tomar banho todos os dias e então vivia imundo, além do trabalho que era forçado a fazer, o que me desgastava demasiadamente.

Não demorei muito no banho, saí do chuveiro, enrolando meu corpo na toalha e o secando, logo após isso me dirigindo até a sala que me encontrava antes para me vestir.

Analisei as roupas, era um terno azul, acompanhado com uma gravata vermelha, camisa social e calças de alfaiataria, era tudo muito chique para uma situação que talvez desse errado.

Me visto com as roupas e me olhei no espelho, não estava nada mal porém tinha a barba por fazer, estava horrível. Procuro no pequeno balcão da pia e encontro a espuma e uma lâmina, então aproveitei e fiz a barba que tanto me incomodava.

Após isso encaro o meu reflexo no espelho, não estava ruim.
Sai do banheiro e me dirijo até a porta de saída do quarto, abri a mesma e me dei de cara com o oficial de antes porém agora ele estava acompanhando de outro homem.

-Olá Sr. May, prazer meu nome é Mark, e serei seu advogado, me conte toda a história antes de irmos até a sala do tribunal, por favor- o mesmo carregava uma pasta preta, na a qual apoiou em uma pequena mesa e tirou alguns papéis do seu interior.

-certamente, porém por favor antes disso, poderia me deixar por dentro dos fatos sobre a guerra? Quem está à frente?- questiono, fazia anos desde a última vez que recebi notícias sobre o conflito.

-senhor May, a guerra acabou fazem três anos- responde o mesmo, me olhando com ar de indignação.

-acabou? Como foi isso? Quem ganhou? E Hitler? O que houve com ele...?-

-Estados Unidos ganharam, os perdedores tiveram que pagar uma multa alta pelos destroços... e Hitler cometeu suicídio assim que soube que iria perder-

-ele morreu?- falo baixo apenas para mim mesmo. Me permiti sorrir com tal notícia.
O monstro ditador que havia tirado a vida de milhares de inocentes estava morto, e provavelmente queimando no inferno agora... isso me trazia uma grande sensação de paz.

-sim, ele morreu, agora se não se importar, Brian, poderia me contar detalhadamente a história?-

-ah claro, perdão- sento em sua frente na mesa, e assim começamos a conversar.

Contei tudo à ele, como conheci Roger, a proposta que Hitler havia me feito e como fui obrigado a aceitar, como entrei no posto de soldado e como fugi dos campos.
Em que circunstâncias tive que sobreviver e o fato de nunca ter abandonado a Roger até o momento que fui obrigado a tal ato.

-bem, parece que você não tem culpa e a propósito de ter matado o tenente, o fez em legítima defesa, o que não lhe condena... bom, vamos lá?- Mark se levanta e eu faço o mesmo, concordando com apenas um gesto e em seguida nos dirigimos para a sala de tribunal.

Lá já estavam o juiz, o júri todo, o advogado de acusação, e os guardas do réu.
Eu apenas me posicionei no meu gabinete, aguardando a fala do juiz.

Meu advogado apenas me olhou, seu olhar transmitia confiança, e assim tive certa certeza que logo sairia dali, seria inocentado e poderia voltar à ter uma vida normal.

-meus senhores, aqui estamos neste momento, para julgar o acusado, Brian Harold May, pelos crimes de traição e quebra de contrato com superiores, além do assassinato ao soldado Kurt Cobain enquanto ainda estávamos no conflito da segunda guerra mundial, por favor, advogado- o juiz se senta, assim esperando Mark se pronunciar.

-pois bem senhor Juiz, e Júri- o homem se levanta e olha à todos ali presentes -como todos sabem, à guarra cessou à exatamente três anos, e assim, cessaram também o conflito e a grande chacina que estava ocorrendo.
Analisando a história do meu cliente, temos todas as evidências de que ele agiu por legítima defesa, o soldado estava armado e consequentemente atiraria em Brian, porém, afim de salvar a propria vida, o mesmo revirou  com a arma que carregava no bolso, sendo assim o primeiro a atirar e a tirar a vida do homem, porém! Quem garante que Kurt não iria atirar em Brian? O mesmo apenas quis se defender- o advogado levanta-se e inicia uma breve caminhada pelo salão, sendo acompanhado pelos olhos atentos do júri e do juiz, que prestavam atenção na história e faziam duas próprias anotações.

-na questão da traição da pátria, bom, Brian nunca achou certo o que o falecido Hitler estava fazendo com os judaicos, e agora após o fim desse conflito, todos percebemos que realmente não estava correto, esse homem cometeu uma chacina e matou milhares de inocentes, sendo assim recebedor da morte e do inferno.
Portanto, não podemos considerar traição à nação no que o meu cliente não era seguidor e muito menos apoiador, portanto essa acusação não faz o menor sentido ao meu ver- complementa Mark.

O advogado completa sua fala e então se senta na mesa. Enquanto o Juiz e o júri analisavam o caso e chegavam a uma conclusão.

Foi meia hora de espera, trinta minutos de pura agonia.
Estava muito nervoso e com medo se não ser absorvido, talvez esse juiz e o júri ainda pensem como no ano de 1939...

O juiz levanta-se, retirando um papel de interior de um envelope e lê o mesmo.

-pela escolha do júri e decisão do juiz, declaramos o Réu, Brian Harold May, inocente das acusações de traição à pátria e assassinato.
Porém tendo como condição, o afastamento permanente de qualquer atividade militar envolvendo o exército alemão- o juiz bateu o martelo, e então pude sentir minha respiração voltando ao normal, consegui sorrir, e então Mark se vira em minha direção e me abraçou.

-parabéns Brian! É um homem livre- o mesmo se levanta e eu fiz o mesmo, indo entregar meu documento de soldado ao juiz, e em seguida me retirando do tribunal, juntamente com Mark.

-tenho muito ao o que agradecer ao senhor, muito obrigado Sr. Mark- sorri, e o mesmo retribuiu o sorriso.

-por nada Brian, apenas fiz o meu trabalho, porém se me permite perguntar. Qual é a primeira coisa que vai fazer agora que é um homem livre?- questionou.

E sem pensar duas vezes, eu respondi.

-preciso encontrar uma pessoa.. não sei se ela está viva, porém, preciso tentar...-

-boa sorte Brian-

-obrigado Mark- Ambos sorrimos

E então cada um foi para um lado seguindo o seu caminho. Eu iria pegar o primeiro trem para a França, provavelmente ele havia retornado para lá.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora