•Presenciando•

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No dia seguinte, acordo cedo e logo levanto da cama, arrumo a mesma, visto minha roupa de trabalho e vou logo fazer minhas higienes e minha refeição matinal.

E como de costume, ligo o rádio para ficar por dentro das notícias que estavam acontecendo no momento.

"É neste dia 30 de Janeiro de 1940, que anunciamos uma nova construção para os judaicos, no lado oeste da cidade, todos os cidadãos judeus que estão morando em Paris atualmente, devem se dirigir para essa construção, está sendo realizada a obra de um muro para a separação de judeus dos cidadãos parienses.
Em seu interior, está sendo construído um edifício para abrigar todos os judaicos da cidade de Paris, os mesmos devem se mudar para o local até o dia 19 de Fevereiro. Lembre-se, caso o cidadão judaico não transferir-se para o novo local de moradia, o mesmo será considerado infrator da lei e será caçado, e se caso você, cidadão pariense conheça algum judeu que está se escondendo ou fugindo, deve relatar imediatamente ás autoridades, lembre-se você estará ajudando a nossa amada pátria. Palavras do prefeito".

Coloco a mão na testa e suspiro decepcionado, como o nosso prefeito pôde se render à tamanho absurdo! Uma construção para separar os judeus dos franceses? Eles afinal são o que? Bandidos? Assassinos? Terroristas?
Não! Eles são apenas pessoas com uma religião diferente da nossa! Por quê é tão difícil respeitá-los? Eles nunca fizeram mal a ninguém.

Levanto-me da mesa, visto o meu paletó, arrumo, ou tento arrumar o meu cabelo, e em seguida saio de casa. Passo a chave na porta, pego minha bicicleta e saio pedalando tranquilamente, tendo como destino meu local de trabalho, o restaurante na qual eu servia como garçom.

Realmente a situação estava piorando a cada dia, passando pela rua, vejo que os soldados haviam posto a bandeira do nazismo em todas as direções, deixando claro quem mandava ali.

-Heil Hitler!- um soldado que passou perto de mim, tira a boina em minha direção e faz a saudação nazista.

-Heil Hitler...- devolvo a saudação, e continuo pedalando, chegando ao meu local de trabalho.

Estaciono a bicicleta atrás do estabelecimento, saio da mesma e fui até o restaurante, entrando pela porta dos fundos, que era a entrada para funcionários.

Logo ao entrar, já me deparei com uma imensa bagunça na cozinha.

-sopa de legumes para a mesa 3! Filé de frango para a mesa 5! E o pedido da mesa 7 está atrasado!!- logo o chefe me entrega três bandejas -vá logo Brian! Aqui está uma confusão-

-mas é claro- sai da cozinha e fui entregar os pedidos para suas determinadas mesas, mas uma cena me chamou a atenção.

-não é permitida a entrada de gente como você em nosso restaurante! Não está vendo a placa? Proibido judeus!- o guarda que tomava conta da portaria fala ao rapaz que estava parado em frente à ele.

-eu estou faminto! Eu tenho dinheiro posso pagar!!- o mesmo tira várias notas do seu bolso, mas um tapa é desferido em seu rosto.

- e eu com isso merda? Saia desse restaurante ou irei ter que chamar as autoridades!!!- ele aponta para a porta do local, e o judeu sai do mesmo.

Sinto a imensa dor que ele passou naquele momento, meus olhos enchem de lágrimas e as mesmas insistem em cair, mas me seguro, não poderia desabar agora.

Passo a tarde toda pensando naquele judeu, ainda não consigo acreditar em tamanha falta de humanidade e crueldade por parte das pessoas, e infelizmente está ficando cada vez pior.

No final do expediente, arrumo minhas coisas, subo na bicicleta e vou embora, passando pelas estradas que estavam começando a ficar escuras, indo para casa.

Alguns minutos depois, chego em minha residência, paro a bicicleta em frente á mesma, desço, entro em minha casa, e me dirijo para o banheiro, onde me despi e entro na banheira para tomar um banho e finalmente relaxar após um dia cheio.

Demoro alguns bons minutos no banheiro pois eu merecia, e saio do mesmo enrolado em uma toalha, vou até meu quarto e visto o meu pijama, meu preparativo para finalmente deitar na cama e ter uma boa e tranquila noite de sono, mas não é isso que eu iria fazer agora.

Desço para a cozinha, procurando por algo que possa matar minha fome, eu realmente precisava ir no mercado, minha casa estava vazia.

Depois de procurar por um tempinho, encontro pão e uma geleia que eu havia esquecido dentro de um armário, minha salvação para aquela noite.
Preparo um belo pão recheado de geleia de uva, encho meu copo de água e subo em meu quarto, para admirar as estrelas antes de ir deitar.

Como de costume, coloco meu aparelho de vinil próximo a janela, e posiciono um disco para tocar, isso já era rotina.

Me pus a admirar as estrelas, ou tentava enxergar alguma em meio a aquele céu coberto pela poeira, era meio difícil conseguir enxergar alguma coisa com toda aquela poluição pairando sobre o céu.

Me pareceu ter visto um clarão atrás das montanhas que formavam a paisagem, e em seguida, um estrondoso barulho chega aos meus ouvidos.

Bombas, novamente.

O vento trás toda a ferrugem e poeira em minha direção, protejo minhas vistas pousando o antebraço em frente à elas, e me apoio na grade da sacada, pois o vento causado pelo impacto da bomba ao solo era tão forte que poderia me derrubar.

Após o vento cessar, limpo minha face, e abro os olhos para ver o estrago causado pela bomba.

Novamente a visão que tenho é de destruição, o vento derrubara as poucas árvores que restaram perto da minha moradia, mas estranhamente não derrubou as bandeiras vermelhas com o símbolo nazista que foram postas nos postes, lojas e até mesmo em algumas casas da cidade.

Continuo olhando o tamanho do estrago causado na cidade, mas após um tempo entro em casa e me dirijo até a minha estante de discos, pego um e vou colocá-lo no aparelho de vinil, pouso a planilha no mesmo e a música começa a tocar.

Da sacada, me pareceu ter visto algo, ou alguém passando correndo pela rua, a sombra do indivíduo mostra que o mesmo estava vestindo boina e sobretudo, provavelmente era um soldado.

Mas soldados não se escondem nas sombras enquanto estão nas ruas.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora