•exército•

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Após a briga, acabei adormecendo ao chão de tanto chorar, e no dia seguinte quando acordei levanto do piso frio e me espreguicei, em seguida sinto uma dor aguda nas costas resultado de ter dormido no chão.

Dou uma olhada em meu relógio da parede e eram quatro da manhã, extremamente cedo, o dia havia começado à oficialmente quatro horas.

Sei que no exército o dia começa bem mais cedo para os oficiais do que para a maioria das pessoas, então isso não será um problema para mim, pois sou acostumado a acordar antes do sol nascer.

Uma rajada de vento atinge minha face, me fazendo olhar na direção do vento, e encontro a janela partida em cacos, resultado da briga da noite passada com o Roger.

Sei que feri seu coração, e infelizmente nunca terei o seu perdão, perdi o amor da minha vida por causa do nazismo, por causa... dele.

Suspiro tristemente ao pensar no assunto, mas me recomponho e desço até a cozinha para fazer meu café e comer algo antes de sair.

Encho a chaleira de água e coloco no fogo, após isso, pego uma xícara de porcelana do armário, adiciono duas colheres de pó de café na mesma, e quando a água começa a verver, adiciono-a ao café. Eu não bebia com açúcar, apreciava mais era o gosto amargo do café.

Sento à mesa, bebericando o café e apreciando a vista através da janela. Estava frio, ainda não chegara a nevar em Paris, mas com a queda de temperatura ocorrendo pouco a pouco, não demoraria muito para acontecer.

Em pouco tempo, termino a bebida, e levanto-me da mesa, levo a xícara até a pia, quando escutei batidas na porta, chegou a hora de ir.

Passo a mão no meu cabelo, pego minha mala, e me aproximo da porta, respiro fundo e abro a mesma, eram os soldados Freddie e John novamente.

-pronto Brian?- pergunta Freddie, e eu olho para o interior da minha casa uma última vez... sei que provavelmente não voltaria mais para Paris, na verdade essa poderia ser a última viajem da minha vida.

-sim- saio de casa, passando a chave na porta e colocando a mesma no bolso, caminho até o carro juntamente a Freddie e John, os mesmos entram na frente do veículo e eu atrás.

-antes que pergunte o quando demorará a viajem para a Polônia, são 17 horas de trem- Freddie da a partida, e começamos a percorrer o caminho para a estação de trem, o mesmo trajeto que fizemos quando viajei para a Alemanha.

Se eu tivesse negado aquele convite, nada disso teria acontecido, na verdade se eu nem o tivesse encarado naquele dia agora eu estaria em minha casa, provavelmente com Roger adormecido em meus braços.

Roger... lembrar dele me fazia querer chorar, na verdade meus olhos já estavam inundados por lágrimas que insistiam em cair.

Mas talvez, nada disso poderia ter sido evitado, talvez o destino esteja preparando algo pra mim... seja o pior ou o melhor.

Percebo o olhar de Freddie no retrovisor do carro e desvio o olhar do mesmo.

-Brian, está tudo bem?- ele me olha preocupado.

-sim- limpo minhas lágrimas com a manga do casaco.

-chegamos- anuncia John, que tira o cinto e desce do veículo. A estação não era tão longe da minha casa.

Tiro o cinto também e desço do carro, pegando a minha mochila e colocando-a nas costas.

-agora vamos comprar as passagens, pois temos uma longa viajem pela frente- Mercury vai na nossa frente e John acelera o passo para ir ao seu lado.

Era até fofo o jeito que eles conseguiam se relacionar sem ninguém suspeitar de nada, eles eram dois soldados que viviam juntos, ninguém iria desconfiar.

Se ao menos Roger pudesse se passar por um soldado alemão...

Sigo os dois até a bilheteria e compramos as três passagens, e algum tempo depois o trem chega à estação, anunciando sua chegada ao apitar com sua grande chaminé.

O maquinista sai da locomotiva, fazendo um sinal para todos apresentarem suas passagens e embarcarem no trem.

Sigo os dois soldados, apresentamos as nossas passagens e embarcamos no trem, não pude deixar de notar que o maquista fez a saudação nazista para Freddie e John.

Subo à bordo e procuro uma poltrona vazia e distante das outras pessoas.

Sento na mesma e abro minha mochila, tirando um livro da mesma e me pus a ler.

A leitura de boas histórias me distraia de todo o caos, mas também eu sempre acabava me iludindo um pouco ao imaginar um mundo igual ao relato dos livros.

Um mundo sem guerra, sem mortes, sem alguém que quer se sentir superior que os demais e implantar sua ideologia para o mundo, sem restrições.

Um mundo onde todos podem se amar livremente sem ser presos por ficar com alguém do mesmo gênero, onde pessoas independe de sua religião podem ficar livres e viver suas vidas normalmente.

Um mundo o onde o amor prevalece e o caos seja extinto.

Eu ainda tenho fé na humanidade, creio que um dia iremos a aprender a respeitar as diferenças.

Coloco a mão em meu bolso em uma tentativa de aquecer minhas mãos gélidas e sinto um pedaço de papel no mesmo, tiro o bilhete de lá e abro-o.

"Querido Brian, meu amor.
Sei que está cada vez mais difícil dos nossos encontros ocorrerem em razão as novas regras de restrição, mas saiba que não desistirei de você viu fofinho?
As vezes na calada da noite, quando você está dormindo feito um anjinho, eu subo até a janela da sua casa e entro na mesma, meu novo hobbie favorito é olhar você dormir.
Não me pergunte quantas vezes vim ok? Apenas saber que eu espio você dormir é o suficiente, e você sempre está dormindo muito bem!
Espero que encontre esse bilhete algum dia e lembre sempre de mim, carregue-o sempre consigo!
Do seu amor, Roger Taylor"

Não resisto as palavras escritas e desabo em lágrimas novamente, aquele bilhete havia sido escrito antes da minha ida à Alemanha, e só o encontrei hoje...

Sorri ao saber que ele vinha me visitar enquanto dormia, e que estava sempre comigo, isso me deixou feliz por um tempo... mas entristeci novamente ao lembrar que esses nossos momentos jamais irão voltar.

Eu sinto sua falta Roger Taylor.

Classic • MaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora