•Tropas•

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No dia seguinte, desperto com o barulho de trombetas e marcha de soldados, levanto da cama em um salto e vou logo até a janela ver o porquê do barulho tão alto.

Abro a mesma e vejo carros blindados, e uma multidão a mercê dos soldados que marchavam bravamente na estrada tocando trombetas, e os soldados mais a frente carregavam uma haste com a bandeira nazista.

Provavelmente, o Führer veio fazer a inauguração do seu novo feito, o muro que separaria os judeus dos franceses.

Era uma raridade vê-lo em solo francês já que ele ficava apenas na Alemanha, mais precisamente em seu banker, se escondendo dos vândalos que tentavam prendê-lo ou apenas para não ver o lugar caótico que o mundo estava se tornando por sua causa.

-pedimos á todos os cidadãos franceses que saiam de suas casas e venham a mercê da estrada, o Führer fará um pronunciamento a respeito da nova obra, um muro que separará os judeus dos franceses, por favor todos se dirijam para fora de suas moradias- diz o primeiro ministro da França, ele era contra o nazismo até o Hitler oferecer um novo cargo no governo a ele, então ele simplesmente começou a olhar para os judeus de forma desprezível de uma hora pra outra.

Me vejo obrigado a sair de casa, senão eu automaticamente seria taxado de traidor da pátria.

Saio da janela e me visto rapidamente com a primeira roupa que encontrei, passo a mão no meu cabelo, e saio as pressas de casa, me infiltrando na multidão.

As pessoas estavam histéricas, gritavam palavras de apoio ao Führer e levantavam as bandeiras vermelhas da qual eu tinha tanto ódio. Não entendo como essas pessoas podem apoiar uma atrocidade desse nível.

Passam vários carros blindados e tanques de guerra, e em um daqueles carros, estava ele, ali estava o homem responsável por tirar a vida de milhares de inocentes, bem em minha frente, em pé na abertura do capô do automóvel, sorrindo para a multidão como se fosse o Salvador da pátria, bom, a maioria dos franceses e nazistas consideravam isso.

O carro passa pela multidão e todos fazem a saudação em coro, e ouço um claramente as palavras "Heil Hitler" dita por todos na multidão, me escondo em meio às pessoas, apenas para não ser obrigado a fazer a saudação, eu me recuso a fazê-la novamente.

Hitler termina o trajeto no carro, os soldados abrem a porta do automóvel para ele, e o mesmo desce, se dirigindo até um palco improvisado. Ele se apoia no mesmo, e da duas batidas no microfone, testando se o mesmo funcionava. O que resulta em um barulho agudo e irritante, mas não ouço ninguém reclamar, o Führer limpa a garganta e começa seu discurso.

-Caros cidadãos de bem, cidadãos franceses, é com imensa honra que eu vosso amado e respeitável Führer, concluo a construção de mais uma fortaleza para a nação!
A construção do muro que separará vocês franceses, daqueles seres abomináveis e desprezíveis, tenho a honra e orgulho de dizer que várias outras medidas estão sendo implantadas para que aquelas... pessoas, tenham o menor do contato possível com a minha amada nação, vocês não precisarão mais mudar suas rotinas diárias em razão desses seres que infelizmente existem em nossa pátria. Eu, como vosso Führer sou inteiramente encarregado da responsabilidade de manter meus queridos cidadãos longe daqueles seres. Mais que cidadãos, considero todos vocês meus amigos, juntos somos uma família, e devemos nos unir para manter aqueles seres abomináveis longe da nossa amada nação.
Juntos, estaremos fazendo o melhor para a pátria, e para o mundo.
França para frente sempre!

Todos aplaudem e gritam palavras de apoio ao Führer, e eu estava me segurando para não subir no gabinete e socar a cara dele.

Fico indignado com a grande falta de noção dos cidadãos de Paris, era inaceitável que aquelas pessoas apoiassem a fala daquele ditador chulo e imundo, até parece que ele quer o melhor para a França! Que piada.

Dois soldados caminham em direção ao Führer e fazem a saudação nazista, Hitler devolve a saudação e faz a mesma para o povo, a multidão retribui e novamente grita em coro "Heil Hitler". Eu estava cansado de ouvir essas palavras, não é possível que ninguém vê o que realmente esse ditador está fazendo com a pátria, ele a está destruindo pouco a pouco.

-cala a boca que tu só tem uma bola- falo baixinho para mim mesmo e ri da minha própria fala, era impressionante como ele havia conseguido uma mulher, além de feio, burro e assassino, ele só possuía um testículo, o outro pelo o que se sabia, ele o perdeu na primeira guerra, isso era humilhante.

Os soldados começam a marchar e Hitler entra novamente em seu carro, passando pela multidão e recebendo aplausos e gritos de apoiadores.

O automóvel passa perto de mim, e o Führer sorri em minha direção, eu nada faço, apenas continuo o encarando com uma expressão neutra, logo o sorriso dele se desfez e agora ele me encarava como se quisesse me matar. Senti minha vida indo embora apenas com aquela encarada, mas ele nada fez, e o carro passa reto por mim, seguindo a estrada.

Solto o ar logo que o carro passou e fito o chão, não acredito que passei tão perto da morte, seus olhos me encararam de maneira brutal quando eu não devolvi o sorriso, agora provavelmente eu estava em sua lista negra, ninguém gostaria de estar na sua lista negra, ele provavelmente mandaria seus soldados me matarem.

Volto a olhar a multidão e a mesma estava se desfazendo, as pessoas estavam retornando para suas casas ou para seus locais de trabalho.

É naquele momento, quanto as pessoas se dirigiam para seus afazeres, que eu o vi, o loiro me olhava atrás de um muro de tijolos com uma expressão risonha e debochada, provavelmente ele presenciara a cena em que eu cruzei com o Führer, e se divertira vendo meu afronte.

Ri também, e em seguida ele sorri, e desaparece na escuridão do muro de tijolos.

Vê-lo sorrir naquelas circunstâncias em que as pessoas da sua raça se encontravam, aqueceu meu coração.

Eu amava vê-lo sorrir.





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