“Hmm…” Dá para ver a loira mignon praticamente se derretendo sob o olhar magnético de Benício

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“Hmm…”
Dá para ver a loira mignon praticamente se derretendo sob o olhar magnético
de Benício . O sujeito tem esse poder sobre as mulheres. É bonito de doer, além de ter
uma voz fenomenal. Infelizmente, tem total consciência de ambas as qualidades e
nenhum escrúpulo em usá-las a seu favor.
“Talvez Benício  tenha razão”
, murmura Ambar ., evitando meus olhos ao me trair. “Por
que a gente não tenta o mi maior, karol ? Só uma vez, para ver qual dos dois
funciona melhor.”
Até tu, Brutus?!, tenho vontade de gritar, mas mordo a língua. Como eu, faz
semanas que Ambar . tem sido forçada a lidar com as exigências absurdas de Benício  e
suas ideias “geniais”
, e ela não tem culpa de se esforçar para encontrar uma
solução.
“Certo”
, resmungo. “Vamos tentar.”
O triunfo brilha nos olhos de Benício , mas não se demora por ali, porque quando
terminamos a música, fica óbvio que a sugestão dele é uma bela porcaria. A nota é
baixa demais para mim e, em vez de realçar a deslumbrante voz barítono do meu
par, me faz soar tão desafinada que desvia a atenção dele.
“Acho melhor karol  continuar na nota original.” Ambar  ergue o olhar
para Benício e morde o lábio inferior, como se temesse a reação dele.
Embora seja arrogante, Benício  não é burro. “Tudo bem”
, retruca. “A gente faz do
seu jeito, karol ”
Cerro os dentes. “Obrigada.”
Felizmente, nosso tempo acaba e temos de liberar a sala de ensaios para uma
das aulas do primeiro ano. Ansiosa para sair dali, pego depressa minha partitura e
visto meu casaco de lã. Quanto menos tempo perto de Benício , melhor.
Nossa, não suporto esse cara.
Ironicamente, estamos ensaiando uma canção de amor.
“Mesmo horário amanhã?” Ele me fita, esperando a resposta.
“Não, amanhã é às quatro, lembra? Trabalho toda quinta à noite.”
Seu rosto se cobre de desgosto. “A gente já teria essa música na ponta da língua,
sabe, se a sua agenda não fosse tão… concorrida.”
Arqueio uma das sobrancelhas. “Disse o cara que se recusa a ensaiar nos fins de
semana. Porque eu estou disponível tanto nas noites de sábado quanto de
domingo.”
Benício  faz uma careta e vai embora sem dizer uma palavra.
Babaca.
Deixo escapar um suspiro profundo. Então me viro e percebo que Ambar  continua no piano, ainda mordendo o lábio inferior.
“Sinto muito, karol ”
, diz, baixinho. “Quando chamei vocês para cantar minha
música, não achei que Benício  seria tão difícil.”
Minha irritação desaparece quando percebo o quanto ela está chateada. “Ei, não
é culpa sua”
, tranquilizo-a. “Também não imaginei que ele pudesse ser tão filho
da mãe. Mas o cara não deixa de ser um cantor excepcional, então vamos tentar
nos concentrar nisso, tá?”
“Você também é uma cantora excepcional. Por isso escolhi vocês dois. Não
poderia imaginar mais ninguém dando vida a essa música, sabe?”
Sorrio para ela. É um doce de pessoa, sem contar que é uma das compositoras
mais talentosas que já conheci. Todas as músicas do festival têm de ser escritas
por um aluno do curso de composição musical, e, antes mesmo de Ambar  vir falar
comigo, já planejava pedir para usar uma das canções dela.
“Prometo que vou fazer jus à sua música, Ambar . Não liga pros chiliques do Benício .
Acho que ele só discute pelo prazer de discutir.”
Ela ri. “É, deve ser. Até amanhã.”
“Até. Quatro em ponto.”
Aceno de leve, saio da sala e sigo em direção à rua.
Uma das coisas que mais gosto na Briar é o campus. Os prédios antigos e
cobertos com eras se conectam aos outros por caminhos de paralelepípedos
ladeados por olmos enormes e bancos de ferro forjado. A universidade é uma das
primeiras do país, e o rol de ex-alunos ostenta dezenas de pessoas influentes,
inclusive mais de um presidente.
Mas a melhor coisa na Briar é a segurança. É sério, a taxa de criminalidade é
quase zero, o que provavelmente tem muito a ver com a dedicação do reitor
Farrow. A universidade investe uma tonelada de dinheiro nisso, mantendo
câmeras estrategicamente posicionadas e guardas patrulhando o campus vinte e
quatro horas por dia. Para ser sincera, mal reparo neles quando estou circulando
por aí.
Meu alojamento fica a cinco minutos do prédio de música, e suspiro aliviada
quando passo pelas imensas portas de carvalho da Bria. Foi um dia
longo, e tudo o que quero é tomar um banho quente e me arrastar para a cama.
O dormitório que divido com valentina  parece mais uma suíte do que um quarto de
alojamento normal, e essa é uma das vantagens de estar na segunda metade do
curso. Temos dois quartos, uma pequena área comum e até uma cozinha —
menor ainda. O único ponto negativo é que precisamos dividir o banheiro com as
outras quatro meninas do nosso andar, mas, por sorte, nenhuma delas é bagunceira, então as privadas e os chuveiros em geral estão brilhando de limpos.
“Ei. Você demorou hoje”
, diz valu da porta do meu quarto, sugando o
canudinho do copo em sua mão. Está bebendo algo verde, grosso e absolutamente
repugnante, mas é uma visão à qual aprendi a me acostumar. Faz duas semanas
que minha colega de alojamento virou “a louca dos sucos”
, o que significa que,
toda manhã, acordo com o barulho ensurdecedor do liquidificador, enquanto ela
prepara a bebida-refeição nojenta do dia.
“Tive ensaio.” Chuto os sapatos para um canto e jogo o casaco na cama, então
começo a tirar a roupa até ficar só de calcinha e sutiã, apesar de valu ainda estar
junto à porta.
Teve uma época em que eu era tímida demais para ficar nua na frente dela.
Quando dividíamos um quarto duplo no primeiro ano, passei as primeiras
semanas trocando de roupa debaixo da coberta ou esperando que valu saísse do
quarto. Mas o negócio é que, na faculdade, não existe isso de privacidade, e mais
cedo ou mais tarde você tem de aceitar esse fato. Ainda me lembro da vergonha
que senti quando vi os peitos de valu , mas ela não tem o menor pudor — quando
notou que eu estava olhando, deu uma piscadinha e disse: “Tá tudo em cima, né?”.
Depois disso, parei de me vestir debaixo da coberta.
“Então…”
A casualidade com que ela abre a conversa me faz levantar a guarda. Tem dois
anos que moro com valu  Tempo o suficiente para saber que quando ela começa
uma frase com “Então…” lá vem alguma coisa que não quero ouvir.
“O quê?”
, pergunto, pegando meu roupão pendurado atrás da porta.
“Vai ter uma festa na casa Sigma na quarta à noite.” Seus olhos azuis adquirem
um brilho fixo. “Você vai comigo.”
Solto um gemido. “Uma festa de fraternidade? Nem pensar.”
“Ah, vai sim.” Ela cruza os braços. “As provas já acabaram, não tem desculpa. E
você me prometeu fazer um esforço para ser mais sociável este ano.”
Eu tinha mesmo prometido aquilo, mas… o problema é o seguinte: odeio festas.
Fui estuprada numa festa.
Nossa, como detesto essa palavra. Estupro. É uma das poucas que causam aquele
efeito de nó nas vísceras quando você ouve. Feito um tapa estalado na cara ou o
choque de um banho de água gelada na sua cabeça. É feia e desmoralizante, e faço
uma força tremenda para não deixar isso controlar a minha vida. Já trabalhei em
minha mente o que aconteceu comigo. Pode acreditar, trabalhei mesmo.
Sei que não foi minha culpa. Sei que não provoquei nem fiz nada para causar o
que aconteceu. E isso não sepultou minha habilidade de confiar nas pessoas

Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora