72

285 23 5
                                    


Karol


“Não tô gostando disso”
, declaro. “Sério, lindo, minhas pernas tão começando a
doer. Já falei, não sou flexível.”
A risada de Ruggero  vibra através do meu corpo. Meu corpo nu, devo acrescentar,
porque estamos no meio do sexo. Do qual acabo de confessar não estar gostando.
Talvez eu seja mesmo uma assassina de climas.
Mas quer saber? Não estou nem aí. Ainda sou contra esta posição. RUGGERO  está
ajoelhado na minha frente, e meus tornozelos estão em seus ombros. Talvez se ele
não fosse um jogador de hóquei forte e imenso, eu não me sentiria como se
minhas pernas estivessem descansando no alto da porcaria do Empire State,
morrendo de câimbra.
Ainda rindo, Ruggero  se inclina para a frente e meus músculos respiram
aliviados quando escorrego as pernas e as engancho atrás de sua bunda. Na mesma
hora, o ângulo muda, e um gemido escapa de minha boca.
“Melhor?”
, pergunta, com a voz rouca.
“Ai, meu Deus. Isso. Faz isso de novo.”
“Não tenho ideia do que fiz.”
“Você girou os quadris, tipo… uuuhhh… assim.”
Toda vez que me preenche, meu corpo aperta sua ereção. Toda vez que sai, me
sinto vazia, dolorida, desesperada. Estou viciada neste cara. Nos seus beijos e no
seu gosto, na sensação do seu cabelo curto sob meus dedos, e o tendão suave em
suas costas quando cravo as unhas nele.
Ele flexiona os quadris, sua respiração se acelera e ele entra com mais força,
mais fundo, transformando minha visão numa névoa branca. Então leva a mão ao
ponto em que estamos unidos e esfrega meu clitóris, e lá vamos nós. Ele goza
primeiro, mas continua entrando em mim, tremendo com a sensação de alívio.
Seu clímax me excita, e estremeço mais forte, mordendo o lábio para não gritar e
transparecer para os seus amigos as deliciosas sensações que percorrem meu
corpo agora.
Depois disso, ele gira, ficando de costas na cama, e deito em cima dele,
escalando seu corpo como um macaco, para dar beijinhos em seu rosto e pescoço.
“Por que você sempre tem muito mais energia depois do sexo?”
, resmunga.
“Não sei. Não importa.” Beijo todo seu corpo, até deixá-lo rindo de alegria. Sei
que gosta da atenção. Ainda bem, porque não consigo me conter. Por alguma
razão, viro uma máquina de fazer carinhos quando estou perto dele.
A vida está boa de novo. Uma semana se passou desde o dia de Ação de Graças,
e Ruggero  e eu ainda estamos firmes e fortes. Apesar de ocupados. O prazo para a
entrega dos trabalhos de fim de curso está chegando, inclusive o da matéria de
Tamara , com a qual venho ajudando Ruggero . A agenda de treinos deles está mais
abarrotada do que nunca, e a minha de ensaios também, com a preparação para o
festival. Mas pelo menos estou animada com isso de novo.
Jae e eu fizemos um arranjo maravilhoso, e estou confiante de que vai ser um
show e tanto. Mas ainda não perdoei Benício  e Ambar  pelo que fizeram. Ambar  me
mandou várias mensagens, perguntando se podemos nos encontrar e conversar,
mas tenho ignorado. E como juliana  arrumou um lugar exclusivo para eu ensaiar,
numa das salas de coro dos alunos do último ano, não vi ambar  nem Benício  desde que
me abandonaram.
E a cereja no bolo da minha vida maravilhosa? Meu pai ligou na semana
passada com ótimas notícias — eles vão para a casa da tia Nicole no Natal. Já
comprei minha passagem e mal posso esperar para encontrá-los, mas estou
decepcionada que RUGGERO  não possa ir comigo. Eu o convidei, mas as datas não
bateram, porque o time tem um jogo um dia depois da minha viagem e outro
dois dias antes de eu voltar. Então Ruggero  vai passar as férias com Agustín, que,
aparentemente, é de uma cidade a vinte minutos de Hastings.
Batidas altas à porta de Ruggero  me despertam de meus pensamentos felizes. A
porta está trancada, então não fico preocupada que alguém entre, mas ainda puxo
o cobertor por força do hábito.
“Desculpe interromper, meninos e meninas”
, grita Agustín ,
“mas está na hora de
guardar p e v. Temos que sair, R.”
Lanço um olhar vazio para Ruggero . “P e v?” Não consigo entender metade das
siglas e abreviaturas que Agustín  inventa.
Ruggero sorri para mim. “Ah, como assim, sério? Essa até eu entendi. Piada de
adolescente.”
Penso de novo e então coro. “Como exatamente se guarda uma vagina?”
Ele solta um riso. “Pergunte a Agustín . Na verdade, por favor, não pergunte.” Ele
salta da cama e perambula em busca de suas roupas. “Você vem ao jogo depois do
ensaio?”
“Vou, mas acho que não vou conseguir aparecer antes do segundo período.
Argh. Quando chegar, provavelmente só vai ter lugar em pé.”
“Vou pedir a alguém para guardar um lugar para você.”
“Obrigada.”
Dou um pulo no banheiro, me arrumo e volto para o quarto, onde encontro
Garrett na beira da cama, abaixando-se para calçar a meia. Meu coração perde o
compasso diante da visão. Cabelo bagunçado, bíceps flexionados, manchas
vermelhas no pescoço onde o mordisquei. É lindo pra caramba.
Cinco minutos depois, saímos de sua casa e seguimos cada um o seu caminho.
Estou com o carro de lina , então volto para o campus, para ensaiar. Agora que
Benício  está fora da jogada, finalmente posso me divertir cantando de novo.
E como me divirto. Eu e meu violoncelista particular chegamos a um consenso
sobre o fechamento da música, e, duas horas depois, estou dirigindo para a arena
de hóquei da Briar. Mandei uma mensagem para valu, para ver se queria vir ao
jogo comigo, mas está ocupada com Sean, e meus outros amigos estão enterrados
sob montanhas de trabalhos da faculdade, o que me faz agradecer que já tenha
adiantado os meus. A maioria das minhas disciplinas são performance ou teoria
musical, então só precisava me concentrar nos trabalhos de literatura inglesa e
ética, e os dois já estão quase prontos.
Chego à arena mais tarde do que imaginava. O terceiro período acabou de
começar, e fico espantada de ver o 1 a 1 piscando no placar, porque a Briar está
jogando contra um time de Buffalo, da segunda divisão. RUGGERO  tinha certeza de
que não seria um jogo difícil, mas aparentemente estava errado.
Tem um lugar vazio à minha espera atrás do banco do time da casa, cortesia de
uma aluna do último ano chamada Natalie.  Ruggero  já falou dela, mas ainda não a
conhecia. Ao que parece, namora Birdie desde o primeiro ano, o que é
impressionante. Poucos relacionamentos universitários duram tanto.
Natalie é engraçada e gentil, e nos divertimos assistindo ao jogo juntas. Quando
Jorge  leva uma pancada particularmente forte que o faz deslizar pelo gelo, nós
duas suspiramos de nervoso.
“Ai, meu Deus”
, exclama Natalie. “Ele tá bem?”
Felizmente, jorge está bem. Ele limpa o gelo e fica de pé, deslizando em direção
ao banco da Briar para uma mudança de linha. Assim que Ruggero  toca o gelo,
meu pulso acelera. Não dá para ignorar o quanto ele é talentoso. Rápido com os
pés, habilidoso com o taco, forte nas finalizações. Seu primeiro passe alcança o
taco de lionel , que voa sobre a linha azul em direção à zona neutra. Agustín  lança o
disco, e Ruggero o persegue. O jogador de centro do outro time também, e  cotovelos se erguem dentro da área, à medida que o atacante da Buffalo tenta
ganhar a vantagem.
Ruggero  chega primeiro e dá a volta no gol, lançando uma tacada rápida. O
goleiro defende com facilidade, mas o rebote volta direto para lionel . Ele lança o
disco de volta para o goleiro, cuja luva se ergue um segundo tarde demais.
Natalie pula da cadeira e grita até ficar rouca quando o gol de lionel  muda o
placar. Nós nos abraçamos animadas e, daí para a frente, prendemos o fôlego pelos
últimos três minutos de jogo. O outro time luta para ganhar a posse do disco, mas
o jogador de centro da Briar, um aluno de segundo ano, sai na vantagem na
disputa de disco seguinte, e dominamos o restante do jogo, que termina com um
placar final de 2 a 1.
Natalie e eu caminhamos em direção ao corredor, sendo empurradas por todos
os lados feito gado, enquanto descemos a escada.
“Tô tão feliz por você e Ruggero ”
, comemora ela.
O comentário me faz sorrir, porque faz apenas vinte minutos que me conhece.
“Eu também”
, respondo.
“É sério. Ele é um cara tão legal, mas é também tão intenso quando se trata de
hóquei. Quase não bebe, não se envolve com ninguém. Não é saudável ser tão
concentrado em alguma coisa assim, sabia?”
Saímos de perto do rinque, mas não deixamos a arena. Em vez disso, abrimos
caminho pela multidão em direção ao corredor que leva aos vestiários, para
esperar nossos meninos. Ruggero  é o meu. Um pensamento surreal, mas
gosto da ideia.
“Por isso acho que você faz bem pra ele”
, continua. “Ele parece tão feliz e
relaxado toda vez que o encontro.”
Minha coluna fica rígida quando identifico um rosto familiar no meio da
multidão.
O pai de Ruggero .
Está a seis metros de nós, indo na mesma direção. O boné enfiado fundo na
cabeça, mas isso não o impediu de ser notado, porque um grupo de rapazes de
casaco da Briar logo se aproxima para pedir autógrafos. Ele assina os casacos e
uma foto que um deles lhe entrega. Não consigo ver o pôster, mas imagino que
seja uma foto tirada durante um jogo nos seus dias de glória, como as que vi
emolduradas em sua casa. Bruno , a lenda do hóquei.
Agora tentando se realizar através do filho.
Fico tão presa ao meu ódio pelo pai de  Ruggero  que não tomo cuidado por onde
ando, e uma risada assustada salta de minha boca quando esbarro em alguém.
Com força.
“Perdão. Não estava prestando atenção…” O pedido de desculpas morre em meus
lábios quando noto em quem esbarrei.
parece tão surpreso quanto eu.
Na fração de segundo em que nossos olhos se encontram, viro uma estátua de
gelo. Calafrios tomam todos os centímetros de meu corpo. Meus pés ficam
paralisados no chão. Sou arrebatada por ondas de terror uma após a outra.
Não vejo Rob desde o dia em que testemunhou no tribunal — em nome do meu
estuprador.
Não sei o que dizer. Ou fazer. Ou pensar.
Alguém grita: “karol !”.
Viro a cabeça.
Quando retorno o olhar, Rob está se afastando depressa, como se estivesse
tentando escapar de um tiro de revólver.
Não consigo respirar.
Ruggero aparece do meu lado. Sei que é ele, porque reconheço o toque gentil de
sua mão em meu rosto, mas meu olhar permanece fixo em Rob se afastando. Está
vestindo um casaco da Buffalo State College. É lá que estuda? Nunca me preocupei
em descobrir o que aconteceu com os amigos de Aaron. Para que faculdade foram,
o que estão fazendo agora. A última vez que tive algum contato com Rob Delaney
foi de forma indireta. Quando meu pai atacou o pai dele na loja de ferragens, em
Ransom.
“ karol . Olha pra mim.”
Não sou capaz de desviar os olhos de Rob, que ainda não conseguiu sair da
arena. O grupo de amigos com que está parou para conversar com algumas
pessoas, e ele lança um olhar de pânico por cima do ombro, empalidecendo ao
perceber que ainda estou olhando para ele.
“karol . Meu Deus. Você está branca feito um papel. O que aconteceu?”
Também acho que estou pálida. Tão branca quanto Rob. Parece que nós dois
acabamos de ver um fantasma.
Quando me dou conta, minha cabeça está sendo puxada para o lado, as mãos de
Ruggero  segurando meu queixo para forçar o contato visual.
“O que está acontecendo? Quem é aquele cara?” Ele seguiu meu olhar e agora
está observando Rob com uma desconfiança visível.
“Ninguém”
, digo baixinho.
“ karol ”
“Não é ninguém, Ruggero  Por favor.” Viro de costas para a porta, afastando
qualquer tentação de olhar na direção de Rob.
Ruggero  faz uma pausa. Examina meu rosto. Em seguida, prende a respiração.
“Ai, cacete. É o…?” A pergunta horrorizada paira entre nós.
“Não”
, respondo rápido. “Não é. Prometo.” Meus pulmões queimam por falta de
oxigênio, então me forço a inspirar fundo. “É só um cara.”
“Que cara? Qual o nome dele?”
“Rob.” A náusea inunda minha barriga feito um cardume de tubarões. “Rob
Delaney.”
O olhar de Ruggero  permanece fixo sobre meu ombro, o que me diz que Rob
ainda está aqui. Droga, por que não vai embora logo?
“Quem é ele, karol ?”
Por mais que tente, não consigo disfarçar que fiquei completamente sem chão.
Meu rosto se desfaz, e sussurro: “É o melhor amigo de Aaron. Um dos caras que
testemunharam contra mim depois do…”.
Ruggero  já está se afastando depressa.

Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora