a míseros três metros de distância — e isso em dois meses. Agora, em
menos de uma semana, tivemos duas conversas, e, a menos que esteja imaginando
coisas, ele estava prestes a me convidar para sair, antes de Ruggero interromper.
Sento na cadeira de sempre, ao lado de Luna , que me cumprimenta com um
sorriso. “Oi”
, diz ela.
“Oi.” Abro a bolsa e pego um caderno e uma caneta. “Como foi o fim de
semana?”
“Um inferno. Tive uma prova de química bizarra hoje de manhã e virei a noite
estudando.”
“E como foi?”
“Ah, moleza.” Ela sorri feliz, mas a alegria desaparece depressa. “Agora só
preciso me sair melhor na segunda chamada de sexta, e tudo vai ficar bem no
mundo de novo.”
“Você recebeu meu e-mail, não recebeu?” Tinha mandado uma cópia da minha
prova para ela, no início da semana, mas Luna não chegou a responder.
“Recebi. Desculpa não ter escrito, precisava me concentrar em química. Estou
pensando em dar uma olhada nas suas respostas hoje à noite.”
Uma sombra cai sobre nós, e quando me dou conta, Ruggero ocupa a cadeira ao
meu lado. “Karol , tem uma caneta sobrando?”
As sobrancelhas de luna quase batem no teto, e ela me encara como se, nos
últimos três segundos, tivesse brotado um cavanhaque na minha cara. Não a
culpo. Sentamos uma do lado da outra desde o início do semestre, e não lancei
um olhar sequer na direção de Ruggero , muito menos falei com ele.
Luna não é a única que está fascinada por esta nova disposição dos lugares.
Quando olho pelo corredor, noto Sebastian nos observando com uma expressão
indecifrável no rosto.
“Karol ? Caneta?”
Volto-me para Ruggero . “Você veio para a aula despreparado? Que surpresa.”
Abro a bolsa de novo e procuro uma caneta; em seguida, enfio-a em sua mão.
“Obrigado.” Ele me oferece aquele sorriso arrogante antes de abrir seu caderno
numa página limpa. Em seguida, inclina-se para a frente e dirige-se a Luna
“Prazer, Ruggero .”
Ela fita, boquiaberta, a mão estendida dele e, enfim, a aperta. “Luna ”
, responde.
“Prazer.”
Tamara chega logo em seguida, e, enquanto Ruggero volta sua atenção para o
tablado, luna me lança outro olhar de “o que foi isso”. Levo os lábios bem perto
de seu ouvido e sussurro: “Somos meio que amigos agora”.“Ouvi isso”
, se intromete Ruggero “E não tem nada de ‘meio’ nessa história.
Somos melhores amigos, Luna . Não deixe a Karol dizer o contrário.”
Luna ri baixinho.
Só consigo deixar escapar um suspiro.
A aula de hoje se concentra em algumas questões bem pesadas. Sobretudo, o
conflito entre a consciência de um indivíduo diante de sua responsabilidade com
a sociedade. Tamara dá os nazistas como exemplo.
Não preciso nem dizer que a próxima hora e meia é bem deprimente.
Depois da aula, estou morrendo de vontade de terminar a conversa com Sebastian ,
mas Ruggero tem outros planos. Em vez de me deixar ficar, ou melhor, de disparar
em linha reta até meu jogador de futebol preferido, segura meu braço com
firmeza e me ajuda a levantar. Dou uma olhadinha na direção de Sebastian , que está
descendo o corredor depressa, como se quisesse nos alcançar.
“Ignore o cara.” A voz de Ruggero é quase inaudível ao me conduzir pela porta.
“Mas quero falar com ele”
, reclamo. “Tenho certeza de que ia me convidar para
sair antes.”
Ruggero simplesmente segue em frente, a mão parecendo um torno de ferro em
volta do meu antebraço. Preciso correr para acompanhar seus passos largos e
estou morrendo de raiva quando saímos no ar fresco de outubro.
Me sinto tentada a olhar por cima do ombro para ver se Sebastian está atrás de nós,
mas sei que Ruggero vai brigar comigo se o fizer, então resisto.
“O que foi isso?”
, exijo saber, tirando a mão dele de cima de mim.
“Você deveria ser inatingível, lembra? Tá facilitando muito as coisas pra ele.”
A raiva borbulha dentro de mim. “A questão toda era fazer com que ele me
notasse. Bem, ele está me notando. Por que não posso parar de fazer joguinhos?”
“Você despertou o interesse dele”
, diz Ruggero , enquanto caminhamos pela trilha
de paralelepípedos em direção ao pátio. “Mas se você quiser manter esse interesse,
precisa fazê-lo trabalhar por isso. Homens gostam de desafios.”
Quero argumentar, mas talvez ele tenha razão.
“Segure a onda até a festa de Maxwell”
, aconselha.
“Sim, senhor”
, resmungo. “Ah, por falar nisso, vou ter que desmarcar a nossa
aula de hoje. Estou exausta da maratona de ontem e, se não dormir um pouco,
vou ficar um zumbi pelo resto da semana.”
Ruggero não parece feliz. “Mas a gente ia começar a parte pesada hoje.”
“
“Sabe o que a gente pode fazer? Vou enviar um e-mail com um exemplo de
pergunta para você fazer uma redação, algo que a Tamara inventaria. Você tem
duas horas para escrever alguma coisa, e amanhã a gente repassa juntos. Assim,
vou ter uma noção do que precisamos trabalhar.”
“Certo”
, aceita ele. “Tenho treino de manhã e aula depois. Pode vir ao meio-
dia?”
“Claro, mas tenho que sair às três, por causa do ensaio.”
“Legal. Vejo você amanhã, então.” Ele bagunça meu cabelo como se eu fosse
uma criança de cinco anos de idade e vai embora, caminhando descontraído.
Meus lábios se curvam num sorriso irônico ao vê-lo se afastar, o casaco do time
de hóquei preto e prata se colando ao peito ao andar na direção do vento. Não sou
a única a observá-lo — várias mulheres também voltam a cabeça em sua direção,
e quase posso ver suas calcinhas derretendo quando ele exibe aquele sorriso
canalha para todo mundo ver.
Revirando os olhos, vou na direção oposta. Não quero chegar atrasada ao ensaio,
principalmente porque Benício e eu ainda não chegamos a um acordo sobre a sua
ideia ridícula de incluir um coral.
Mas, quando entro na sala de música, não vejo Benício em lugar nenhum.
“Oi”
, cumprimento Âmbar , que está ao piano, estudando as partituras.
Ela ergue a cabeça loura, com um sorriso desconfortável no rosto. “Ah, oi.” Faz
uma pausa. “ Benício não vem hoje.”
Sinto a irritação aflorando em meu estômago. “Como assim ele não vem?”
“Mandou uma mensagem agorinha. Tá com enxaqueca.”
Tudo bem. Sei que um monte dos nossos colegas de turma, entre eles Benício , saiu
para beber na noite passada, porque um deles me mandou uma mensagem me
convidando quando estava assistindo a Breaking Bad com Ruggero . Não é muito
difícil de deduzir: Benício está de ressaca, e é por isso que não vem.
“Mas ainda podemos ensaiar”
, diz Âmbar Desta vez, o sorriso transparece em seus
olhos. “Pode ser bom repassar a música inteira sem parar para discutir a cada
cinco segundos.”
“Pode, só que tudo o que fizermos hoje ele vai vetar amanhã.” Sento numa
cadeira perto do piano e lanço um olhar severo na direção dela. “Essa ideia de
coral é besteira, Âmbar . Você sabe que é.”
Ela concorda com a cabeça. “Eu sei.”
“Então por que não me apoia?”
, indago, incapaz de mascarar o ressentimento.
Um rubor aparece em seu rosto pálido. “Eu…” Ela engole em seco, visivelmente.
“Pode guardar um segredo?”
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Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)
FanfictionO destino nos fez inimigos. Eu nos fiz amantes. Em um mundo diferente, seríamos perfeitos um para o outro. Mas não estamos nesse mundo.