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KAROL


No meu segundo dia de volta ao campus, embarco em minha própria missão:
Operação Só Acredito Vendo. Porque está na cara que o único jeito de convencer
Ruggero  a recuar é provar a ele que estou seguindo em frente. O que significa que
preciso encontrar um cara para sair comigo. Para ontem.
A primeira oportunidade surge quando passo no Café Hut para pegar um
chocolate quente. Está nevando horrores lá fora, e bato a neve das botas no
capacho perto da porta antes de entrar na fila. É então que percebo que o cara na
minha frente parece conhecido. Quando faz seu pedido e vai até o balcão para
recebê-lo, vejo seu perfil de relance e me dou conta de que se trata de Lionel

“Oi, lionel ”
, cumprimento depois de pedir minha bebida e me juntar a ele no
balcão.
Lionel  se enrijece visivelmente ao som da minha voz. “Ah. Oi.” Seus olhos
disparam pelo ambiente, como se não quisesse que ninguém nos visse
conversando.
“Escute”
, começo. “Estava pensando, nunca mais nos falamos desde aquela festa
em outubro…”
A barista coloca um copo de isopor na frente de Lionel , que o pega tão rápido
que nem sequer vejo sua mão.
Continuo depressa. “Achei que seria bom colocar a conversa em dia e…”
Lionel  já está se afastando de mim. Meu Deus, por que parece tão aterrorizado?
Será que pensa que vou esfaqueá-lo ou algo assim?
“… talvez você queira tomar um café um dia desses”
, termino.
“Ah.” Afasta-se ainda mais. “Hmm. Obrigado pelo convite, mas… hmm, é, não
bebo café.”
Fico olhando para o copo em sua mão.
Ele segue meus olhos e engole em seco. “Desculpa, tenho que ir. Vou encontrar
alguém… do outro lado do campus e… hmm… bem longe, então estou com um  pouco de pressa.”
Bom, pelo menos não está mentindo sobre estar com pressa, porque voa porta
afora como um velocista olímpico.
Certo, isso foi… estranho.
Franzindo a testa, pego meu chocolate quente e vou na direção da Bristol House.
É um processo lento, porque a neve está caindo mais rápido do que a equipe de
limpeza do campus é capaz de escavar, e minhas botas afundam meio metro a
cada passo. Mas o ritmo forçado me permite encontrar outro elemento de
estranheza. Quando estava saindo com Ruggero , as pessoas me cumprimentavam o
tempo todo. Hoje, todo mundo por quem passo parece me evitar, principalmente
os homens.
É assim que os amish desonrados se sentem quando são banidos? Porque
ninguém está olhando para mim, e não gosto disso.
Também não entendo o que está acontecendo.
No caminho até o alojamento, decido ligar para Simon  e ver se ele quer sair
hoje à noite. Talvez ir ao Malone’s — não, Ruggero  poderia estar lá. Outro bar na
cidade, então. Ou o salão de festas da faculdade. Qualquer lugar em que eu poderia
conhecer um cara.
Perto da Bristol House, o garoto oportunidade número dois sai do prédio ao
lado. É Sebastian , e, ao contrário do restante do mundo, ergue a mão para um aceno.
Aceno de volta, em grande parte pelo alívio de que alguém pareça feliz em me
ver.
“Oi, estranha”
, cumprimenta ele, vindo na minha direção.
Está com o cabelo de quem acabou de sair da cama, e, no entanto, não acho
mais isso tão bonitinho. Só o faz parecer um desleixado. Ou talvez um farsante,
porque tenho certeza de que posso ver gel nos fios, o que significa que perdeu
tempo criando o estilo “não estou nem aí”. E isso faz dele um mentiroso.
Também caminho em sua direção. “Oi. Como foi de férias?”
“Bem. Não chove muito em Seattle nesta época do ano, por isso tive que me
contentar com uma tonelada de neve. Andei de snowboard, esquiei, fiz
hidromassagem. Foi divertido.” As covinhas de Sebastian  aparecem e não provocam
nada em mim.
Mas… que inferno, é o único cara que olhou para mim hoje. Pedintes não
contam, certo?
“Parece divertido. Hmm, então…”
Não.
Não, não, não. Simplesmente… não.

Não posso fazer isso. Não com este cara. Ruggero  me ajudou a fazer ciúmes em
Sebastian  em outubro. Cancelei um encontro com ele quando percebi que queria estar
com Ruggero  E sei o quanto Ruggero  não gosta de sebastian.
Não posso, de jeito nenhum, abrir esta porta, e não é apenas porque meus
sentimentos por Sebastian  sejam inexistentes, mas porque seria como esfaquear
Ruggero  no peito.
“Então, oi”
, termino. “Pois é… Só vim dizer oi.” Ergo meu copo de chocolate
quente como se de alguma forma fizesse parte desta conversa. “E vou lá dentro
beber isto. Bom ver você.”
Sua voz irritada faz minhas costas se arrepiarem. “O que diabos foi isso?”
,
pergunta.
A culpa borbulhando em meu estômago me impele a virar de volta para ele.
“Desculpa”
, digo, com um suspiro. “Sou uma idiota.”
Um sorriso irônico surge em seus lábios. “Bom, eu não ia falar nada, mas…”
Caminho de volta até ele, as mãos enluvadas ainda envolvendo o copo. “Nunca
quis te dar falsas esperanças”
, admito. “Quando disse que ia sair com você, era
algo que queria muito na época. De verdade.” A dor se instala em minha garganta.
“Não achei que fosse me apaixonar por ele, Sebastian ”
Agora ele parece apenas resignado. “E as pessoas sabem quando vão se apaixonar
por alguém? Acho que é algo que simplesmente acontece.”
“É, acho que sim. Ele… me pegou de surpresa.” Encontro seus olhos, torcendo
para que veja o arrependimento genuíno que estou sentindo. “Mas eu estava
interessada em você. Nunca menti sobre isso.”
“Estava, é?” Ele soa triste.
“Desculpa”
, digo mais uma vez. “Eu… droga, estou um caco, e ainda apaixonada
por Ruggero , mas se você quiser começar de novo, como amigos, estou cem por
cento dentro. Podemos falar de Hemingway de vez em quando.”
Sebastian  franze os lábios. “Como você sabe que gosto de Hemingway?”
Ofereço-lhe um leve sorriso. “Hmm. Talvez eu tenha feito umas pesquisas
quando tinha uma queda por você. Viu só? Não menti sobre isso.”
Em vez de fazer o sinal da cruz e gritar “Psicopata!”
, ele ri baixinho. “É, acho que
não. Bom saber, pelo menos.”
Depois de um silêncio constrangedor, Sebastian  enfia as mãos nos bolsos da
jaqueta. “Tudo bem. Topo tentar esse negócio de amigo. Mande uma mensagem se
quiser tomar um café um dia desses.”
Ele se afasta, levando consigo um peso do meu peito.
Em meu quarto, parabenizo-me por ter evitado um desastre em potencial e   volto a me remoer com minha missão. Valu está em Nova York até amanhã. Carolina
também está viajando. Quando mando uma mensagem para Simon , ele diz que não
pode sair porque está estudando para sua última prova. Quando escrevo para Meg,
ela explica que tem planos com Jeremy.
Suspirando, repasso a lista de contatos em meu telefone até que um nome
chama minha atenção. Na verdade, quanto mais penso nisso, mais gosto da ideia
de fazer essa ligação.
O namorado de valu  atende depois de vários toques. “E aí, como vai?”
“Oi. É LKarol .”
“Não brinca”
, zomba Sean. “Tenho seu telefone.”
“Ah, certo.” Hesito. “Então, sei que valu  ainda não voltou da casa do pai, mas
queria saber se…” Paro um segundo e, em seguida, deixo escapar: “O que você vai
fazer hoje? Quer sair?”.
O namorado da minha melhor amiga fica em silêncio. Não o culpo. Nunca
liguei para ele e o chamei para sair sem valu  antes. Até aí, nunca liguei para ele,
ponto.
“Você entende que isso é estranho, né?”
, diz Sean, com franqueza.
Solto um suspiro. “Entendo.”
“O que tá acontecendo? Tá só entediada ou algo assim? Ou isso é uma loucura
do tipo dar em cima do namorado da melhor amiga? Espera — valu  tá ouvindo
isso?” Sean levanta a voz. “valu , se você estiver aí, eu te amo. Eu nunca, nunca iria
trair você com a sua melhor amiga.”
Solto uma risada junto ao telefone. “Ela não tá na linha, seu bobão, mas é bom
saber. E, vai por mim, não tô dando em cima de você. Eu… só… achei que a gente
poderia sair com alguns dos seus amigos da fraternidade hoje. Talvez você
pudesse, sabe, me apresentar a algum deles.”
“Tá falando sério?”
, exclama. “De jeito nenhum. Você é boa demais para
qualquer um desses idiotas, e tenho certeza de que valu  me mataria se eu
apresentasse você a algum deles. Além do mais…”
, ele se cala, abruptamente.
“Além do mais o quê?”
, exijo.
Ele não responde.
“Termine essa frase, Sean.”
“Melhor não.”
“Melhor sim.” Minhas suspeitas vão a mil. “Ai, meu Deus.” Solto um suspiro.
“Você sabe por que todos os homens da universidade de repente estão me tratando
como se eu tivesse uma DST?”
“Talvez…”
, diz ele.

“Talvez?” Quando Sean não responde, solto um gemido de frustração. “Juro por
Deus, se você não me disser o que sabe, vou…”
“Tudo bem, tudo bem”
, ele interrompe. “Vou contar.”
E contou tudo.
E a minha resposta é um grito alto de indignação.
“Ele fez o quê?”
Vinte minutos depois, irrompo pelas portas da arena de hóquei da Briar. O ar
frio envolve meu rosto na mesma hora, mas não consegue arrefecer o fogo
queimando dentro de mim. São cinco e meia, o que significa que o treino de
Ruggero  já acabou, então passo pelas portas do rinque e vou direito para os
vestiários nos fundos da arena. Estou com tanta raiva que meu corpo inteiro
treme.
Ruggero  chegou ao limite. Não, ele foi tão além que nem dá saber onde ficou a
porcaria do limite. E de jeito nenhum vai se safar dessa palhaçada infantil e
ridícula.
Chego à porta do vestiário quando um dos jogadores está saindo.
“Ruggero  tá aí?”
, berro.
Ele parece assustado de me ver. “Tá, mas…”
Passo por ele e agarro a maçaneta da porta.
O cara protesta atrás de mim. “Não acho que você devesse entrar no…”
Irrompo no vestiário e…
Pênis!
Minha Nossa Senhora.
Pênis para todos os lados.
Um horror me invade quando me dou conta do que estou vendo. Ai, Deus.
Entrei numa convenção de pênis. Pênis grande, pênis pequeno, pênis gordo, pênis
em forma de pênis. Não importa para onde movo a cabeça, para todo lado que
olho, vejo pênis.
Meu arquejo mortificado chama a atenção de todos os pênis — digo, de todos os
jogadores no vestiário. Num piscar de olhos, toalhas aparecem, mãos cobrem os
pênis e corpos se atrapalham, enquanto permaneço na entrada, vermelha como
um tomate.
“karol ?” Um Agustín  de peito nu sorri para mim, um dos ombros apoiados
contra o armário. Parece estar se esforçando muito para não rir.
“Pênis…  Agustin”
, deixo escapar. “Oi.” Faço o possível para evitar contato visual

com os homens seminus andando de um lado para o outro, todos rindo divertidos
ou brancos de susto. “Estou procurando Ruggero .”
Com um sorriso mal contido, Agustín  aponta com o polegar uma porta nos
fundos do vestiário que imagino ser onde ficam os chuveiros, porque posso ver o
vapor saindo por ela.
“Obrigada.” Ofereço-lhe um olhar agradecido e sigo na direção da porta, bem no
instante em que um vulto emerge do lugar embaçado.
jorge aparece, e vejo seu pênis.
“Oi, karol ”
, me cumprimenta. Indiferente à minha presença, ele passeia nu em
direção ao seu armário, como se me encontrar aqui fosse uma ocorrência diária.
Sigo em frente, pensando se devo fechar os olhos, mas, felizmente, todos os
chuveiros têm portas baixas e são separados por divisórias. À medida que
caminho pelo piso de azulejos, cabeças se viram na minha direção. Uma delas
pertence a Gastón , que arregala os olhos quando passo por ele.
“karol ?”
, exclama.
Ignoro-o e continuo caminhando até achar as costas que me são familiares. Meu
olhar dá uma conferida rápida, e, sim, pele dourada, tatuagem, cabelo escuro. É
Ruggero  sem dúvida.
Ao som dos meus passos, ele vira e fica boquiaberto com a minha presença.
“karol ?”
Paro diante da porta, faço minha cara mais feia e grito: “Qual é seu problema?”.

Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora