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Karol


“Não”
, murmuro.
“Mentira.” Ele mantém a mão firme no meu queixo enquanto corre os polegares
sob meus olhos. “Por que tá chorando?”
“Não estou chorando.”
“Estou enxugando suas lágrimas neste segundo, karol . O que significa que está
chorando. Agora me diga o que houve de errado.” Seu rosto de repente
empalidece. “Ai, merda, alguém chegou em você ou algo assim? Demorei só uns
minutos. Desculpa…”
“Não, não é isso”
, interrompo. “Juro.”
O rosto de Ruggero  relaxa. Mas só um pouco. “Então por que você tá chateada?”
Engulo o nó na garganta. “Esbarrei com meu ex aí fora.”
“Ah.” Ele parece assustado. “O cara que você namorou no ano passado?”
Faço que sim de leve com a cabeça. “Tava com a namorada nova.”
“Merda. Deve ter sido estranho.”
“Mais ou menos.” A hostilidade vai crescendo dentro de mim feito um exército
de formiguinhas. “Ela é linda, por sinal. Tipo, linda mesmo.” O rancor se
intensifica, embrulhando minhas entranhas e enrijecendo meu queixo. “Aposto
que tem orgasmos que duram horas e, no auge, grita ‘vou gozar’!”
A preocupação lampeja nos olhos de Ruggero . “Hmm. É. Tudo bem. Não entendi
nada do que você falou agora, mas tudo bem.”
Só que não está nada bem. Não está.
Por que achei que poderia ser uma universitária normal? Não sou normal. Estou
quebrada. Continuo dizendo que o estupro não me destruiu, mas destruiu sim.
Aquele filho da puta não roubou só a minha virgindade, mas também a minha
capacidade de transar e sentir prazer como uma mulher saudável com sangue nas
veias.
Então como vou ter um relacionamento de verdade? Com mike , com Sebastian ,
com qualquer um, quando não posso…
Com um movimento dos ombros, afasto abruptamente as mãos de Ruggero  do
meu rosto. “Esqueça. Estou sendo idiota.” Erguendo o queixo, dou um passo de
volta para o bar. “Vamos, quero outra bebida.”
“karol .”
“Quero outra bebida”
, rebato, então o atropelo e sigo até o bar.

Ruggero


Karol  está pra lá de bêbada.
Mais do que isso, se recusa a ir para a casa. É uma da manhã, e a festa se mudou
do bar para a minha casa, e, por mais que tente, não consigo convencê-la a
encerrar a noite.
É cada vez mais crucial que eu a leve de volta para o alojamento. Minha sala de
estar está cheia de jogadores de hóquei e marias-patins, todos no mínimo no
número oito da minha escala de bêbados: prestes a jogar a inibição pela janela e
cometer erros terríveis.
Lionel  acaba de arrastar uma karol  risonha para o centro da sala e os dois
começam a dançar “Baby, I Like it Raw”
, do Ol’ Dirty Bastard, estrondando no
volume máximo.
Karol  não havia se movido de forma sugestiva quando cantou Lady Gaga
antes, mas começou a fazer isso agora. Passou de Miley Cyrus do Disney Channel
para Miley em Modo Twerk no último grau, e sinto que preciso dar um fim nisso,
antes que ela vá direto para a Miley Vamos Fazer um Vídeo Caseiro de Sexo.
Espera — será que Miley fez mesmo um vídeo caseiro de sexo? Merda, quem
estou enganando? Claro que fez.
Caminho resoluto até karol  e lionel  e os separo à força, pousando a mão com
firmeza no ombro de karol . “Preciso falar com você”
, grito por cima da música.
Ela faz beicinho. “Estou dançando!”
“Estamos dançando”
, reclama lio, com a fala arrastada.
Jogo duro com meu colega de time. “Vai dançar com outra pessoa”
, retruco.
Como se estivesse só esperando a deixa, uma parceira de dança disposta aparece
do nada e puxa lio para seus braços. Lio esquece karol , o que me permite
arrastá-la para fora da sala sem mais reclamações.
Passo a mão ao redor do seu braço, levo-a para o segundo andar e só solto
quando alcançamos a segurança tranquila do meu quarto. “A festa acabou”
,
anuncio.
“Mas estou me divertindo”
, reclama.

“Sei que está.” Cruzo os braços. “Você está se divertindo demais.”
“Você é mau.” Com um suspiro exagerado, karol  se joga de costas na cama.
“Estou com sono.”
Sorrio. “Vamos, vou levar você de volta para o alojamento.”
“Não quero.” Ela estica braços e pernas como se estivesse fazendo anjos de neve
na minha cama. “Sua cama é tão grande e confortável.”
Então suas pálpebras se fecham, e ela fica imóvel, com um último suspiro
profundo escapando de seus lábios.
Sufoco um gemido quando percebo que está a segundos de pegar no sono, mas
então decido que seria melhor deixá-la dormir aqui e levá-la para casa de manhã.
Porque se eu a levar agora e ela tiver outro surto, não vou estar lá para mantê-la
fora de problemas.
“Tudo bem”
, digo, com um aceno de cabeça. “Fique aqui e durma, Bela
Adormecida.”
Ela bufa. “Isso faz de você o meu príncipe?”
“Pode apostar.” Vou até o banheiro e reviro o armário de remédios até encontrar
um analgésico. Então sirvo um copo de água, sento na beira da cama e forço
Karol  a se sentar também. “Tome dois destes e engula a água toda”
, ordeno,
colocando os dois comprimidos na palma da mão dela. “Confie em mim, amanhã
você vai me agradecer.”
Enfiar comprimidos e água goela abaixo de alguém não é novidade para mim.
Faço isso com meus colegas de time o tempo todo. Sobretudo lio, que gosta de
encher o caneco, e não apenas em seu aniversário.
Kah  segue minhas instruções obedientemente, antes de cair de novo no
colchão.
“Muito bem.”
“Estou com calor”
, murmura. “Por que tá tão quente aqui?”
Meu coração literalmente para de bater, quando ela começa a tirar a calça
legging.
O tecido se embola em seus joelhos, fazendo-a resmungar. “ Ruggero !”
Tenho que rir. Com pena, me inclino para ajudá-la, puxando a calça de suas
pernas e fazendo o possível para ignorar a pele lisa e sedosa sob meus dedos.
“Pronto”
, digo, com voz firme. “Melhor?”
“Ahaaaammm.” Ela segura a bainha da camisa.
Puta merda.
Afasto os olhos e tropeço em direção ao meu armário para encontrar algo com
que ela possa dormir. Pego uma camiseta velha, respiro fundo e me viro.

Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora