“Você prefere pagar dez dólares para voltar para casa do que aceitar uma carona
minha de graça?”
Sua observação sarcástica acertou na mosca. Porque sim, definitivamente confio
mais num taxista empregado pela universidade para me levar para casa do que em
Ruggero . Não entro em um carro com estranhos. Ponto.
Ruggero semicerra os olhos como se tivesse lido meus pensamentos. “Não vou
tentar nada, sevilla É só uma carona para casa.”
“Volte para a festa, Ruggero . Seus amigos devem estar se perguntando onde você
se meteu.”
“Vai por mim, eles não ligam a mínima para onde estou. Só estão interessados
em encontrar uma menina bebaça pra comer.”
Engasgo. “Meu Deus. Você é nojento, sabia?”
“Não, só sincero. Além do mais, não disse que eu estou interessado nisso. Não
preciso embebedar uma mulher para dormir comigo. Elas aparecem sóbrias e por
vontade própria.”
“Parabéns.” Solto um grito quando ele puxa o telefone da minha mão. “Ei!”
Para minha surpresa, ele vira a câmera na sua direção e tira uma foto.
“O que você está fazendo?”
“Pronto”
, diz, me devolvendo o aparelho. “Pode mandar essa carinha bonita para
toda a sua lista de contatos e dizer que eu estou te levando para casa. Se você
aparecer morta amanhã, todo mundo vai saber quem foi o responsável. E, se
quiser, pode deixar o dedo no botão de chamada de emergência o tempo inteiro,
caso precise ligar para a polícia.” Ele solta um suspiro exasperado. “Posso te levar
pra casa agora?”
Embora a ideia de ficar esperando um táxi em pé do lado de fora, sem casaco,
não me agrade, faço uma última exigência. “Quanto você bebeu?”
“Meia cerveja.”
Ergo uma das sobrancelhas.
“Meu limite é uma”
, insiste ele. “Tenho treino amanhã de manhã.”
Minha resistência se esvai diante do olhar de franqueza em seu rosto. Já ouvi
muitos boatos a respeito de Ruggero , mas nenhum deles envolvendo álcool ou
drogas, e o serviço de táxi da universidade é famoso por demorar horrores, por
isso, sério mesmo, acho que não vou morrer se passar cinco minutos no carro
com o cara. Se eu me irritar, posso ignorá-lo sem problemas.
Ou melhor, quando eu me irritar.
“Tudo bem”
, aceito. “Pode me levar pra casa. Mas isso não significa que vou dar
aulas para você.”
Seu sorriso é o cúmulo da presunção. “No carro a gente discute.”
Karol Sevilla está a fim de um jogador de futebol americano. Não dá para
acreditar nisso, mas como já a ofendi uma vez hoje, tenho de pisar em ovos se
quero dobrar a menina.
Espero até estarmos no Jeep e coloco o cinto antes de lançar, com cuidado, a
pergunta. “E aí, há quanto tempo você quer pegar… digo, fazer amor com. Sebastian ?”
Ela não responde, mas posso sentir seu olhar mortal em meu rosto.
“Deve ser bem recente, já que ele só foi transferido há dois meses.” Pressiono os
lábios. “Certo, vamos considerar que faz um mês.”
Sem resposta.
Viro-me para ela de relance e vejo que seu olhar é ainda mais ameaçador. No
entanto, mesmo com a expressão fulminante, continua gata. Tem um dos rostos
mais interessantes que já vi — as maçãs do rosto bem arredondadas, a boca um
tanto arrebitada, e, combinados com a pele morena, os olhos verdes vívidos e uma
pintinha perto dos lábios. O visual é quase exótico. E o corpo… cara, agora que
reparei nele, não consigo “desreparar”.
Mas me lembro de que não estou levando karol para casa na esperança de me
dar bem. Preciso muito dela, e dormirmos juntos só estragaria as coisas.
Hoje, depois do treino, o treinador me chamou num canto e me deu um sermão
de dez minutos sobre a importância de manter as notas na média. Bem, chamar
aquilo de sermão é bondade minha. Suas palavras exatas foram: “Mantenha as notas
azuis, ou vou enfiar o pé com tanta força na sua bunda que você vai passar anos
sentindo o gosto da graxa do meu sapato na boca”.
Inteligente que sou, perguntei se as pessoas ainda engraxam o sapato, e ele
respondeu com uma sequência de impropérios eloquentes, antes de sair feito um
furacão.
Não estou exagerando quando digo que hóquei é tudo na vida para mim — e
acho que eu não teria escolha, sendo filho de um fodão do rinque como meu pai
é. O velho tinha meu futuro inteirinho planejado quando eu ainda estava na
barriga da minha mãe — aprender a patinar, aprender a bater com o taco, chegar à liga profissional, fim. Afinal de contas, Bruno pasquerelli tem uma reputação a zelar.
Quer dizer, imagina só como ele se sentiria se o filho não virasse um jogador
profissional…
Não vou negar, tem um quê de sarcasmo aí. E aqui vai uma confissão: não gosto
do meu pai. Ou melhor, eu o odeio. A ironia é que o filho da mãe acha que tudo
que fiz foi por ele. Os treinos pesados, os hematomas pelo corpo inteiro, me matar
vinte horas por semana para progredir no rinque. Ele é arrogante o suficiente para
acreditar que faço tudo isso por ele.
Mas está errado. Faço por mim. E, em menor grau, para superar o meu pai. Para
ser melhor do que ele.
Não me leve a mal — adoro o jogo. Vivo pelo barulho da torcida, a sensação do
ar gelado no rosto ao voar sobre o gelo, o som do disco quando acerto uma tacada
que acende a luz do gol. Hóquei é adrenalina. É empolgante. É… relaxante até.
Olho para karol mais uma vez, imaginando o que fazer para persuadi-la,
quando, de repente, percebo que estou encarando essa situação com o Sebastian de
forma errada. Porque, de fato, não acho que ela seja o tipo dele… mas como é que
ele pode ser o dela?
Sebastian é do tipo forte e calado, mas já conversei com o cara o suficiente para
enxergar por debaixo da máscara. Faz pinta de misterioso para atrair as garotas e,
assim que elas mordem a isca, ele abusa do seu charme para entrar debaixo da
saia delas.
Então por que uma menina centrada como karol sevilla ficaria babando por
um cafajeste feito Sebastian ?
“É só tesão ou você quer namorar com ele?”
, pergunto, curioso.
Um suspiro exasperado ecoa dentro do carro. “Será que dá para mudar de
assunto?”
Dou seta para a direita e me afasto da rua das repúblicas, em direção ao campus.
“Me enganei a seu respeito”
, digo, com franqueza.
“Como assim?”
“Achei que você fosse mais corajosa. Destemida. Não alguém que fizesse esse
drama todo só para admitir que está a fim de um cara.”
Contenho o sorriso ao ver que ela fechou a cara. Não me surpreende que tenha
acertado na mosca. Sou bom de ler as pessoas e sei muito bem que karol Sevilla
não é do tipo que recusa um desafio, mesmo que seja um desafio velado.
“Tudo bem. Você venceu.” Parece estar falando por entre os dentes. “Talvez eu
esteja a fim dele. Um pouquinho.”
Meu sorriso se abre. “Nossa, foi tão difícil assim?” Tiro o pé do acelerador
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Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)
FanficO destino nos fez inimigos. Eu nos fiz amantes. Em um mundo diferente, seríamos perfeitos um para o outro. Mas não estamos nesse mundo.