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Karol

“Nada.” Sua garganta se move à medida que ele engole em seco. “É só que…
aquela música…”
“O que tem?”
“Traz memórias, só isso.” Ele faz uma pausa tão longa, que acho que não vai
continuar, mas afinal acrescenta: “Era a música preferida da minha mãe. Tocaram
no velório dela”.
Perco o fôlego com a surpresa. “Ah. Ai, Ruggero , sinto muito.”
Ele dá de ombros, como se não ligasse para nada no mundo.
“ Ruggero …”
“Olhe, era dançar ou arrancar os cabelos, entendeu? Então, sim, obrigado pela
dança.” Ele me evita quando tento pegar seu braço. “Preciso ir ao banheiro. Você
vai ficar bem aqui por alguns minutos?”
“Vou, mas…”
Ele se afasta antes que eu possa terminar.
Fico observando suas costas, lutando contra uma onda de tristeza que me fecha
a garganta. Fico dividida enquanto o observo ir embora. Quero ir atrás e obrigá-lo
a falar sobre o assunto.
Não, preciso ir atrás.
Ajeito os ombros e vou em frente — apenas para parar imóvel logo adiante, cara
a cara com o meu ex-namorado.
“mike !”
, solto um gritinho estridente.
“karol … oi.” mike  fica visivelmente desconfortável quando nossos olhares se
cruzam.
Levo um segundo para perceber que não está sozinho. Tem uma ruiva alta ao
seu lado… de mãos dadas.
Meu pulso acelera, porque não vejo mike  desde que nos separamos, no inverno
passado. Ele estuda ciência política, e não temos nenhuma matéria em comum.
Nossos círculos sociais também não costumam se cruzar. Provavelmente nem
teríamos nos conhecido se valu não tivesse me arrastado para aquele show em
Boston, no ano passado. Era um lugar pequeno, só com bandas locais, e mike  era
o baterista de uma delas. Passamos a noite inteira conversando, descobrimos que
nós dois estudávamos na Briar, e ele acabou nos levando de volta ao campus
naquela noite.
Depois disso, nos tornamos inseparáveis. Ficamos juntos por oito meses, e eu
era perdida e inequivocamente apaixonada por ele. Mike  também disse que me
amava, mas, depois que me deixou, uma parte de mim ficou se perguntando se
talvez só estivesse comigo por pena.

Não pense assim.
A voz severa em minha cabeça pertence a Carole, e, de repente, sinto falta de
ouvi-la pessoalmente. Nossas sessões de terapia terminaram quando entrei na
faculdade, e, embora tenhamos nos falado por telefone uma ou outra vez, não é a
mesma coisa que estar sentada na poltrona de couro acolhedora da sala dela,
respirando seu perfume relaxante de lavanda e ouvindo aquela voz quente e
tranquilizadora. Já não preciso de Carole do jeito que costumava precisar, mas
agora, diante de mike e sua linda namorada nova, todas as antigas inseguranças
vêm correndo de volta.
“Como você tá?”
, pergunta ele.
“Bem. Ótima”
, me corrijo depressa. “E você?”
“Não posso reclamar.” O sorriso que me lança parece forçado. “Ahn… a banda se
separou.”
“Ah, merda. Que pena. O que aconteceu?”
Ele esfrega distraído a argola de prata em sua sobrancelha esquerda, e me
lembro de todas as vezes em que beijei aquele piercing enquanto estávamos na
cama.
“Brad deu certo”
, admite mike . “Você lembra como sempre ameaçou seguir
carreira solo? Pois é, finalmente decidiu que não precisava de nós. Conseguiu um
contrato de gravação com um novo selo indie famosinho, e quando eles disseram
que queriam entrar com a banda deles, Brad não lutou por nós.”
Não fico surpresa em ouvir isso. Sempre achei que Brad fosse o imbecil mais
convencido do planeta. Na verdade, provavelmente se daria muito bem com Benício .
“Sei que é uma merda, mas acho que vocês estão melhores sem ele”
, digo a
Mike . “Brad ia acabar passando a perna um dia. Pelo menos aconteceu agora,
antes que vocês assinassem qualquer coisa, sabe?”
“É isso que vivo dizendo a ele”
, intercede a ruiva, em seguida se volta para
Mike . “Tá vendo, alguém concorda comigo.”
Alguém. É isso que sou? Não a ex-namorada de mike , não sua amiga, nem
mesmo uma conhecida. Sou simplesmente… alguém.
A forma como ela diminui meu papel na vida de mike  faz meu coração se
apertar de um jeito dolorido.
“Aliás, meu nome é ana jara ”
, se apresenta.
“Prazer”
, respondo, sem jeito.
Mike  parece tão desconfortável quanto eu. “Então, hmm, o festival de inverno
tá chegando, né?”
“Sim. Vou fazer um dueto com Benício  .” Suspiro. “O que tá começando a parecer um grande erro.”
Mike  assente. “Bom, você sempre funcionou melhor sozinha.”
Meu estômago fica rígido. Por alguma razão, parece que mike  está lançando
uma indireta. Como se estivesse insinuando alguma coisa. Como se, na realidade,
o que estivesse dizendo fosse você nunca teve problema em se dar prazer sozinha, né,
Karol ? Mas na hora de fazer isso com um namorado não consegue.
Sei que é só minha insegurança falando. Mike  não é cruel assim. E ele tentou.
Tentou de verdade.
Mas, com ou sem insinuação, a dor é a mesma.
“De qualquer forma, foi bom ver você, mas tô com uns amigos, então…”
Aceno na direção da mesa em que jorge , lionel  e Agustín  estão escondidos, o
que provoca uma ruga de incompreensão na testa de Mike   “Desde quando você
sai com a turma do hóquei?”
“Tô dando aula para um dos jogadores e… é, a gente sai às vezes.”
“Ah. Legal. Bom… vejo você por aí.”
“Prazer em te conhecer!”
, acrescenta Ana jara .
Minha garganta se fecha à medida que eles se afastam de mãos dadas. Engulo
em seco e viro na direção oposta. Entro no corredor que leva ao banheiro,
piscando para afastar as lágrimas quentes que inundam meus olhos.
Meu Deus, por que estou chorando?
Repasso depressa as razões por que não deveria estar chorando.
Mike  e eu terminamos.
Não o quero mais.
Passei os últimos meses fantasiando sobre uma pessoa.
Vou ter um encontro com sebastian no fim de semana.
Mas a lista não melhora nada, e meus olhos ardem ainda mais. Quem estou
tentando enganar? Que chance eu tenho com Sebastian ? Mesmo que a gente saia uma
vez, mesmo que fiquemos próximos o suficiente para termos algo íntimo, o que
vai acontecer quando fizermos sexo? E se todos os problemas que tive com Mike
brotarem de novo, como um resfriado irritante do qual não consigo me livrar?
E se tiver mesmo algo de errado comigo, e eu nunca, nunca conseguir ter uma
vida sexual normal como uma mulher normal, cacete?
Pisco depressa, tentando interromper o fluxo de lágrimas. Me recuso a chorar
em público. Me recuso.
“ karol ?”
Ruggero  volta do banheiro masculino e franze a testa logo que me vê. “Ei!”
,
pergunta com urgência, erguendo meu queixo com a mão. “Aconteceu alguma

Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)Onde histórias criam vida. Descubra agora