KAROL
As palmas das minhas mãos ficam suadas só de admirar seu perfil. Ele acabou
de chegar à Briar, mas não sei de que faculdade foi transferido, e, embora não
tenha demorado a se tornar a estrela do time de futebol americano, não é como os
outros atletas da universidade. Não desfila pelos jardins da faculdade com um
sorrisinho de quem se acha um milagre da natureza, carregando nos braços uma
menina diferente a cada dia. Já o vi rindo e fazendo piada com os amigos do time,
mas ele transmite uma aura intensa e inteligente que me faz achar que, no fundo,
esconde algo mais. O que me deixa ainda mais desesperada para conhecê-lo.
Atletas não são muito o meu tipo, mas alguma coisa nele me faz agir como
idiota.
“Você está dando bandeira de novo.”
A provocação de LINA me faz corar. Ela já me flagrou babando por Sebastian
algumas vezes e é uma das poucas pessoas para quem admiti minha queda por ele.
Valu , que mora comigo, também sabe, mas meus outros amigos? Nem pensar.
A maior parte deles está fazendo especialização em música ou teatro, então acho
que isso faz de nós o grupinho de artistas. Ou talvez de emos. Tirando a valu , que
tem um relacionamento desses que vai e volta com um membro de uma
fraternidade desde o primeiro ano, meus amigos gostam de se divertir às custas da
elite de Briar. Em geral, não participo (prefiro pensar que estou acima do hábito
de fazer fofoca dos outros), mas… convenhamos, a maioria dos alunos populares
são uns babacas completos.
Ruggero, por exemplo, o outro atleta estrela da turma. Anda por aí como
se fosse o dono do pedaço. E acho que é um pouco. Basta ele estalar os dedos e
uma menina desesperada aparece aos seus pés. Ou pula no seu colo. Ou enfia a
língua na sua goela.
Hoje, no entanto, não está com cara de todo-poderoso. Quase todo mundo já foi
embora, incluindo Tamara , mas Ruggero não levantou do lugar e está com os
punhos cerrados em volta da prova.
Também deve ter reprovado, mas não tenho muita pena do cara. A Briar é
conhecida por duas coisas: hóquei e futebol americano, o que não surpreende, já
que Atena é o lar tanto dos Patriots quanto dos Bruins. Os atletas da Briar
quase sempre viram profissionais e, enquanto estão aqui, recebem tudo de mão
beijada — até as notas.
Tudo bem, pode ser que isso faça de mim uma pessoa um tantinho vingativa,
mas dá uma sensação de triunfo saber que Tamara vai reprovar o capitão do nosso
vitorioso time de hóquei junto com todo mundo.
“Topa tomar um café?”
, pergunta lina , recolhendo os livros.
“Não posso. Tenho ensaio em vinte minutos.” Fico em pé, mas não a
acompanho até a porta. “Pode ir. Preciso dar uma olhada na agenda antes de sair.
Não lembro que dia é a minha próxima reunião com a professora assistente.”
Outra “vantagem” de estar na turma de Tamara : além da palestra semanal,
somos obrigados a fazer duas seções de trinta minutos por semana com a
professora assistente, Delfina , que pelo menos tem todas as qualidades que faltam a
Tamara . Como senso de humor.
“Beleza”
, diz lina . “Vejo você depois.”
“Até mais”
, respondo.
Ao som da minha voz, Sebastian para na porta e vira a cabeça.
Ai. Meu. Deus.
É impossível não ficar com a cara toda vermelha. É a primeira vez que fazemos
um simples contato visual, e não sei como responder. Digo oi? Aceno? Sorrio?
No final, decido-me por cumprimentá-lo com um pequeno aceno. Pronto.
Descontraído e casual, condizente com uma universitária sofisticada do terceiro
ano.
Seus lábios se curvam num leve sorriso, e meu coração dá um pulo. Sebastiam
acena de volta e vai embora.
Fico olhando a entrada do auditório vazia. Meu pulso dispara porque puta merda.
Depois de seis semanas respirando o mesmo ar neste lugar abafado, finalmente
Sebastiam notou que existo.
Queria ter coragem o suficiente para ir atrás dele. Talvez convidá-lo para um
café. Ou um jantar. Ou um café da manhã… espere aí, gente da minha idade toma
café da manhã?
Mas meus pés fincam no piso laminado e polido.
Porque sou uma covarde. Isso aí, uma covarde total e completa. Tenho pânico
de que ele diga não — mas mais ainda de que diga sim.
Quando comecei esta faculdade, estava tudo bem na minha vida. Com meus
problemas deixados para trás e a guarda baixa, estava pronta para ficar com outras
pessoas. E foi o que fiz. Saí com vários caras, mas, tirando meu ex-namorado,
Mike , nenhum deles fez meu corpo formigar como Sebastian , e isso me tira do
sério.
Um passo de cada vez.
É assim mesmo. Seguir em frente com um passo de cada vez. Era o conselho
preferido da minha psicóloga, e não posso negar que a estratégia tenha me
ajudado muito. Se concentrar nas pequenas vitórias, era o que Juliana sempre dizia.
Então… a vitória de hoje… Acenei para Sebastian , e ele sorriu para mim. Napróxima aula, talvez eu sorria de volta. E na outra quem sabe eu não levanto a
ideia do café, do jantar ou do café da manhã.
Respiro fundo e desço o corredor, me agarrando a essa sensação de vitória, por
menor que seja.
Um passo de cada vez.RUGGERO
Reprovei.
Não acredito que reprovei.
Por quinze anos, Timothy Lane distribuiu notas dez como se fossem balas. Mas
justo no ano em que eu faço a matéria, Lane bate as botas e tenho que me
contentar com Tamara
É oficial. A mulher é minha arqui-inimiga. Só de ver sua letrinha rebuscada —
que preenche cada milímetro das margens da minha prova — quero dar uma de
Incrível Hulk e destroçar o papel na minha mão.
Tirei dez em quase todas as outras matérias, mas, a partir deste exato instante,
estou com zero em ética filosófica. O que, combinado com o seis em história da
Espanha, faz minha média cair para cinco.
E preciso de média seis para jogar hóquei.
Em geral, não é difícil manter minhas notas lá em cima. Apesar do que muita
gente imagina, não sou um atleta burro. Mas não me importo de deixar que as
pessoas pensem isso. Principalmente as mulheres. Acho que elas gostam da ideia
de ficar com um homem das cavernas musculoso que só sabe fazer uma coisa, e
como não quero nada sério por enquanto, rolos com garotas que só querem sexo
são muito bem-vindos. Sobra mais tempo para me concentrar no hóquei.
Mas se eu não melhorar a nota não vai mais ter hóquei. A pior coisa da Briar? O
reitor exige excelência — tanto acadêmica quanto atlética. Diferente das outras
faculdades, que são mais condescendentes com os atletas, a Briar tem uma política
de tolerância zero.
Maldita Tamara . Quando perguntei antes da aula se poderia fazer algum trabalho
extra para melhorar a nota, ela me mandou, com aquela voz anasalada, participar
das reuniões com a professora assistente e frequentar o grupo de estudos. Já faço
as duas coisas. Então é isso aí, ou contrato algum garoto prodígio para usar uma
máscara da minha cara e fazer a prova para mim… ou estou perdido.
Expresso minha frustração com um suspiro audível e, de canto de olho, vejo
alguém levar um susto.
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Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)
FanficO destino nos fez inimigos. Eu nos fiz amantes. Em um mundo diferente, seríamos perfeitos um para o outro. Mas não estamos nesse mundo.