KAROL
“Você foi… sensacional.” Os olhos bonitos ficam ligeiramente embaçados.
“Absolutamente sensacional.”
“Você tava na plateia?”
, sussurro.
“Onde mais eu poderia estar?” Mas não soa irritado, apenas triste. Então sua voz
engrossa, e ele murmura: “Quantos?”.
Uma confusão me invade. “Quantos o quê?”
“Com quantos caras você saiu esta semana?”
Estremeço de surpresa. “Nenhum”
, deixo escapar, antes de poder evitar.
E me arrependo na mesma hora, pois um vislumbre de perspicácia surge em
seus olhos. “Foi o que imaginei.”
“ Ruggero …”
“O negócio é o seguinte, karol ”
, me interrompe ele. “Tive sete dias inteiros
para pensar nesta separação. Na primeira noite? Enchi a cara. Sério, fiquei um
lixo.”
Sou tomada por uma onda de pânico, porque, de repente, imagino que ele possa
ter ficado com alguém quando estava bêbado, e a ideia de Ruggero com outra
garota é de matar.
No entanto, ele continua, e minha ansiedade diminui. “Depois, deixei a
bebedeira passar, me acalmei e resolvi fazer melhor uso do meu tempo. Então…
Tive sete dias inteiros para analisar e reavaliar o que aconteceu entre nós, para
dissecar o que deu errado, reexaminar cada palavra do que você disse naquela
noite…” Ele deita a cabeça. “Quer saber a conclusão a que cheguei?”
Meu Deus, tenho pavor de ouvir isso.
Quando não respondo, ele sorri. “Minha conclusão é que você mentiu para
mim. Não sei por que fez isso, mas pode apostar que pretendo descobrir.”
“Não menti”
, minto. “Realmente estávamos indo rápido demais para mim. E
quero sair com outras pessoas.”
“Aham. Sério?”
Adoto meu tom mais insistente. “Sério.”
Ruggero fica em silêncio por um instante. Em seguida, estende a mão e acaricia
de leve o meu rosto antes de afastá-lo e dizer: “Só acredito vendo”.As férias de Natal demoram uma eternidade para chegar. Estou literalmente um
trapo ao embarcar no avião para Filadélfia — de moletom, descabelada e coberta
de espinhas por causa do estresse. Desde o festival, topei com Ruggero três vezes.
Uma no Café Hut, uma no jardim do campus e uma na saída do auditório de
ética, quando fui buscar minha nota final. Em todas as três vezes, ele me
perguntou com quantos caras eu já tinha saído desde a separação.
Em todas as três vezes, entrei em pânico, deixei escapar alguma desculpa sobre
estar atrasada e fugi feito uma covarde.
O problema de terminar com alguém sob falsos pretextos é o seguinte: a outra
pessoa não aceita a sua desculpa, a menos que você faça o que disse que queria
fazer. No meu caso, preciso sair com um monte de garotos aleatórios e começar a
explorar, porque foi o que falei a Ruggero que queria, e, se não partir logo para a
ação, ele vai perceber que tem alguma coisa errada.
Acho que poderia chamar alguém para sair. Arrumar um encontro bem público,
do qual Ruggero sem dúvida ficasse sabendo, e convencer o cara que amo de que
segui em frente. Mas a ideia de estar com alguém que não seja Ruggero me dá
náuseas.
Felizmente, não preciso me preocupar com nada disso agora. Vou ter uma folga,
porque vou passar as próximas três semanas com minha família.
Entro no avião e, pela primeira vez desde que o pai de Ruggero deu seu penoso
ultimato, sou capaz de finalmente respirar.
Ver meus pais é exatamente o que precisava. Não se iludam, ainda penso em
Ruggero o tempo inteiro, mas é muito mais fácil me distrair da dor assando
biscoitos de Natal com meu pai ou sendo arrastada para a cidade para fazer
compras com minha mãe e minha tia.
Na segunda noite na Filadélfia, contei à minha mãe sobre Ruggero . Ou melhor,
ela arrancou de mim depois que me pegou deprimida no quarto de hóspedes.
Disse-me que eu parecia uma mendiga que tinha acabado ser tirada das ruas e
começou a me empurrar para o chuveiro e me forçou a escovar o cabelo. Depois
disso, coloquei tudo para fora, o que a fez dar início ao que está chamando de
Operação Férias Animadas. Em outras palavras, está me enfiando um zilhão de
atividades de férias goela abaixo, e a amo muito por isso.
Não estou com pressa de voltar para a Briar daqui a três dias, onde Ruggero , sem
dúvida, está com seus próprios planos não tão secretos — a Operação Fazer
Karol Admitir Que Estava Mentindo. Sei que está tentando me reconquistar.
Também sei que não vai precisar de muito esforço. Basta me olhar com aqueles
olhos castanhos maravilhosos, abrir aquele sorriso torto, e vou me debulhar em
lágrimas, jogar os braços em volta dele e contar tudo.
Sinto sua falta.
“Ei, querida, você vai descer para passar a virada com a gente?” Minha mãe
aparece na porta com uma tigela sedutora de pipoca, e me lembro da primeira vez
que passei a noite na casa de Ruggero quando enchemos a cara de pipoca e
assistimos a horas de televisão.
“Já vou”
, respondo. “Só vou botar uma roupa confortável.”
Quando ela se afasta, saio da cama e procuro uma calça de ginástica na mala.
Tiro a calça jeans skinny e substituo pelo algodão macio, em seguida, desço as
escadas até a sala, onde meus pais, meus tios e seus amigos Bill e Susan estão
acomodados nos sofás em forma de L.
Vou passar a noite de Réveillon com três casais de meia-idade.
Iuuuuhuuu.
“E aí, karol ?”
, me cumprimenta Susan. “Sua mãe estava me contando que
você acabou de ganhar uma bolsa de prestígio.”
Sinto-me corar. “Essa coisa de prestígio é uma baboseira. Mas, na verdade, todo
ano eles distribuem bolsas nos festivais de inverno e de primavera. E é verdade, eu
ganhei.”
Engula essa, Benício , exclama meu convencido monstro interior.
Não tinha planejado voltar ao auditório depois que encontrei Ruggero no festival,
mas juliana acabou me pegando bem na hora em que tentava fugir e me arrastou
de volta para o palco. E sim, não posso negar que a sensação de vitória ao ouvir
meu nome ser anunciado na cerimônia da bolsa de estudos tenha me deixado nas
nuvens. E nunca vou esquecer a indignação no rosto de Benício quando percebeu que
o seu nome não foi chamado.
Agora estou cinco mil dólares mais rica, e meus pais podem respirar aliviados,
porque vou ser capaz de pagar eu mesma pelas despesas com residência e comida no semestre que vem.
Às dez para a meia-noite, tio Mark põe um fim à nossa tagarelice ligando de
novo o som da televisão para assistirmos à festa da Times Square. Tia Nicole
distribui línguas de sogra com serpentinas cor-de-rosa, enquanto minha mãe
passa punhados de confete para todo mundo. Minha família é cafona, mas não a
trocaria por nada neste mundo.
Meus olhos estão surpreendentemente enevoados quando começamos a
contagem regressiva junto com o locutor na TV. Até aí, talvez as lágrimas não sejam
exatamente uma surpresa, porque quando o relógio chega ao zero e todos gritam
“Feliz Ano-Novo!”
, lembro que o bater da meia-noite não indica apenas o início de
um novo ano.
Primeiro de janeiro é também o aniversário de Ruggero
Aperto os lábios para conter o turbilhão de lágrimas, forçando um riso quando
meu pai me gira em seus braços e beija minha bochecha. “Feliz Ano-Novo,
princesa.”
“Feliz Ano-Novo, pai.”
Seus olhos verdes suavizam ao perceber minha expressão triste. “Ah, filha, por
que não pega o telefone e liga logo para aquele pobre menino? É Réveillon.”
Fico boquiaberta, então viro a cabeça para minha mãe. “Você contou para ele?”
Ela pelo menos tem a decência de me lançar um olhar culpado. “Ele perguntou
por que você estava deprimida. Não tinha como não contar.”
Meu pai ri. “Ah, não culpe a sua mãe, kah Percebi sozinho. Você tem estado tão
triste que só podia ser problema com algum menino. Agora vá desejar a ele um
feliz ano-novo. Vai se arrepender se não fizer isso.”
Suspiro. Mas sei que ele está certo.
Subo as escadas às pressas, o pulso disparando. Pego o celular na bolsa, então
hesito, porque, sério, isso não é uma boa ideia. Eu terminei com ele. Deveria estar
seguindo em frente e saindo com outras pessoas e blá-blá-blá.
Mas é aniversário dele.
Solto um suspiro trêmulo e ligo.
Ruggero atende ao primeiro toque. Achei que iria ouvir um burburinho.
Conversa, gargalhadas, gritos bêbados. Mas onde quer que esteja, está um silêncio
sepulcral.
Sua voz rouca faz cócegas em meu ouvido. “Feliz Ano-Novo, karol ”
“Feliz aniversário, Ruggero .”
Há uma pequena pausa. “Você lembrou.”
Pisco em cima das lágrimas. “Claro que lembrei.”Tem tantas outras coisas que quero falar. Eu te amo. Sinto sua falta. Odeio o seu pai.
Mas reprimo a necessidade e não digo absolutamente nada.
“Como vão os namoros?”
, pergunta ele, alegremente.
Minha barriga se contrai. “Hmm… ótimos.”
“Ah, é? Tem explorado muito? Feito uma pesquisa minuciosa do significado do
amor?”
Há uma nota de sarcasmo em sua voz, porém, mais do que tudo, parece estar se
divertindo. Parece presunçoso até.
“Tenho”
, digo, sem dar muita importância.
“Com quantos caras você saiu?”
“Alguns.”
“Ótimo. Espero que estejam te tratando bem. Sabe como é, abrindo a porta,
colocando o casaco no chão para você passar por cima de poças, esse tipo de
coisa.”
Nossa, que idiota. Amo esse homem.
“Não se preocupe, são todos muito cavalheiros”
, asseguro-lhe. “Estou me
divertindo horrores.”
“Bom saber.” Ele faz uma pausa. “A gente se vê em poucos dias. Aí você vai
poder me contar tudo.”
Ruggero desliga, e eu o amaldiçoo baixinho.
Droga. Por que está insistindo com isso? Por que não pode simplesmente aceitar
que está tudo acabado entre nós e se concentrar na droga do time de hóquei?
E como diabos vou convencê-lo de que não quero estar com ele quando não
consigo nem me convencer?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Era Uma Vez Na Grécia (Terminada)
FanfictionO destino nos fez inimigos. Eu nos fiz amantes. Em um mundo diferente, seríamos perfeitos um para o outro. Mas não estamos nesse mundo.