Cap. 36

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- MÃE, A SENHORA VIU MEU CASACO VERMELHO? - Grito do meu quarto no andar de cima.

- ESTÁ NA SECADORA! - Grita de volta.

Hoje é o grande dia da minha volta. Não pretendo ficar muito, vou para ver algumas coisas na empresa que sou praticamente dona com meu advogado, Brad. O bom de trabalhar com amigos, é a confiança extrema. Me sinto feliz e com as energias renovadas. O que o poder de um colo de mãe não pode fazer!? Sinto nada pode me abalar. Rica, bem resolvida, solteira, o que mais eu posso querer?!

- Quando volta? - Mamãe pergunta me entregando o casaco.

- Em breve! Já te disse que não pretendo ficar muito.

- Alguma coisa me diz que isso é mentira.

- Essa sua "alguma coisa", - Produzo aspas com os dedos. - Desta vez está errada.

- Eu nunca erro, pipoquinha. - Sorrio por ouvir esse apelido depois de anos.

- Quanto tempo não me chama assim...

- Desde seus 10 anos. - Vejo surgir no rosto da minha mãe, um sorriso sincero um pouco enrugado, sofrido também. Um sorriso com marcas e vitórias, que agora só tem a descansar e eu tenho o prazer de fazer isso acontecer.

- Bom, tenho que ir!

- Tem certeza que não quer que a gente vá no aeroporto com você?

- Tenho! Não se preocupem. Eu amo muito vocês. - Abraço minha família constituída por meu pai, minha mãe e meu irmão mais novo. - Qualquer coisa que precisarem me mandem mensagem. Tchau.

Quando chego na frente da casa de dois andares, mais bonita do bairro, eu escuto um buzinar do meu Uber. Esse parece apreçado quando me vê e me ajuda com as malas. Perfeito, estou atrasada mesmo.

Quando entro no carro, começo a reconhecer a paisagem, sinto uma nostalgia. Uma nostalgia de há quase 2 anos quando esse mesmo percurso, fazia uma garota de 24 anos, sonhadora, tímida, amedrontada com o desconhecido, mas feliz com o novo. Uma garota esperança. Me comparo com essa garota. Ela feliz e resolvida, eu feliz e resolvida, ela esperançosa e tentando ver o lado positivo em tudo, eu... bom, isso nem tanto. Deixei de ver tudo como um grande puta arco-íris. Tem maldade no mundo e nós temos que saber enfrentar isso. Existem pessoas que são más por nada, pessoas que acham que podem encostar em você sem consentimento, pessoas que decidem te maltratar e ignorar a simplesmente conversar, tem isso tudo no mundo, mas essa Caityn de antes não tinha esse pensamento, não tinha... experiência. O mundo é mau, e temos que ter a consciência disso.

Acho que meu maior medo, sempre foi ser mudada na essência de quem eu sou, hoje isso não me amedronta mais. Eu vi que mesmo em situações a qual eu nunca tive que lidar, eu me sai bem, eu vivi e sobrevivi, eu fui... eu. A minha essência nunca poderá se modificar.

- Obrigada! - Agradeço ao homem de meia idade quando ele me ajuda com as malas antes de seguir seu caminho. E como em um rito de passagem, suspiro.

Uma das características da minha essência é ser "pão duro"! Posso dizer que tenho pensamentos "pão duro" o tempo inteiro. Inclusive, tenho vários enquanto espero na fila para embarcar, meu gatilho foi olhar para o lado, na fila da primeira classe, e ver homens com ternos caríssimos e mulheres que parecem disputar qual tem a bolsa mais cara.
Por que pagar o dobro ou até mesmo o triplo do preço em um uma poltrona na primeira classe quando eu posso ser super econômica indo de executiva?! Enfim, falo por mim, pois cada um esbanja dinheiro como quer.

- Muito obrigada. - Sorrio para a simpática funcionária do aeroporto que confere meus documentos antes de me deixar entrar no avião.

Entro e encontro minha poltrona. Depois de alguns minutos, o avião decola e novamente, faço meu rito. Fico feliz por não ter quase ninguém no voo, especialmente, ninguém do meu lado, tenho mais liberdade assim. Antes de dormir profundamente a viagem inteira achando que seria apenas um cochilo, penso: "e lá vou eu novamente!"

Acordo com a voz do piloto no pequeno alto falante no canto do avião, avisando sobre o pouso. Me recomponho tentando ficar o melhor possível depois de um sono de 11 horas.

Oficialmente, com os pés em solo londrino! A primeira coisa que faço e ligar meu celular para chamar um táxi. Quando já estou esperando meu transporte, recebo uma mensagem de Joey.

"Quando já estiver aqui, me avise."

"Já estou na cidade!"

Respondo rapidamente, e vejo meu táxi surgindo na multidão. Em pensamento, eu imploro para que o idoso vá mais rápido, sinto tanta falto do meu apartamento que não está cabendo em mim, mas qual é, eu não consigo dizer 'não' a um encontro indesejado, vou dar ordens a um idoso?! Não mesmo. O que me resta é aguardar enquanto aproveito a paisagem.

Depois do que pareceu anos, finalmente chego no prédio. Mas antes, visito meu velho amigo, Ruan, o dono da padaria em frente ao meu prédio. Ele diz que sentiu muita a minha falta e que sempre se lembrava de mim pelas manhãs. Fico muito feliz com o carinho mas como acabo de chegar, decido abreviar a conversa, sinto falta de banho.

Assim que abro a porta do meu apartamento antes alugado mas agora, meu, sinto aquele cheirinho de lar com... poeira. Vejo alguns acúmulos na minha mesa de centro, mas nada que precise de urgência. Vou direto para o banho. Quando saio vejo pela janela que já anoiteceu.

Uma das coisa que eu me arrependi de ter deixado para trás na minha funga de Londres, foi minha calça moletom. Fico feliz quando abro o armário e a vejo, trato logo de vesti-la e combinar com uma blusa manga longa que eu trouxe.

Olho na minha geladeira e vejo que algumas coisas estragaram, sem opção, jogo todas fora. Sinto a ironia por só serem coisas gostosas. Suspiro pensando se saio para comprar comida ou se peço algo. No final, acabo pedindo uma pizza. Com 20 min de muito tédio e fome, alguém bate na minha porta. 'Graças a Deus!' penso.

- Boa noi-te?! - Me surpreendo ao abrir a porta.

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