Cap. 27

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Cap - 2/6

Uma semana em casa sem sair para nada, novo recorde. Sempre que Niall me liga, eu atendo, mas essa semana eu não atendi a nenhuma chamada, espero não estar preocupando ele. Eu apenas sinto que esse momento sozinha, é só meu. Se não der muito certo, eu ligo para ele. Por insistência da minha mãe, combinei em fazer uma chamada de vídeo com a minha família, mas só de uma hora.

Está quase na hora e eu estranhamente me sinto nervosa, acho que por essa ser a primeira vez. Comprei um frango para entrar no espírito e um vinho que não posso deixar minha mãe ver. Tomo um banho e espero olhando a vista do meu apartamento, não é lá essas coisas, mas eu gosto. Ando um pouco pela sala para me distrair e quase caio quando tropeço em alguma coisa.

- Mas que merda... - Quando olho o que quase me fez ir de cara no chão, perco um pouco os sentidos. - Puff idiota. - Em um pequeno ataque, eu chuto o puff que parece não se abalar muito. O tempo todo evitei olhar para ele, mas agora sem querer eu o fiz. Esse maldito puff me trás lembranças como quando eu fui toda contente ao shopping achar alguma coisa legal para ele, o jeito que ele sorriu ao ver meu presente, é tudo sobre ele.

- Quer saber!? - Pego o puff e caminho até a janela. Eu não moro em um andar muito baixo nem muito alto, meu andar fica bem no meio do prédio, por isso posso joga de uma forma que ele se estabaque de verdade. Quando estou pronta para fazer, meus braços paralisam, perco o movimento, não consigo jogar ou se quer sair do lugar.

- Droga. Não consigo jogar um puff fora. - Me afasto da janela e coloco o móvel fofo no chão. Me sento no mesmo e faço carinho sentindo os pelinhos fofos. - Você é um bom puff. - Suspiro por perceber que cheguei ao fundo, conversar com um puff, é meu fundo do poço.

Meu notebook apitar e eu finalmente me levanto desanimada, coloco um casaco vermelho e atendo a chamada.

"Oi, mãe." - Mostro meu melhor sorriso.

"Oi, meu amor. Essa ideia de chamada de vídeo foi ótima"

"Sim."

"Olha só, estão todos aqui. Tia Marta, tio Vander, seus primos, Marcos e Roberto..." - A cada nome citado, um 'OI' era pronunciado, e eu continue com um belo sorriso falso e 'OI' respondido no mesmo tom e animação.

"É muito bem ver todos vocês. Estou morrendo de saudades."

"Nós também, filha. Podia ter vindo."

"Não tenho dinheiro para isso, mãe."

"Você sabe que ajudaríamos, era só pedir." - Aí está o problema, pedir.

"Já foi, talvez na próxima data festiva."

"Tudo bem, aí quem sabe você não trás seu namorado, hein!?" - Abro minha boca para tentar falar para minha mãe que ele partiu meu coração, mas é uma história longa demais para pouco tempo, e afinal, hoje é uma data feliz, como dizem.

"Quem sabe, mãe."

"Promete tentar?"

"Ah... s-sim" - Engulo seco. - "Já ia me esquecendo, fiz um frango para comer com vocês."

"Já quer fazer a ceia? Ah! Vai passar o resto do natal com a família do namorado, não é!? Tudo bem, meu amor, não quero te atrasar."

"Na verdade..."

"VAMOS COMEÇAR A CEIA, VENHAM!" - Mamãe grita para meus familiares sem ao menos me ouvir.

Eu não sabia que precisava fazer essa chamada de vídeo até fazer. Eu me divertir como se estivesse ali com eles na mesa. A cada piada sem graça e falta de educação era um grito diferente para minha mãe, para ela, tem que ser tudo perfeito. Eu não levava muita fé que seria divertido assim.

Acabei ficando mais que uma hora com eles, que se passaram tão rápido que nem percebi. 

"Gente, deem tchau para Caityn, que ela está indo passar o resto do natal com o namorado."

"M-mãe, não precisa..."

"Tudo bem, filha. Não fique receosa." - Suspiro me dando por vencida.

"Eu amo muito vocês."

"Nós também te amamos." - Sorrio para a senhora de meia idade com o sorriso gentil e amoroso. - "Divirta-se."

"Tchau." - Suspiro quando saio da minha pequena bolha onde eu estava em casa com a minha família, e volto para meu apartamento frio e silencioso.

Coloco uma cadeira em frente a minha janela e olho a vista que a cidade grande, calma e brilhante pode me proporcionar. Se me inclino um pouco para frente, até consigo ver a lua. Pego mais um pouco de frango, uma taça de vinho e o bendito puff. Sentada comendo e bebendo, penso que afinal, não foi uma má ideia ficar com o puff.

Eu li em algum lugar que ate mesmo os lugares mais feios e deprimentes podem se tornar os mais bonitos, dependendo da forma que você olha. Eu não tinha percebido o quanto minha vista é bonita, talvez a correria do meu dia a dia me impediu de admirar a beleza que só vou encontrar aqui. De repente não me sinto mais triste ou deprimida, me sinto calma e agradecida.

Muitas vezes relacionamos à ausência, com a nostalgia, é um sentimento comum nesse período. Lembrar-se de épocas em que as celebrações eram mais intensas em família ou de épocas nas quais tais celebrações ocorriam na própria casa, podem gerar uma saudade que facilmente se converte em tristeza nostálgica. Talvez isso tenha despertado em mim a mania de pensar que eu precisava de alguém para reviver o espírito, para tornar essa data especial, até me desesperei um pouco na busca desse tal alguém. Mas percebo que a única coisa que preciso é de mim mesma.

Nos Estados Unidos existe um feriado muito importante e tradicional, o dia de ação de graças, é bem semelhante ao natal. Eles basicamente se juntam com familiares e amigos, e participam de uma ceia farta. Cada um na mesa tem que dizer aos demais o motivo de estarem grato. Um ritual. Quando eu era criança, fazíamos isso no natal, falávamos o porque estávamos agradecidos. Paramos quando meu irmão entrou na adolescência e se recusou a participar de mais um 'natal patético' como ele dizia. Por algum motivo, me veio essa lembrança. Talvez eu devesse recapitular meu ano e dizer a o que sou grata.

- Esse ano eu conheci uma pessoa, e eu o amei, ainda amo... - Suspiro. - Meu Deus isso não vai dar certo. Eu vou dizer coisas que eu odeio em você, Harry, é mais fácil. E-eu odeio como seus olhos são lindos, eu odeio a sua boca macia e perfeitamente alinhada, eu odeio seu cabelo, eu odeio sua covinha na bochecha esquerda, eu odeio seus olhinhos que quase se fecham quando você sorri, eu odeio seu abraço quente e protetor, eu odeio suas tatuagens, eu odeio que você ainda use o nosso anel, eu odeio não conseguir tirar seu cordão. - Inconscientemente deixo algumas lágrimas escaparem. - Eu odeio o jeito que você é meigo de manhã contrário ao resto do mundo, eu odeio como você me fez sentir bem, eu odeio como você me fez sentir mal e dependente, eu odeio o fato de não estar com você agora e te beijar, eu odeio o jeito que me tratou depois de tudo. Mas apenar disso, eu odeio torcer por você e sua vitória, eu odeio amar você, eu odeio não conseguir te odiar... - Limpo lágrimas insistentes. - Acho que desabafei, puff. - Sorrio. - Droga, estou falando sozinha. Vou te chamar de George, para ficar menos estranho.

Assim, continuo minha noite de natal, sentada em frente a janela olhando as luzes, as vezes a lua; apenas um pedaço de frango, uma taça de vinho, George e eu. Me sinto mais leve depois de desabafar meus sentimentos, mesmo que para ninguém. O que é pior?! Desabafar sozinha ou colocar nome em um puff!? No final dá tudo no mesmo. Talvez não seja tão ruim ficar sozinha.

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