Cap. 42

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- O que? Você acha que eu demitiria alguém por um briguinha tão sem sentido?

- Não sei, demitiria? - Ele me olha como quem desafia.

- Ah, meu Deus! - Sinceramente não sei o porque de essa pergunta ter me incomodado tanto. É como se ferisse meu caráter alguém sequer pensar que eu faria isso.  - É muita arrogância sua achar que o mundo gira em torno de você. Eu a demiti porque ela me ofendeu, não só a mim, mas a minha cultura, país, e isso eu não admito. Não a demiti por beijar a sua maldita boca! - Cuspo todo de uma vez, aproveito minha coragem alcoolizada e passageira.

- Meu Deus, Caityn! - Fala me olhando. Apesar do calor, não estamos gritando um com o outro, portanto, não chamamos nenhuma atenção. - Eu te fiz uma pergunta. Não precisa fazer uma tempestade sempre que eu te fizer uma pergunta!

- Já que está tudo bem em fazer perguntas, eu quero te fazer uma também. Alguma vez pensou que eu estava com Niall?

- Não, eu não pensei. - Responde calmo. Achei que o afetaria mais com essa pergunta. Se fosse para perguntar algo que eu realmente gostaria de saber, seria: por que caralhos me deixou? mas eu não estou procurando uma reconciliação, eu quero o deixar bravo! - Eu sabia que não iria ficar com ele, pelo menos não tão rápido. Eu fiquei bravo quando te vi na casa dele porque eu sabia que com a aproximação, algum dia poderia acontecer, você poderia gostar dele... mas percebo que no final, você ficou com outro... - Ele me olha como se esperasse uma resposta, uma confirmação talvez. Harry está jogando comigo, plantando verde para eu falar uma coisa que ele quer saber, mas não quer perguntar diretamente. Para o azar dele, eu sei jogar! Fico calada o encarando com expressão neutra, não confirmo nem discordo. - Ok! Minha vez, você está namorando? Você conhece bem aquele cara? - Aí está, o que ele realmente quer saber.

- Por que está tão interessado nisso?

- Eu só estou curioso.

- Olha só. - Respiro fundo e giro meu corpo ficando de frente para ele. Harry por sua vez, permanece na mesma posição, mas vira o pescoço para me olhar. - Você me abandonou e teve milhares de chances de se redimir, mas não fez. - Aproximo meu rosto do dele a medida que vou falando. - Eu passei muito tempo colando todos os pedaços que você quebrou e espalhou de mim, e em todo esse processo eu não tive notícias suas, mas agora que estou bem, você aparece muito interessado na minha vida. Eu não vou discutir a forma que eu escolhi consertar o que você quebrou. - Quando termino, meu rosto está tão perto do dele que consigo sentir sua respiração pesada e entrecortada no meu rosto. O álcool me ajuda um pouco, mas a questão é: tudo que eu disse já estava entalado a muito tempo, hoje tive a oportunidade e coragem para falar. Harry franze a sobrancelha e nem um músculo sequer treme. Me sinto acuada, mas não transpareço. Não quero parecer fraca. Depois de uma longa encarada com disputa de quem tem a respiração mais rápida, me levanto e saio sem direção alguma.

Não tenho certeza se me exaltei sem necessidade, mas estou cansada de ele agir como um bom ex-namorado. Nosso término não foi dos melhores, temos pendências, então o fato de ele agir como se estivesse tudo bem, me incomoda. Podemos ser amigos, mas com certos limites, afinal, ele já foi o amor da minha vida.

Já conheci caras como Harry. Eles te tratam como uma boneca velha que constantemente é jogada no fundo de uma gaveta. Quando querem brincar, eles a pegam e brincam do jeito e tempo que eles determinam, e quando cansam, eles a jogam de novo na gaveta fria e escura, sem porquês. As pessoas não sabem o quanto se sentir usada dói. Não é uma humilhação apenas social, mas moral, fere na alma. Mesmo depois de anos, a sua alma ainda guarda as memórias e cicatrizes.

Cicatriz tem a ver com cura e melhora, mas as vezes, elas latejam para mostrar que estão ali. Eu não aceito mais um amor onde eu não me sinta amada o suficiente.

Po'v Harry

Não entendo muito bem o motivo da chateação, não imaginei que ela ficaria desse jeito por uma pergunta.

- Vodca, por favor. - Peço ao barman. Preciso me embebedar, agora.

Antes o que ela mais queria saber era o motivo do meu afastamento e eu fui ao encontro dela para esclarecer tudo. Não consegui conversar. Hoje decidi tentar de novo, também não consegui. Parece que não estamos mais na mesma sintonia, Caityn está mais para o 220 e eu estou no 20. Para consertar seria necessário um acordo onde eu aceleraria e ela diminuiria ate igualarmos, mas nesse ritmo será impossível. Quando eu não fujo, ela foge.

Ela me deixa louco quando é insolente, um louco bom. Ela fica assim quando bebe, e extremamente sexy também. Tem exemplo do episódio na casa do Niall, quando um babaca passou a mão nela; se eu não tivesse chegado, ela teria brigado com ele soco a soco.

Quando Caityn fala o que quer, ela se sente confiante ao longo das palavras, mas quando termina e se dá conta do que falou, hesita um pouco a expressão de dura e determinada, por isso sempre fecho minha feição; gosto de ver ela quase hesitando por completo mas logo depois se recompondo fingindo estar por cima.

De qualquer forma as palavras dela machucaram, mas não por terem feriado meu ego ou algo assim. Doeram por terem sido verdadeiras.

- Eu admito que não tratei a situação da melhor forma possível, tratei da forma que sabia, me afastando. Não espero que ela namore comigo ou até mesmo me perdoe! Mas espero que compreenda o meu lado, e saiba que eu nunca deixei de pensar nela.

- Ok... mas por que não fala isso para ela? - Charles o barman que acabei de conhecer e já sabe metade da minha vida, pergunta. Não sei se sóbrio contaria tantas coisas, sou uma figura publica. Com metade dessa historia o The Sun faria a festa. 

- Não consigo, sempre acontece alguma coisa. Ou eu travo, ou algo externo interfere... é complicado.

- Vocês pareciam bem entrosados há alguns minutos, aposto que se for atrás e conversar com ela agora, ela te escuta.

- Talvez eu tente! - Me levanto. Devagar, desvio de todos os corpos suados no meu caminho. Finjo estar calmo e tranquilo quando tudo que eu queria fazer era sair gritando "CAITYN, CAITYN" para encontra-la logo. Conversar com o barman me encorajou, ou foi o álcool, ou foi o álcool e o barman, não importa, o importante é que eu estou disposto a encontra-la. Levo em consideração a possibilidade de que Charlie tenha apenas me dito o que eu queria ouvir para que eu saísse logo e o deixasse trabalhar em paz, mas tudo perde a importância quando abro uma fresta da porta de madeira do banheiro feminino, e consigo ver Caityn com as duas mãos apoiadas na enorme pia de mármore olhando para baixo.

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