25- Poupar os que me amam me poupando de amar

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Há dias atrás, quando o Harry cortou a mão eu disse para ele "Eu vou estar aqui", eu estive. Estive todo o tempo em que ele reclamou e resmungou que nem uma criança enquanto as enfermeiras davam pontos na sua mão. "Eu vou estar aqui" não foi só para aquele momento, era no significado de que eu sempre estaria aqui para ele, o dia que fosse, a hora que fosse ou o minuto que fosse. E ele sabia disso. Mas, talvez eu estivesse mentindo. Mas não mentindo por querer, eu realmente queria que fosse verdade, mas assim como o Harry sempre diz para mim "Não digas o que não sabe, garota", eu realmente não sabia o que um "eu vou estar aqui" poderia significar até o dia de hoje.

— Nina acorda, tem visitas — Minha mãe abriu a porta de uma vez. Sua voz saiu estranha, não tão carinhosa com sempre costumava ser. Eu nem se quer dei atenção, apenas me virei para o lado e me cobri novamente. — Nina — Minha mãe voltou depois de alguns minutos me deixando ainda mais irritada, eu não estava a fim de receber as amigas dela que vinham aqui quase toda sexta, afinal as amigas eram dela, não minhas.

— Não vou me levantar — Eu gritei.

Nina — Uma voz diferente ecoou, eu paralisei por um tempo. Como assim? Não poderia ser quem eu estava pensando. Eu deveria estar louca ou algo do tipo. Fiquei com medo de me virar e ver apenas a minha mãe ali. Fiquei com medo de ser apenas loucura da minha cabeça.

— Oh meu Deus! O que você está fazendo aqui? — Eu levantei correndo e pulei na pequena garota loira a minha frente. Eu a abracei com tanta força que era capaz de estar a machucando, mas ela não reclamou, não retribuiu e nem se mexeu. O que eu achei estranho, porque Leca costumava ser a menina que mais gostava de abraços na face da terra.

— Está tudo bem? — Eu me afastei e levei minhas mãos para a lateral do seu rosto. Não precisava de mais além do seu olhar para que eu visse que não, não estava tudo bem. Ficamos apenas um tempo uma olhando para a outra sem que saísse nenhuma palavra da nossa boca.

Seu olho começou a brilhar, queria eu que fosse brilho de um olhar alegre, mas não. As lágrimas se formavam nos seus olhos redondos e azuis. Fiquei um tempo observando para ver se elas iam cair, mas era como se Leca não quisesse que isso acontecesse. E então, quase como em um ato agressivo, eu a puxei em minha direção a trazendo para mais um abraço, como se aquilo fosse funcionar. Seus braços continuaram imóveis, assim como seu corpo inteiro. Afastei-me novamente e olhei para ela com a esperança de ter uma resposta, mas então ela não olhou em meus olhos, ela olhou diretamente para o chão. Dei dois passos para trás completamente surpresa. Eu tinha visto a Leca daquele jeito apenas uma vez, apenas quando estávamos na casa de praia e ela chorou por sentir falta dos pais. Mas agora parecia um pouco mais forte. Um pouco mais abalador. Eu passei por ela e fechei a porta e voltei para o meu local inicial.

— Pode falar agora. O que aconteceu? — Ela olhou para mim e eu falei — Eu posso te ajudar... — E foi depois dessa frase que ela pareceu acordar, ela soltou uma risada sarcástica. Coisa que eu tinha a visto fazer poucas vezes.

— Nina apenas me diga que dia é hoje?

— Sexta? — Eu falei quase como se fosse uma coisa obvia.

— O que você tinha hoje? — Ela disse brava.

— Aula? — E então eu me lembrei do motivo por ter faltado. Eu estava cansada demais para escutar o velho professor de história falar nos meus ouvidos. Eu tinha ficado a noite inteira conversando com o Harry.

— Vamos Nina, você consegue fazer mais que isso. — Eu parei um tempo e realmente eu não conseguia me lembrar de nada. Eu fiz que não com a cabeça e depois abaixei o olhar — É claro que você não se lembra — Ela deu um sorriso sarcástico e alguns segundos depois ela mesma resolveu falar — A merda do seu teste vocacional. — Aquele momento tudo parou, eu me sentei na cama e seriamente eu queria me bater por isso. Eu havia marcado esse teste há meses atrás, eu falava dele o tempo inteiro porque era quase impossível conseguir uma vaga e eu havia conseguido. Mas agora eu deixei a oportunidade de ter uma ótima ajuda em decidir no que eu iria fazer para o resto da minha vida, escorregar entre os meus dedos.

4 Months without youOnde histórias criam vida. Descubra agora