27- Talvez fosse a hora de crescer

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Eu estava lá. Ou eu desistia agora ou eu não desistia. Era sim ou não. O medo me consumia, não existia uma parte do meu corpo que este sentimento não havia tomado conta, nem um fio de cabelo escapou. Parece besteira? Talvez. Mas brigar com os meus pais, deixar todos e simplesmente ir, sem ter certeza do que realmente vai acontecer, sem ter quem te segurar quando você cair é... É assustador. Ir contra as pessoas que te conhecem há 18 anos para ir em direção a uma que você conhece a 4 meses não fazia parte do meus planos, principalmente daquele de passar em uma faculdade e ser o orgulho da família.

Apesar de todo o barulho no aeroporto, estava tudo calado para mim. Era tão estranho que eu estava apenas ignorando todos a minha volta, o sentimento de solidão era terrível. Eu nunca tinha feito nada sozinha, eu sempre tive apoio dos meus pais, eu nunca tive que assinar nada, eu nunca tive que pagar nada, eu nunca tive que realmente decidir por mim mesma e essa era uma coisa que eu estava fazendo agora, essa era uma decisão que eu tinha tomado sozinha. Talvez fosse a hora de crescer e seguir os meus sonhos, mesmo eu tendo medo deles.

— Atenção passageiros do voo JJ3687 com destino a Londres.

Eu me peguei rezando para que não fosse o meu voo, sei lá... Eu queria mais tempo, mas isso não aconteceu. Eu abri o meu bilhete de embarque e lá eu vi o maldito voo "JJ3687". Vocês já pararam para pensar que não tem nada segurando o avião lá em cima? A sei lá quantos mil pés de altura? Não? Porque eu sim! Eu simplesmente odeio a sensação de estar em um avião e se eu entrar nesse avião eu vou ficar umas 15 horas... Sozinha "a sei lá quantos mil pés de altura".

— Senhora? — Eu acordei do transe — É a sua vez, a senhora não vai entrar? — A aeromoça estava com os olhos pregados em mim enquanto algumas – muitas – pessoas estavam esperando na fila. Eu queria dar o passaporte e a passagem para ela, mas...

— Eu... Eu — Meus olhos encheram de lagrimas — Eu não posso. — E então, eu corri. Corri pelo corredor como uma criança assustada.

Você deve estar se perguntando como eu tive a chance de ir para Londres e por que que na primeira oportunidade eu tentei jogá-la pela janela. Bom... Tudo começou a cerca de um mês atrás. Foram algumas tequilas e depois eu escutei a voz rouca do Harry dizer: "encontrei um jeito de nos encontrarmos".

[Flashback on]

Para mim, ainda era de noite quando alguém começou a ligar para o meu celular. Eu rolei na cama tentando criar coragem para atender, mas eu não achava o bendito aparelho. O meu corpo passou a ignorar o som do toque da ligação quando eu comecei a dormir novamente. Depois de algum tempo o maldito celular começou a tocar de novo, tentei ignorar achando que a pessoa desistiria, mas não...

— Mas que merda! — Eu resmunguei alto. Abri os olhos e foi ai que eu percebi que não estava de noite e sim de dia. A claridade incomodava os meus olhos, mas mesmo assim eu consegui ver meu celular jogado ao lado da cama. Estiquei-me o bastante para pegá-lo, depois de conseguir eu deitei novamente. Olhei para a tela e depois de muita dificuldade eu li "Leca", revirei os olhos e atendi.

— O que foi? — Eu disse brava.

— Nossa! Isso é jeito de atender sua amiga?

— Isso são horas de ligar?

— Sim? — Ela riu — São uma hora da tarde Nina. Você estava dormindo até agora?

— Estava, algum problema?

— Sim, vários. Será que da pra você atender o Harry?

— Ah então foi ele que me ligou mais cedo? As pessoas realmente adoram estragar o meu melhor sono.

4 Months without youOnde histórias criam vida. Descubra agora