Reinier Jesus

12.6K 109 1
                                    

Andava calmamente pelo calçadão da praia quando avisto de longe um menino magro, de uns 19 anos sentado com a cabeça entre as pernas. Pelo movimento do tronco, supus que ele chorava e fui até lá ver o que eu podia fazer.
Bom, meu nome é Martina, tenho 24 anos e sou designer. Desde criança sempre gostei de ajudar as pessoas, mesmo quando elas não pediam minha ajuda. Era o caso daquele menino a pouco metros de mim.
Aproximei-me dele, agachei e disse:
- Olá, precisa de ajuda?
Ele ergueu a cabeça, e para minha surpresa, eu estava frente a frente com Reinier Jesus em plena segunda feira no RJ, que pelo que eu saiba já não é sua casa há quase 2 anos.
- Não, valeu. - enxugou as lágrimas.
- Ah, me desculpe. Eu não sabia que era você. Sei que pessoas públicas não têm o hábito de desabafar com estranhos. Fica tranquilo. - sorri docemente pra ele.
Levantei-me e ia saindo quando ele sussurrou:
- Espera. - interrompi meu movimento - obrigada por parar pra perguntar se tava tudo bem, mesmo antes de saber que era eu. - me olhou com os olhos brilhantes, ainda que vermelhos. Era só um menino, eu via isso.
- Não precisa agradecer. Espero que você fique melhor. - sorri e ia me afastando.
- Ok - Ele falou um pouco mais alta - Eu preciso mesmo conversar... pode sentar aí? - apontou pro seu lado direito.
Sentei e cruzei as pernas, esperando que ele começasse.
Depois de bons minutos. Ele começou baixinho:
- Tem uma pessoa, acredito que seja uma menina, ela fez um perfil no Twitter que eu já stalkeei e vi que antes era um perfil de fã. Só que de uns dois meses pra cá, ela começou a soltar hate em mim. Começou com coisa banais... dizendo que eu sou feio e que a galera só gosta de mim porque eu sou famoso, o que na verdade, eu não me importo, sabe? Mas aí ontem a noite ela disse que eu era um fracasso. Que eu nunca ia dar certo na Europa porque o Flamengo me tratava como estrelinha mas eu não passava de um jogador comum que nunca ia alcançar destaque. Ela despejou tanta coisa em mim que eu tenho tentado não dar ouvidos, mas sei lá, ontem foi impossível. Aí eu peguei o carro, vim pra cá, e tô aqui desde as 4 da manhã, chorando feito um desgraçado. - sorriu triste
- O pior é que você acredita no que ela falou, né? - coloquei a mão instintivamente sobre seu ombro.
Ele apenas baixou a cabeça. Entendi como um sim.
- Eu não vou ficar dizendo o quanto tudo isso é um processo e que você precisa respeitar as etapas, nem dizendo o quanto precisa parar de se comparar com pessoas como Erling ou Kylian porque ambos são europeus e não têm o mesmo processo de adaptação que você. Porque disso você já sabe. Eu só acho que você não devia se apegar tanto ao que essa pessoa diz. E sei que não é simples isso porque afinal, ela revelou pro mundo seus maiores medos de não corresponder às expectativas.
- É, você tem razão. Mas é tão difícil. Eu sou tratado como uma mina de ouro. Eu não posso errar e agora, que eu nem jogo no Borussia, todo mundo começa a olhar pra mim como mais um. E eu odeio essa sensação. - me olhou.
- Você não foi acostumado a ser mais um. Eu lembro... você era o melhor sub17 do mundo. Você é 10 e faixa da seleção de base. Você sempre foi a joia. Mas você ainda é... todo potencial que viam em você ainda está aí. Você tem 19 anos, Reinier. Eu sei que pro futebol, você não é mais tão jovem... mas você ainda é jovem, ainda pode explodir... Ney foi pra Europa aos 21, por exemplo.
- É, mas caras como o Gabi, não deram certo.
- Gabriel não deu certo porque é marrento. Você não é assim. Ronaldo foi melhor do mundo com sua idade, Lincoln foi taxado de pereba com sua idade. Não dá pra ficar se comparando pra sempre. Você é você. E precisa entender isso. Seja o melhor que você pode ser. E isso vai ser suficiente. - sorri
- É... - o celular dele toca.
Estende o dedo como se me pedisse pra esperar... eu assenti.
- Oi mãe... não...tô bem...sim... na praia... não vou demorar... não, não esqueci, mas ainda tá cedo... ok, tchau.
- Acho que essa é minha deixa. - levantei.
- Muito obrigado por tudo... - fez uma pausa engraçada - caramba, eu não sei seu nome - riu alto
- Martina. Meu nome é Martina. E o prazer foi meu. Espero que fique tudo bem.
- Valeu, Martina. - beijou minha bochecha e saiu se arrastando, ao que eu gritei
- Olha a postura, menino - ri
Ajeitou os ombros e disse rindo:
- Vou lembrar disso.

Não sei como, mas Reinier me encontrou no Instagram e continuamos a conversar, conversamos sobre tudo e ficamos muito próximos. Nesse meio tempo (3 meses) ele já tinha me cantado umas vezes mas eu sempre cortava dizendo que ser 5 anos mais velha que ele não ajudava muito. Isso não quer dizer que eu não tenha me sentido atraída por aquele menino de 1.80 de altura. Depois de eu insistir muito, ele finalmente me disse o bendito nome da pessoa que ainda estava o machucando e eu comecei a segui -la: @hatenier, vê se pode? Mas pelo menos a sacada era boa.
Depois de umas semanas, a chamei no direct sem dizer muito e convidei pruma água de côco caso ela fosse carioca. A menina estranhamente aceitou. O que é no mínimo preocupante, eu podia ser uma psicopata.
Qual não foi minha surpresa ao descobrir que a pessoa responsável pelo menino ficar noites em claro tinha 15 anos e se chamava Alice.
Me apresentei também.
- Mas Alice, por que tanto ódio do Reinier?
- Ah, sabe, um dia eu tava numa fila pra tirar foto com ele até que o ouvi dizer pro segurança que precisava ir embora, que naquele dia tava sem cabeça pra atender fã. Eu fiquei mal, sabe? E achei ele tão sem noção, aí resolvi criar uma conta de hate em cima do fandom que tinha.
- Entendi.. Mas você sabe que mesmo que o que ele fez tenha sido feio, o que você fez não é legal, né? Não se pode brincar assim com a saúde emocional das pessoas.
- Mas ele nem se importa - revirou os olhos.
- Se importa sim, e é por isso que estamos aqui.
- Como assim?
Estendi um dedo indicador pra ela em sinal de espera e liguei pra ele.
- Oi, entra.
Desliguei
- Você já vai entender.
Ele entrou, sentou na mesa e a ouviu.
- Nossa, me desculpa, Alice. Aquele realmente tinha sido um péssimo dia, tava cheio de problema mas não justifica, vocês são uma das melhores partes da minha vida.
- Desculpa também. Não acho nada daquilo de você. Você tem muito potencial e ainda vai ser gigante, Rei.
Eu sorri pra ele como se dissesse: viu, eu avisei.
Depois de muito drama, eles fizeram as pazes, tiraram um álbum inteiro de fotos e a gente saiu de lá.
Ele segurou meu braço, e disse
- Obrigada mesmo, Mar. Não sei como te agradecer. - sorriu doce
- tudo bem, sweet, não precisa. - sorri de volta.
Ele veio e abraçou. Olhei ao redor e percebi que estávamos no mesmo lugar onde nos conhecemos.
- Mar - sussurrou
- Hum - respondi presa naquele olhar
- Me deixa tentar uma coisa? - segurou sussurrando
- Cuidado com o que vai fazer, posso criar um perfil de hate também - fiz piada e ele riu.
- Vindo de você, eu posso aprender a lidar com isso. - olhou profundamente como se pudesse me ler. Pela primeira vez eu não via o menino Reinier, ou como eu o chamava: meu menino. Eu vi um homem decidido e isso me assustou e me fez baixar a guarda.
- Certo. - ele se aproximou ainda mais e segurou meu cabelo, encostou nossos narizes e eu ainda tentei sussurrar uma advertência por estarmos em público mas fui ignorada. Reinier Jesus me beijou e arrebatou meu coração naquele dia. Eu nunca pensei que estaria tão rendida por um menino, mas estou. E sequer me envergonho disso.
Ah, pelo visto Alice ainda não tinha ido embora porque assim que cheguei em casa, só vi o Reinier me mandando um print e rindo muito alto num áudio. Abri e qual não foi minha surpresa quando vi que @hatenier havia se transformado em @forevermarnier.
Desculpa, não tenho maturidade pra isso.

One Shots FutebolOnde histórias criam vida. Descubra agora