Cristiano Ronaldo

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Indo para o 4o atendimento da tarde, ouvi uma barulheira infernal do lado de fora do consultório. Quando saí para verificar o que estava acontecendo, me deparei com uma verdadeira cena de guerra. Homens caídos no chão e mulheres passando mal.
- Aida, o que está havendo aqui? - perguntei à recepcionista que parecia esbaforida - Espera, aquele ali caído é o Wilson? - apontei para a silhueta que parecia e muito com o nosso segurança.
- Sim, doutora, é o Wilson. A senhora perguntou o que houve, né? É que o Cristiano Ronaldo tá aqui, doutora. Chegou cumprimentando todo mundo, pegando na mão das pessoas e elas foram passando mal, começando pelo Wilson lá na porta. É que ele é ídolo de muita gente, né? - já parecia devanear
- Tudo bem, Aida - estava caminhando de volta ao meu consultório quando escuto a mulher falar.
- Onde vai, doutora? Ele pediu pra te ver, está lá na sala da diretoria, esperando por você. - Me olhava entusiasmada
- Aida, querida. Eu tenho mais 3 consultas agora. Se ele puder esperar, ótimo, se não der, peça para que qualquer outro o atenda. - tornei meu caminho sendo novamente chamada
- Mas Letizia, você vai deixá-lo esperando? É o Cristiano Ronaldo! - parecia inconformada, quase sendo grosseira
- Aida, eu não atendo urgência e emergência, se ele estiver morrendo, tenho certeza que o que não falta nesse hospital é médico pra atendê-lo. Eu vou terminar a minha agenda de hoje, porque todas essas pessoas aqui também são importantes e precisam de mim. Ele chegou por último, que espere.
Segui pisando duro hospital a dentro.
...

Duas horas e meia depois, entrei ainda irritada na sala da diretoria. Ele estava majestosamente sentado como se fosse o rei do mundo. Assim que entrei, ele suspirou alto e veio ao meu encontro. Sem cerimônia nenhuma, apenas me desviei dele e sentei numa cadeira do outro lado da sala.
- Achei que não viria. Já estava aguardando aqui há muito tempo - ele se sentou ao meu lado.
- Tinha uma agenda a cumprir, Ronaldo - revirei os olhos - o que quer?
- Tinha me esquecido que das 8 bilhões de pessoas do mundo, você é a única que não me acha especial - revirou os olhos
- Você tem todas as 8 bilhões, deixou bem claro que não precisava de mim. Além do mais, eu sempre preferi o Messi.
- Outch - colocou a mão no peito teatralmente - essa doeu.
- Tanto faz. Mas fala o que você quer. Sei que não veio aqui só por causa dos meus gostos futebolísticos.
- Acho que cheguei naquela fase que você falou que nunca ia acontecer - me olhou triste
- Do que está falando? - franzi a testa
- Lembra quando você falou que talvez um dia eu ia olhar pra trás e ver todo mundo que sangrou ao longo do caminho só pra que eu tivesse confortável com a minha vida? - continuou me olhando
- Vagamente... faz muito tempo. - realmente fazia tempo, mas aquela conversa ainda estava vívida em mim - mas o que você quer de mim?
- Eu sempre soube que apesar de tudo eu podia contar com você quando precisasse. Eu estou aqui por isso. Preciso de ajuda. Finalmente percebi que estar no topo é muito solitário quando se faz tudo que eu fiz.
- Não entendo como eu poderia te ajudar...
- Você é minha amiga, Letizia...
- Não, não sou. Faz 1 ano e meio que eu não sei nada sobre você além do que a mídia produz. Achei que eu tinha deixado bem claro depois daquele dramalhão todo que aquilo não era um até logo. Eu posso te ajudar, Ronaldo, como ajudaria qualquer outra pessoa que recorresse a mim. Mas pensar que vou lhe ajudar por ser sua amiga é demais até mesmo pra você.
- Quando foi que você ficou tão fria? - tentou segurar minha mão e me esquivei
- Eu aprendi a me virar sozinha quando você deixou bem claro que eu não era suficiente pra ti. Você sabe a dor que sentiu quando perdeu Roberto? Aquela sensação de que nada mais importa porque o essencial foi perdido? Que nunca mais será amado como era antes? Que talvez nem precise mais de amor? Você foi o meu Roberto, cara. A diferença é que você estava vivo e desfilando por aí fazendo coisas que sempre disse não gostar. Você me mostrou em cada milésimo de segundo que o problema da sua vida era eu. Então sim, me desculpe se agora eu não vou jogar tudo pro alto pra te mimar. Não sei se já esqueceu, mas eu não sou o tipo de pessoa que se encaixa no cargo de parça. Então deixa eu te dizer algo que devia ter te dito naquele tempo. - me virei pra ele que tinha lágrimas retidas no olhos e continuei - esse é o preço que você paga por ser tão ensimesmado. Você só olha pro seu umbigo, então é natural que ninguém queira permanecer - as lágrimas então caíam freneticamente agora.
- Você - a voz grave estava falhada pelo choro - não precisa ser tão maldosa.
- Eu estou sendo realista. Talvez se eu tivesse sido antes você tinha acordado mais cedo. Agora se era só isso, eu vou embora, estou exausta e minha mãe está me visitando e preciso dar atenção a ela. Mande um beijo pra tia por mim. - me levantei e ele agarrou minha mão, o olhei e ele sussurrou
- Posso visitar a tia Bi amanhã?
- Claro. Tenho certeza que ela vai adorar te ver. Sempre gostou mais de você que de mim - Eu ri pela primeira vez naquela noite, lembrando o quanto minha mãe sempre ficava ao lado dele em qualquer discussão que tínhamos.
- Então, tá, até amanhã - ele enxugou as lágrimas e deu um pequeno sorriso
- Até amanhã, Cris.

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⏰ Última atualização: Dec 08, 2023 ⏰

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