Leo Messi/ Alexia Putelas

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Conheci Alexia na peneira assim que cheguei pela primeira vez à Catalunha. Eu tinha 12 anos, mas quem me olhava daria uns 5 devido ao meu tamanho diminuto. Ela tinha 8 anos e estava no time oposto ao meu. Até os 14 anos - momento da puberdade - as peneiras são mistas e assim La Masia revela não só os melhores jogadores do mundo, como as melhores também.
Naquele dia, ela fez 5 gols no meu time e eu fiz 5 gols no time dela. Os dois passaram.
Com o decorrer do tempo e ainda os alguns anos (2, pra ser mais exato) que teríamos juntos até as categorias se separarem nós ficamos muito próximos. Os moleques não gostavam de mim porque eu era muito pequeno e, por isso, eu tinha atenção redobrada e eles achavam que eu queria bancar a estrelinha da base quando eu nunca quis isso. Alexia era meio sozinha também porque ela tava sempre uma categoria acima do que deveria porque sempre se destacou. O engraçado é que nós éramos unidos pelo desprezo alheio.

Depois que as categorias se separaram, a gente teve menos tempo junto. Eu sumia por meses e quando voltava as histórias eram as melhores possíveis. Eu perdi as contas de quantas bocas eu beijei até os 22-23 anos quando eu já tinha explodido como a "maior revelação do futebol desde Pelé". Alexia era minha amiga, a gente ria, tomava umas de vez quando e ela tava sempre sabendo sobre minhas ficantes seja por mim ou pelo jornal.

Aos 25, eu percebi que ser famoso não era tão bom quanto eu imaginava. Mas minha fama já me precedia, inclusive com Alexia.
Até hoje eu lembro de quando eu comecei olhá-la diferente. Ela estava radiante em azul e grená na sua estreia pelo profissional culé. Eu não me aguentava de tão orgulho e quando ela marcou o primeiro gol e correu pra mim, eu percebi que eu não queria ser só o Lio amigo, eu queria mais. E eu investi. Ao contrário do que a maioria pensa eu não sou tão tímido assim. Então deixei claro pra ela alguns dias mais tarde o que eu queria. E eu imaginava que ela ia pular em mim e dali em diante nós seríamos o casal 20 (19, se pensarmos literalmente). Mas ela não quis. Apesar disso, nos meses que se seguiram, nós flertamos como nunca antes. A gente não perdia uma possibilidade, inclusive nas comemorações dos nossos gols. A imprensa catalã começou a especular e a gente ria muito deles tentando entender o que tava acontecendo. Em algum momento eu jurei que ela ia ceder. Lembro até hoje do fatídico dia que colocou ponto final na nossa história.

Alexia tinha feito 8 gols contra o Girona, eu a busquei naquele sábado a noite pra um pós jogo que tinha cara de pré-jogo pra mim que jogaria no dia seguinte. Comemos uma salada, tomamos água com gás e batemos altos papos. A levei em casa cedo pq tinha que concentrar. Quando chegamos no prédio, eu pedi água e a gente subiu. Eu tomei a água, e ela me abraçou forte, ela tava mole na minha mão. Eu segurei o pescoço dela, ela olhou pra mim numa distância minúscula. Eu pensei que aquela era a hora de encurtar a distância e beijar aquela mulher. Mas ela nunca me levava a sério. Aquele foi mais um momento. Ela se afastou e me olhou indecifrável. Me disse que se eu quisesse flertar com ela, ela não se opunha, mas que eu não me iludisse porque ela ia usar esse flerte só como algo que melhora sua autoestima, e nunca ia conseguir realmente ter algo comigo. Na minha frente, a camisa 9 do Barcelona não parecia nem de perto a mulher imponente de campo, parecia a menininha que chorou depois de ter destruído todos os moleques da peneira em que nos conhecemos.
Alexia ficou com os olhos rasos d'água e me contou sobre o quanto se sentia incapaz de qualquer coisa por mais que ela quisesse e ela queria comigo. Me pediu pra decidir o que eu queria fazer. Ficar entendendo os termos ou ir embora. Eu dei meia volta e fui pra concentração. Querendo ou não eu me senti usado. E saber que ela não me levava a sério me machucava ainda mais.
E lá se foram 8 anos...
E você pode se perguntar: Leo, então porque você está falando isso?
Porque aqui estou, ganhando minha sétima bola de ouro e encontrando Alexia Putelas depois de todos esses anos. Ela foi eleita a melhor jogadora do mundo. No fundo, eu ainda sinto o peito queimar de orgulho. É óbvio que nós nos víamos em todas as fotos de inicio de ano do clube, mas essa é a primeira vez que nos falamos e que tiram fotos sozinhos um com o outro.
Ter que interagir com ela e vê-la tão radiante foi desconcertante.
Qual é, eu tenho 33 anos e não posso agir como um moleque. Então eu fiz tudo que, como profissional, eu tinha que fazer e depois fui direto pro estacionamento. Eu não queria ela por perto, tampouco a sensação de que a única vez em que eu me envolvi com alguém, eu não fui levado a sério.

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