João Gomes (Pedro G.)

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Conheci Ana Paula num quiosque na minha despedida da base. De imediato ela me chamou atenção e depois de criar coragem, fui até ela.
Ela sorriu, me deu abertura e daí eu nem sei quando sair com ela era meu programa de toda folga.
Ana Paula tinha 30 anos na época, um filho adulto (de 18) advindo de um trauma que ela negava veementemente falar e eu estava completamente rendido por ela.
Todo mundo sabia que eu tinha alguém, apesar de só o Matheuzinho e a Camis (uma amiga antiga) conhecê-la por nome.
Ela não me deixava saber onde morava, sempre marcava em locais pouco movimentados pra me encontrar e uma vez eu vi que nem meu número salvo ela tinha no Whatsapp.
Eu relevei, sabe? Era virado nela, tava disposto a tudo.
Sempre que eu propunha algo sério, ela dizia que não tava afim de um relacionamento ainda, que tava curtindo a gente assim. Mas me disse que podíamos firmar o compromisso de não ficarmos com outras pessoas  enquanto estivesse rolando esse nós.
É óbvio que eu concordei.
Ana sumia por semanas e reaparecia como se nada tivesse acontecido.
Com ela era aquela máxima:
Eu sempre saía apaixonado e voltava arrependido. Umas vezes mais, outras menos. Mas era sempre assim.
Poucas vezes me falou de sua vida e também nunca esteve tão aberta a ouvir sobre mim.
Cara, nem quando eu fui campeão brasileiro.
Falando nisso, é aí que começa outra fase dessa história.
Pedro e eu tínhamos nos aproximado muito no fim do campeonato e ele me chamou pra uma resenha na sua casa no dia posterior ao título e eu não tinha nada pra fazer, Ana Paula não aparecia há semanas e eu  fui.
Quando eu toquei a campainha, para minha total surpresa, ela quem abriu a porta e antes que eu pudesse raciocinar, o camisa 21 aparece atrás dela
- É o João, mãe?
Ela assentiu
E me  tratou a tarde inteira como um desconhecido. Até disse que eu podia  chamar ela de  tia se quisesse.
Aquele teatro estava me sufocando.

Alguns meses  depois foi aniversário do artilheiro e apesar de  muitas desculpas, acabei sendo obrigado a comparecer, mas  levei a Camis pra me ajudar a enfrentar a barra e não surtar.

Depois  do parabéns, ele veio  fazer um discurso e propôs um brinde à mãe e a um tal de Ricardo, que pelo  que eu entendi foi namorado dela na adolescência e que naquele dia estavam comemorando 1 ano de namoro.

1 ano...
Não fazia nem 6 meses  que ela tinha sumido da minha vida sem dar explicações.

Eu me senti um otário.
Senti imediatamente o braço da menina passar pela minha cintura num gesto de apoio.
Meus olhos marejaram e eu me proibi chorar.
Procurei o atacante, dei  os parabéns de novo  e decidi ir embora.

Devo confessar  que  de  lá pra cá (5 anos)
As coisas ficaram mais fáceis.
Faz  2 anos que eu decidi seguir minha vida e comecei a namorar a Camis.
Hoje estamos aqui na festa do título da libertadores e do nada senti uma mão me puxar pra um canto escuro.
Era ela.
Ana Paula Abreu...
Depois de 5 anos.
- O  que  você quer? - inquiri
- Você. Eu tô com saudade JoVi - sorriu e passou a mão  pelo meu braço num carinho que eu rapidamente  interrompi ao puxar meu braço
- Meio tarde pra isso - cruzei os braços
- Eu... - falou mais baixo enquanto olhava para o chão - acho  que  amo você - me olhou  com os mesmos olhos pidões que me faziam perder treino pra ir passear em Angra numa terça feira qualquer.

Por um instante fiquei feliz. Nem o apelido que só ela usava, nem aquela expressão estavam me manipulando.

- Tá bom. E por que só agora? Me poupe, Paula. Me poupe! - revirei os olhos
- Porque... porque... - e não conseguiu  formular uma frase
- Eu sei porque. Porque pela primeira vez desde que nos conhecemos eu não sou mais teu cachorrinho. Você teve 3 anos pra voltar e não voltou. Mas quer agora. Quer que eu volte a ser teu brinquedinho porque você não aguenta ver que eu não tô mais sob seu domínio. Você não ama ninguém!  - disse tudo que eu precisava dizer e respirei fundo.
- Você tá  muito atrevido, JoVi - sussurrou provocativa - imagina o que sua  namoradinha ia achar disso.
- Eu  não imagino, eu sei.  Ela sabe de  tudo. Se eu  fosse você, não iria até ela, porque ela vai te descer a porrada e eu quero ver como  você vai explicar pro Pedro  que a mãezinha perfeita dele me usou por tanto tempo -ergui a sobrancelha pra ela.
- Urgh - bufou - Eu odeio você. Era mais fácil quando você se dobrava rápido - revirou os olhos.
- Você é doente.
E saí de lá. Quando passei pela portinha do canto escuro, esbarrei em alguém.
Era ele.
- Cara, eu... - Como eu me explicar
- Não precisa... - ele disse sério
- Eu não sabia que era sua mãe. Quando eu descobri, ela já não tava mais na minha vida. - toquei em seu ombro.
- Tá tudo bem, João. Eu vi como você sofreu. Não precisa se explicar. Além do mais, ela pode ficar com quem quiser. Mas brincar com os sentimentos alheios, aí não.- sorriu pra mim
Eu saí dali não sem antes ouvi -lo dizer:
- Eu tô muito decepcionado com você, mãe.
Podia facilmente vê-la com os olhos marejados e a expressão de culpa.
Eu não sabia quase nada dela, mas sabia que ela tinha pavor de que o filho perdesse a imagem de heroína que ele tinha dela.

Bingo!
Ação e reação.

Voltei pra festa.
Camilla me viu chegar e perguntou:
- como é que foi lá?
- Acho que encerrei o ciclo, finalmente - apoiei meu queixo em sua cabeça
- Espero que tenha aprendido a lição...
- como assim? - franzi a testa
- Amar por dois só dá prejuízo, João.

Ela ergueu a cabeça e beijou meu queixo.
Naquele instante, olhei dentro de seus olhos e entendi.
Amar é uma estrada que se trilha a dois.









Pedidos abertos, galera.
Se vocês não me pararem eu vou transformar isso aqui num negócio da  Gavea kkkkkkk
Eu pensei que esse aqui ia sair do Reus com o Sancho e não deu...
Mas enfim.
Votem e comentem.
É muito importante pra mim :)
Até loguinho
Beijos da Lu.

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