One Shots Futebol

Gérson pt 2

Umas duas semanas depois daquela conversa, dona Rosa apareceu lá em casa e me intimou para um churrasco que aconteceria na quinta-feira em comemoração ao primeiro jogo do camisa 8 pelo Flamengo.
Até relutei pois não sabia se ele iria gostar de me ver lá. Mas ela disse que veria como desfeita se eu não aparecesse.
E por todo o apego que desde menina eu tenho por essa família, não podia dizer não.

Pois bem, a quinta chegou, comecei a ouvir alto o pagode rolando e depois de trocar de roupa mil duzentas e noventa e cinco vezes, eu saí de casa extremamente apreensiva.
Toquei a campainha e dona Rosa apareceu para me atender.
Saiu me puxando pra dentro de casa em direção à cozinha onde ela preparava os acompanhamentos do churrasco que Marcão estava preparando lá fora.
Depois de mais de uma hora e eu já completamente relaxada, comecei a ouvir vozes e risadas. Logo Gérson e mais 2 caras chegaram na cozinha.
Fiquei apreensiva novamente. Não sabia como ele ia reagir ao me ver ali já que tinha dito que ia me esquecer.
Depois de muitas encaradas, ele balançou a cabeça como se espantasse qualquer coisa e disse:
- Fala, tia Ju. Que bom que veio. - Eu franzi o cenho, fazia mais de 5 anos que ele não me chamava assim, mas ainda assim respondi.
- Tudo bem, GG?
- Tranquilo. - ele respondeu e completou - Mãe, tia, esses são Gabriel - apontou prum loirinho pivete cheio de tatuagens que sorriu imediatamente em cumprimento, Giorgian - apontou para um homem mais baixo que parecia ser mais velho que os outros.
- É um prazer meninos, eu sou Juliana. - sorri pra eles
Dona Rosa também se apresentou e depois de conversarmos amenidades, eles saíram.
- Qual foi dessa do Gérson voltar a te chamar de tia? - a mãe interrogou logo que eles saíram
- Acho que passou àquela coisa da adolescência, agora ele sabe que eu sou só a tia dele - sugeri mesmo sabendo que possivelmente não tinha nada a ver com isso.

Continuamos conversando por um bom tempo até que eu resolvi ir ao banheiro.
Estava passando pelo corredor até ouvir uma conversa com meu nome
- Gerson, essa Juliana é a mesma que você vive falando pra gente? - um sotaque paulista comentou
- É... É sim
- Achei que tivesse dito que tinha parado de chamar ela de tia há muito tempo - um sotaque portunhol dessa vez
- Sabe o que é, gringo, eu não tive tempo de falar isso com vocês. Tava digerindo ainda. Há umas duas semanas foi aniversário dela, eu fui pra festa, fiz uma surpresa e achei que tivesse rolado um clima. No fim da noite, fui até a casa dela disposto a dizer com todas as letras o que eu sentia. Fui até lá, rolou um clima mais uma vez e eu beijei ela.
- Então o que nós perdemos?
- Ela me cortou, falou da diferença de idade e de que tem alguém. O cara é tão parecido comigo que chega assustar mas tem a mesma idade que ela e a mesma profissão que ela. então eu fui colocado pra escanteio. Eu pensei bastante e sabia que não dava pra simplesmente tirar ela da minha vida pq ela faz parte da família, então decidi voltar a chamar ela de tia, pra ver se me convenço da besteira que tô fazendo ao continuar apaixonado por ela por todos esses anos.
- É uma boa estratégia - o sotaque paulista comentou mais uma vez. - Isso quer dizer que você tá livre na pista? - sua voz saiu maliciosa
- Vai dar uma chance pra Greice? - o portunhol perguntou
- Não e não. Pras duas perguntas. Eu nao vou me envolver com alguém quando ainda nao consegui me resolver comigo mesmo. Quer Juliana goste ou não, eu tô paradão na dela. Preciso me curar disso primeiro. Nem a Greice nem ninguém merece alguém pela metade. - Gerson completou e eu resolvi sair dali, já tinha ouvido demais.
E fiquei pensando... talvez seja isso que eu tenho feito com o Henrique. Não gosto dele o suficiente pra manter algo elaborado como o que estamos tendo. Acho importante ponderar sobre isso...
Mandei uma mensagem pra ele
"Precisamos conversar"
Ele logo disse que viria até aqui.
Pensei em ir pra casa recebê-lo mas quando fui me despedir, dona Rosa disse pra trazê-lo também e assim eu fiz

Em meia hora ele chegou e nós fomos para a beira da piscina conversar.
Um pouco distante estava a roda de pagode onde os meninos brincavam.

Olhei bem pra ele. Ele era lindo e tinha uma personalidade sensível mas não era pra mim, não agora pelo menos.
- Rique, eu não vou ficar enrolando. Acho que não podemos continuar. - continuei o olhando.
- Eu imaginei que fosse isso que queria conversar. Tá tudo bem, Ju, não é como se nosso relacionamento fosse uma prisão. Você é e sempre foi livre. Eu espero que você seja feliz. - sorriu tranquilo
- Você é o melhor amigo do  mundo - me aproximei dele para o abraçar
Depois de alguns minutos, ele sussurrou:
- Tá todo mundo olhando pra cá.
- Todo mundo quem? - devolvi
- Três caras, mas o maior deles parece prestes a cometer um crime - riu
- Droga. - bufei - eu vou só me despedir e a gente vai lá pra casa tá bom?
- Eu espero você se despedir mas eu já vou pra casa também.
- Tudo bem.
Nos soltamos do abraço.
Fui até a cozinha dar tchau pros mais velhos que estavam em clima de romance e voltei pro quintal pra me despedir dos 3 amigos.
- Gabriel e Giorgian foi um prazer conhecer vocês. Eu já vou indo. - sorri pra eles - Gerson, parabéns pelo jogo ontem e espero que você seja muito feliz e bem sucedido com a camisa do Flamengo - me virei pra ele.
Os meninos vieram me dar um abraço de despedida e ele se aproximou depois.
Segurou minha cintura enquanto me olhava profundamente, em seguida, parece que se lembrando de alguma coisa, me deu um abraço rápido e me soltou, eu quase caí, ainda estava com as pernas bambas.
Fui saindo junto com o Henrique que observava tudo de longe.
Quando chegamos na porta do seu carro, ele virou pra mim e disse:
- Você sabe que gosta dele, né?
- O quê?
- Suas pupilas tão dilatadas até agora. Esse menino ali dentro foi a primeira  pessoa que eu vi te deixar  instável. Você ficou mole na mão dele e isso é surpreendente. Acho que quero que ele me dê umas  aulas - e sorriu.
- Você tá doido, Rique. Tá vendo coisas  - revirei os olhos.
- É pior do que pensava. Você ainda  não admite que  gosta dele. Só não demora, tá? Você pode se arrepender muito.  - me abraçou e entrou no carro.
Eu mal tive tempo pra pensar quando ouvi uma voz conhecida:
- Ele parece ser um cara legal - Gerson veio se aproximando com as mãos nos bolsos
- É, ele é. - respondi
- Sorte grande a sua. - sorriu triste e voltou para dentro.