One Shots Futebol

Guilherme Arana

Quando eu desembarquei no Brasil, a primeira coisa que vi foi a mensagem de Guilherme dizendo que não poderia ir me buscar, mas que havia mandado o motorista. Eu nem fiquei irritada, não tinha porquê.  Sei como é difícil a rotina de um jogador de futebol, ainda mais se tratando do possível futuro lateral esquerdo da seleção brasileira.
Após encontrar o homem com a plaquinha me esperando e cumprimentá-lo, seguimos para a casa do meu melhor amigo.
Ao chegarmos, toquei a campainha enquanto carregava uma de minhas malas e o motorista simpático que eu descobri se chamar Roberto carregavam outra.
Uma mulher mais velha vestida em roupas chiques abriu a porta.
- Quem é você? - dirigiu a palavra a mim com claro desgosto na voz
- Oi, boa tarde. Eu sou Violetta Barone, a amiga espanhola do Guilherme...
- A melhor amiga espanhola do Guilherme, você quis dizer - ele disse descendo as escadas e veio em minha direção, enquanto a mulher ainda estava parada à minha frente sem me deixar entrar.
- Vilu, essa é dona Ana Maria, minha mãe. - ele fez careta enquanto eu soltava a mala pra receber seu abraço. Do qual eu realmente estava com saudade.
Guilherme voltou da Espanha há 3 anos e desde então nunca mais tínhamos nos visto pessoalmente.
- Que saudade que eu tava de você - ele cochichou
- Eu também estava, palitinho - beijei sua bochecha ao me soltar.
- Mas vamos entrando que você deve tá cansada. Deixei o quarto de hóspedes ao lado do meu pra você, assim a gente fica o mais perto possível - pegou minha mala e foi passando pela mãe que ainda estava parada na mesma posição me olhando feio.

Entrei e me acomodei. Enquanto tomava banho, ouvi uma conversa um pouco mais alta no corredor
- Como você tem coragem, Guilherme? Trazer essa mulher que arruinou o seu casamento, destruiu a vida da minha nora pra dentro dessa casa?! Eu estou sinceramente decepcionada. - ela falava como se quisesse que eu ouvisse.
- Mãe - ele falou alto e depois começou a falar em tom normal e eu me aproximei da porta pra ouvir - primeiro, Natália deixou de ser sua nora há 3 anos, segundo, Violetta não tem nada a ver com o fim do meu casamento, pelo contrário, se não fosse ela quando eu descobri a traição e que inclusive o bebê que eu tanto esperava e que me fez pai não era meu filho, eu teria me jogado na frente do primeiro carro em Sevilla. Terceiro, essa é a minha casa, mãe. Eu sou um homem adulto e independente. Eu te amo mas se você está incomodada com quem eu recebo na minha casa, você pode ir pra sua. Lá eu te garanto que Violetta não pisa. - ele falou em tom moderado e eu juro que consegui ver o momento em que a mãe pegou a bolsa e foi embora indignada. Saí ainda enrolada na toalha e fui até ele.
- Desculpa! Eu não sabia que ela achava isso de mim e muito menos que estar aqui te traria problemas. Eu posso ficar no hotel enquanto resolvo os problemas que me trouxeram até aqui.
- Eu quem peço desculpas por ela. Ela ainda não entendeu que Natália me traiu e que Theo infelizmente não é meu filho. Você vai ficar exatamente onde está porque eu tenho um estoque quase ilimitado de saudade pra matar com você - me abraçou de novo e o toque quente da sua pele com a minha fria pelo banho me causou um arrepio no corpo inteiro.
Eis aí o efeito Guilherme Arana. É sempre assim, nem sei porque me surpreendo.

Eu fui me vestir e ele foi pedir comida pra gente jantar e depois assistir qualquer coisa só pra ficar juntinho.

GUILHERME ARANA P.O.V

Vendo Violetta escorada no meu peito enquanto assistimos RBD (sim, é isso mesmo que você leu) eu só consigo pensar que não fazia ideia do quanto sentia falta dela até sentir seu cheiro no abraço de mais cedo. Vilu era o que eu mais admirava numa pessoa. Determinada, divertida e totalmente sem noção. Quando eu a conheci naquele bar nunca imaginei que ela se tornaria tudo que se tornou na minha vida.
Na noite em que eu descobri que Natália me traía e que o meu tão esperado primeiro filho na verdade não era meu, eu saí por Sevilha usando toda a velocidade da minha porsche e parei num bar. Entrei ali com a ideia de beber até esquecer, mas nunca cheguei a entrar no bar. Encontrei uma mulher de cabelo cor de rosa sentada na calçada e ela simplesmente disse:
- Ô bonitão, seja lá quem for, te garanto que não vale a pena lascar o seu fígado por isso.
- Você não sabe de nada.
- Não sei. Me conta. - bateu ao seu lado na calçada
E não é que eu fui? Me sentei lá e contei tudo. E daí que eu sou uma pessoa pública? Naquele dia Vilu me ensinou na prática o primeiro princípio psicanalítico: a cura pela fala.
Eu não bebi uma gota de álcool. Saí as 6 da manhã daquela calçada com o coração bem menos ferido do que quando cheguei.
Daí pra frente sempre nos encontrávamos. Ela dormia no meu ap, eu dormia no seu flat e assim ela se tornou meu suporte.
Então Natália voltou para o Brasil com Theo e contou a sua versão mentirosa da história. Minha mãe tem ódio mortal de Violetta por "ter acabado com a minha família" e quando ela chegou aqui de manhã dizendo que veio me fazer companhia eu só pensei no quanto ia dar ruim quando a espanhola chegasse. E foi pior do que eu imaginava.
Fui desperto pela voz baixinha da mulher
- Gui... - sussurrou sonolenta
- Oi, floquinho - acariciei seu cabelo
- Eu vou pra cama, tá? O jet lag tá me matando - falou ainda encolhidinha no meu peito
- Vem, eu te levo - segurei ela no colo estilo noiva e fui subindo as escadas tentando me concentrar em não cair da escada uma vez que a respiração fraquinha dela no meu pescoço está me desconcentrando de mil formas diferentes.
- Ei, esse não é meu quarto - disse quando eu a depositei na cama
- Eu sei. Dorme comigo hoje? Não quero desgrudar de você pelas próximas semanas. - sussurrei enquanto deitava ao seu lado.
- Você tá ainda mais grudento do que em Espanha. -ela falou enquanto vinha deitar no meu peito - e eu gosto demais disso - abraçou minha cintura e eu sorri ao beijar sua cabeça com cheiro de canela.
- Você me acostumou mal - sussurrei e ouvi sua respiração tranquila de quem já dormia.